sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

“A escravidão é uma instituição quase tão antiga quanto a civilização”


Na última sexta-feira (28), em evento promovido pelo Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e Região em homenagem ao dia da Consciência Negra (comemorado em 20 de novembro) e a Zumbi dos Palmares, o professor de História Contemporânea da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Belarmino Souza, proferiu palestra sobre “O Trabalho Escravo no Brasil”. Na oportunidade, O Piquete Bancário entrevistou o professor.

Confira a entrevista no link abaixo.


O Piquete Bancário - Como pode ser caracterizado o trabalho escravo?
Belarmino Souza - O trabalho escravo é uma modalidade de trabalho compulsório no qual o trabalhador é transformado em propriedade de um indivíduo, entidade ou até mesmo do Estado.

- No Brasil, o trabalho escravo está muito associado à escravidão dos negros. Como ocorreu esse processo?
- A escravidão é uma instituição quase tão antiga quanto a civilização. Foi base das economias clássicas antigas (Grécia e Roma) e também esteve presente assumindo diferentes roupagens em todas as partes do mundo. Em sua trajetória envolveu e vitimou os mais diferentes povos, etnias e culturas. Na América Colonial tivemos a imposição de formas de trabalho compulsório aos povos nativos; mas nas áreas voltadas ao sistema de plantation (lavouras monoculturais, tocadas por mão-de-obra escrava, desenvolvidas em latifúndios e com produção destinada à exportação) foi usado basicamente o trabalhador cativo oriundo da África e a escolha desse tipo trabalhador. O transporte e o comércio se tornaram mais um lucrativo negócio no Atlântico, além disso, diversidade lingüística dos prisioneiros, rivalidades pré-existentes e o desconhecimento do território de destino poderiam ser fatores facilitadores do domínio sobre os mesmos. O fato é que a condição do escravo de origem africana vinculou em nossa história a escravidão aos negros. É necessário salientar que o tráfico foi ao longo dos seus mais de 300 anos uma atividade que envolveu reinos africanos (ex.: Gao, Daomé...) traficantes europeus e brasileiros. O apresamento (rapto ou guerras) foi desenvolvido por africanos, transporte nos navios tumbeiros pelo Atlântico e o comércio no Brasil por europeus e brasileiros. Tal “divisão do trabalho” foi determinada pelo fato de uma penetração efetiva de não africanos ao sul do Saara só ter se efetivado a partir da segunda metade do século XIX.

- Hoje, o trabalho escravo se camufla em quais roupagens?
- No Brasil, tecnicamente não existe trabalho escravo, dentro daquela definição na qual o escravo tem que ser propriedade de alguém. Mas encontramos formas de trabalho degradante e com tal controle sobre o trabalhador a ponto de podermos definir como formas de trabalho compulsório, muitas vezes em condições desumanas, superando em crueldade o que muitos indivíduos escravizados foram submetidos antes de 1888.

- Atualmente, quais são as áreas de maior incidência?
- A incidência é maior em áreas das regiões Norte e Centro-Oeste e em atividade ligadas à agricultura e carvoarias.

- Como combater esse atentando aos direitos humanos?
- O combate a estas e outras formas aviltantes de trabalho passa necessariamente por uma maior presença do poder do Estado, com ações mais efetivas de fiscalização do Ministério do Trabalho e do Ministério Público, o que muitas vezes é dificultado pela vastidão do território e isolamento das áreas de ocorrência, o que gera às vezes a sensação de impunidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

A civilização, também é feita de escravidão. JDean