segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Academia do Papo


Penso, logo desisto.

Hoje pela manhã estava caminhando em direção à UESB quando me deparei com o jornalista Herzem Gusmão e o ex-deputado Vonca Gonçalves. Eles retornavam e já estavam a altura do Viaduto da Uesb. Eu, tomado por uma irrefreável e mal educada atitude, nem perguntei se queriam a minha presença. Dei meia volta e me enfurnei no meio dos dois. Danamos a conversar. Conversa de quem caminha é engraçada. Não tem pauta. Falamos de política (apressadamente) e deitamos falação sobre os últimos acontecimentos da cidade. Herzem e Vonca são conquistenses e eu, quase conquistense (moro no Planalto conquistense há 51 anos e meio), posso falar tranquilamente dos nossos habitantes de pelo menos as últimas 5 gerações.


Como já somos quase sexagenários - ou sex, como quiserem - o primeiro ponto foi sobre o desaparecimento de pessoas conhecidas de nossa sociedade. Falamos de A, de B, de C e chegamos a um consenso sobre as suas personalidades. Todos farão falta. Infelizmente, esse é o destino de todos. Falamos sobre a decisão de um magistrado em proibir notícias envolvendo o “povo de Sarney” e Herzem, que é do ramo, disse não estar gostando nada disso. Repetiu inclusive que isso é prática chavista (do presidente Chaves).

Realmente, se quisermos consolidar uma democracia no sentido lato do termo, é necessária uma imprensa livre. Democracia sem imprensa livre não existe. A diversidade de opinião, as controvérsias, os debates, a crítica, a responsabilidade com a informação e o respeito à cidadania são quesitos essenciais para a Pátria livre.

Lembrei aos dois amigos o que disse Dr. Ulisses Guimarães numa famosa entrevista dada à TV Globo lá pelo final dos anos 80. Na entrevista dada ao jornalista José Paulo Cunha Dr. Ulisses disse ser normal a crítica. A única coisa que ele recomendava era que não se pronunciasse “palavras irreparáveis” contra quem quer que fosse. O jornalista José Paulo Cunha tomado por aquela fúria de curiosidade tão peculiar às pessoas de sua profissão perguntou a Dr. Ulisses quais seriam essas palavras. O velho político, não titubeou e disse: “O sujeito não pode chamar o adversário de corno, filho da puta ou ladrão”. Carlos Monforte que era o âncora do programa, surpreendido com a resposta, entrou no ar imediatamente, agradeceu ao Pai da Constituinte e pediu intervalo comercial. Foi um show de bola misturando sinceridade com espontaneidade.

Falamos de mais um montão de coisas e pessoas. Quem é da cidade, pode ficar tranquilo. Não falamos mal de ninguém (se bem que tem que uns “cabôco” por aí que merecem). Rimos de nossas maluquices e á medida que íamos andando, Herzem, o político, ia cumprimentando seus admiradores. Prá não ficar por baixo e querendo demonstrar popularidade, eu também ia cumprimentando o povo que na realidade cumprimentava a Herzem e ao Vonca (eu fazia jogo de cena, dando ares de importância a mim mesmo, coisa que não tenho).

A manhã estava sensacional. Pássaros cantavam, carros passavam, pessoas sorriam e a gente caminhava. Por isso é horrível morrer. Só em lembrar tanta coisa que teremos que deixar (além das pessoas, claro), sentimos uma melancolia perturbadora!

Ao contrário do Sr. Descartes que disse: Cogito, ergo sum (Penso, logo existo), fiquei matutando sobre outras coisas que não são tão belas e por isso alterei a sentença do grande pensador francês. Ao invés de raciocinar positivamente como ele, mergulhei no lado obscuro da vida e conclui o seguinte: Penso, logo desisto.

Quanto à Política, diria que a conversa ficou no mais estrito campo das elucubrações. Vonca, que já foi Vereador, Deputado Estadual e Federal, expôs para mim como está sentindo o cenário atual. Fez uma série de ponderações e demonstrações de ordem sócio-ambiental, cultural e política que me deixaram meio atordoado. Herzem já havia se despedido e não pôde acompanhar o raciocínio do filho de Doutor Nilton.

Mas eu gostei. Fiquei meio atordoado com tantas variações (combinações e arranjos) que acho só poder entender o Vonca por intermédio dos métodos estatísticos. Mas valeu. Tanto Herzem, quando Vonca, são grandes e bons conversadores. Ganhei o dia!

Um comentário:

AFRANIO GARCEZ disse...

Mestre Paulo Pires. Ler as suas crônica, que eu considero um "mix" do cotidiano de nossa cidade, com os seus ensinamentos inserios é um grande privilégio. E esta não foge a regra, pois, que, na compnahia agradável do Herzém e do Vonca, e falando de assuntos tão atuais, e que precisam ser combatidos, a cada dia me faz ser o seu maior fã e admirador, acredito, que o filósofo "Cansadinho", seja mais que eu. Parabéns e obrigado por tudo. Afranio Garcez.