quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"Cesta" Cultural

Por Paulo Pires
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IMPULSO
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Para Flora du Pã
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Não gostaria de escrever poemas
E só me sinto impelido para isto
Depois de ver a bagaceira
Que ora se espraia à nossa frente
São moças vendendo carne
Que compõe toda a estrutura
Das suas fronteiras anatômicas
Infelizmente elas acham que assim é melhor
Muito mais que ficar parada para o pincel de Manet
Ou o lusco fusco de Rembrandt
Somos uma sombra
Do que pensamos ser
Ou serei um lagarto solitário
Sobre pedras imensas esquentadas pelo Sol?
Ah, como é difícil ser a pessoa mesma
No mínimo somos três [quando não somos mais]
Pensando que um livro sempre traz a resposta eficaz
Sonhamos porque o real é menos intenso
Que a matéria da imaginação


E não podemos deixar de dizer
Que as ruas escondem verdades
E que os pássaros são os únicos habitantes
Que vivem o excitante prazer
De renovar os seus dias em qualquer lugar
Agora mesmo sinto vontade de ir embora
Mas o único lugar que me aceitaria
Está em estado de sítio
Mais fechado que o coração da amada
E tão irredutível quanto o édito do Rei
Onde ficar pelos dias que virão?
Talvez longe das cacimbas
Para evitar a presença da volante
Mas quero ir embora e não sei prá onde
É um impulso magnético
Que me puxa para zonas de atração
Será que virão me buscar hoje
Desejo ir logo embora ....



Conquista, 11 de fevereiro de 2009


Paulo Pires

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