terça-feira, 4 de agosto de 2009

Lá na Caatinga

Jean Cláudio
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Andei sumido uns dias, pois, semana passada, perdi mais uma pessoa:
Seu Miguel. Parceiro de pinga, amigo e Sogro.
Resolveu ir embora também, crescendo
Um pouco mais esta falta,
Esta ausência de pessoas queridas.
Acho que a caatinga ficou menor agora.
Pois ele era um autêntico caatingueiro.
Amansador de burro brabo, cavalo e Égua.
Chupador de umbu e comedor de “Abroba".
Criador de bode e um grande chorão.
Às vezes quando eu ia despedir dele lá
Na roça, o olho enchia de água, parecia


Que eu ia passar uns trezentos anos sem Vê-lo.
Ele gostava muito de mim.
Demonstrava isso com um sorriso no Canto da boca e um brilho no olhar.
Miguelzim da caatinga.
Miguel ventania se picou pra outra Caatinga,
Aquela, lá do coração da gente.
Lá tem umbu, bode e égua.
Lá tem umburana macho
Tem seca danada. Muita pedra, lá tem.
Tem tantos casos, inclusive de lobisomem.
Tem mulher velha que atira em
Urubu e enfrenta alguns homens,
Bem perto da "cacimba barrenta".
Tem uns calangos na cerca
Contrastando a poeira cinzenta,
Galhos cinzas, também,
E algumas parcas folhas verdes.
"Capinzim" tem, ralado.
Lá o sol, volta e meia deixa de ser amarelo,
Fica vermelho que nem cara de poeta
Com raiva ou vergonha.
Aquele vermelho que queima e varre
Aquela água pouca de lá.
Lá tem um monte de boca seca
Com os pés já na estrada rumo
A uma tal de São Paulo.
Lá tem
Mas lá também tem um povo
Arretado de resistente,
Por isso, a caatinga nunca acaba..
Foi de lá que Seu Miguel veio
Pra nos ensinar
Como se vive nesse mundo cão.
Armazenar água no olho era coisa dele.
Era xingador também. "Disgraça"
Era palavra corriqueira.
"Fela da égua" também.
Couro grosso
Homem sensível.
Acho, na verdade, que ele era
Poeta também,
Além de caatingueiro e amansador
De burro brabo.
Ele amava o cheiro de terra.
Principalmente de terra molhada.
E quando a chuva não vinha,
A reserva do olho caia sobre o feijão,
Milho ou melancia.
Era assim mesmo. Mesmo lá no
"Cavalo Morto"
Terra do filho Guina que foi antes
E que o deixou choroso até então.
Até aquele dia que ele fechou a vista
E carregou pra sempre a sua
Reserva do olho.
Até aquele dia da vista fechada.
Até aquele dia
Quando a reserva do olho secou
Ou transferiu aqui pra nós - sensibilidade!

Miguelzim, meu amigo!
Uma caatinga bate em meu peito.
Um sorriso no canto da boca
E um brilho no olhar
Também batem lá.
Adeus! Miguelzim da caatinga


JeanClaudio
17/05/2007


Um comentário:

AFRANIO GARCEZ disse...

Amigo Jean Cláudio, em primeiro lugar queira aceitar os meus mais sinceros pesâmes pela perda do seu sogro, o "Seu Miguezim". A sua homenagem à ele é bela e comovente, pois bem retrata com é a "chegada e saída deste mundo" dos nossos bravos caatingueiros. Tenho certeza, que onde ele estiver vai estar olhando para você, e para a bela caatinga com os mesmos olhos, agora repletos de alegria e felicidade. Afranio Garcez.