Reflexões de um velhinho bem informado
Ontem um antigo freqüentador da Praça me saiu com um raciocínio que, confesso, não pude deixar de lhe dar razão. Na rodinha de amigos que estávamos, disse-nos o bom amigo que essa crise não é de toda má. Nós é que não estamos sabendo avaliar a sua importância. Ele fêz a seguinte afirmação: “A Terra está indo para um caminho perigoso em cima disso que chamamos progresso. Atualmente estamos com 600 milhões de carros rodando pelo chão do mundo. De acordo com o que li, se continuarmos nessa marcha, em 2050 a Terra estará com 3 bilhões de automóveis. O terrível é que hoje já não há mais espaço para os automóveis que temos rodando”. Concluindo, afirmou: “Os automóveis que temos hoje andam no centro de Londres a uma velocidade inferior à das charretes no final do século 19”. O que acham disso? Ficamos calados e naquele canto da Praça se instalou um ar de perplexidade.
Confesso que fiquei arrepiado. O velhinho continuou: “O progresso promovido pela globalização é algo espantoso. Mas, o que realmente surpreende é levar em conta que esse maravilhoso aparato tecnológico e científico não chega para o bem estar de todos. Para a grande maioria isso não passa de ilusão. Menos de um terço dos habitantes da Terra tem acesso a essas maravilhas. Em conseqüência, mais de dois terços simplesmente estão fora do seu alcance. Para essa maioria pobre, o destino é viver em favelas, periferias sem água, esgoto, estrutura educacional, saúde, pavimentação, urbanismo, etc. Essa grande massa de excluídos reage e se insurge, ora pela decisão de não se conformar e lutar por mudanças sociais de forma honesta, ora pela opção de mudanças com o uso da violência. Como dizia um velho tango argentino: O mundo está uma porcaria. As desigualdades são gritantes. E, tudo poderia ter tido um direcionamento melhor se os arquitetos humanos (o Grande Arquiteto não tem nada a ver com isso) tivessem optado por relações mais justas, equânimes, dignas, éticas. A partir da Revolução da Industrial, mais do que no Feudalismo e no Mercantilismo, os atores sociais optaram pela acumulação da riqueza indigna e o resultado disso, é esse mundo desigual, imoral, amoral, irracional, brutal”. Ouvi aquilo com a solenidade que a exposição exigiu e mais uma vez me mandei para tomar um caldo de cana. Dessa vez na Praça da Bandeira.
O velhinho da Praça Barão e o Embaixador Ricúpero
À medida que me deslocava para a Praça da Bandeira, pensava no que acabara de ouvir e me recordei de uma entrevista do Embaixador Rubens Ricupero, ex-representante nosso junto a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento). O professor Ricúpero - agora Reitor da FAAP-SP - disse que o maior escândalo da atualidade é que no MERCADO DE DERIVATIVOS rola a pequena quantia de 650 trilhões de dólares. Considerando que o PIB MUNDIAL hoje soma a importância de 50 trilhões de dólares, chega-se a uma conclusão cabulosa - como dizia meu velho Pai - que estamos vivendo sob o ponto de vista financeiro, uma dimensão ilusionística que atinge simplesmente o patamar de 1.200 % acima do que a Terra produz em termos reais. Quer saber? Essa joça vai explodir.
Carlos Cansadinho
Depois de tanta firula mental, tive um momento de consolo. Encontrei meu amigo Carlos Cansadinho. Ao me avistar, ele foi logo dizendo: Você está com cara de preocupado. Disse-lhe sobre o que acabara de ouvir e pensar. Meu amigo, como sempre galhofeiro recomendou que eu não esquentasse a cabeça. E completou: “Se a Ford e a GM estão de pires não mão, fica tranqüilo, isso é sinal que as coisas vão se resolver. Se fosse só nós dois os endividados ninguém ia ter pena e liberar crédito. Mas como tem gente grande no meio, as coisas vão ter um final feliz”. Quando acabei de ouvir isso, esbocei um pequeno sorriso e o convidei para o caldo de cana. O pastel estava muito gorduroso e evitei. Ah, como a vida é boa. Como é bom ter bons amigos e ouvir bons conselhos...
Ontem um antigo freqüentador da Praça me saiu com um raciocínio que, confesso, não pude deixar de lhe dar razão. Na rodinha de amigos que estávamos, disse-nos o bom amigo que essa crise não é de toda má. Nós é que não estamos sabendo avaliar a sua importância. Ele fêz a seguinte afirmação: “A Terra está indo para um caminho perigoso em cima disso que chamamos progresso. Atualmente estamos com 600 milhões de carros rodando pelo chão do mundo. De acordo com o que li, se continuarmos nessa marcha, em 2050 a Terra estará com 3 bilhões de automóveis. O terrível é que hoje já não há mais espaço para os automóveis que temos rodando”. Concluindo, afirmou: “Os automóveis que temos hoje andam no centro de Londres a uma velocidade inferior à das charretes no final do século 19”. O que acham disso? Ficamos calados e naquele canto da Praça se instalou um ar de perplexidade.
Confesso que fiquei arrepiado. O velhinho continuou: “O progresso promovido pela globalização é algo espantoso. Mas, o que realmente surpreende é levar em conta que esse maravilhoso aparato tecnológico e científico não chega para o bem estar de todos. Para a grande maioria isso não passa de ilusão. Menos de um terço dos habitantes da Terra tem acesso a essas maravilhas. Em conseqüência, mais de dois terços simplesmente estão fora do seu alcance. Para essa maioria pobre, o destino é viver em favelas, periferias sem água, esgoto, estrutura educacional, saúde, pavimentação, urbanismo, etc. Essa grande massa de excluídos reage e se insurge, ora pela decisão de não se conformar e lutar por mudanças sociais de forma honesta, ora pela opção de mudanças com o uso da violência. Como dizia um velho tango argentino: O mundo está uma porcaria. As desigualdades são gritantes. E, tudo poderia ter tido um direcionamento melhor se os arquitetos humanos (o Grande Arquiteto não tem nada a ver com isso) tivessem optado por relações mais justas, equânimes, dignas, éticas. A partir da Revolução da Industrial, mais do que no Feudalismo e no Mercantilismo, os atores sociais optaram pela acumulação da riqueza indigna e o resultado disso, é esse mundo desigual, imoral, amoral, irracional, brutal”. Ouvi aquilo com a solenidade que a exposição exigiu e mais uma vez me mandei para tomar um caldo de cana. Dessa vez na Praça da Bandeira.
O velhinho da Praça Barão e o Embaixador Ricúpero
À medida que me deslocava para a Praça da Bandeira, pensava no que acabara de ouvir e me recordei de uma entrevista do Embaixador Rubens Ricupero, ex-representante nosso junto a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento). O professor Ricúpero - agora Reitor da FAAP-SP - disse que o maior escândalo da atualidade é que no MERCADO DE DERIVATIVOS rola a pequena quantia de 650 trilhões de dólares. Considerando que o PIB MUNDIAL hoje soma a importância de 50 trilhões de dólares, chega-se a uma conclusão cabulosa - como dizia meu velho Pai - que estamos vivendo sob o ponto de vista financeiro, uma dimensão ilusionística que atinge simplesmente o patamar de 1.200 % acima do que a Terra produz em termos reais. Quer saber? Essa joça vai explodir.
Carlos Cansadinho
Depois de tanta firula mental, tive um momento de consolo. Encontrei meu amigo Carlos Cansadinho. Ao me avistar, ele foi logo dizendo: Você está com cara de preocupado. Disse-lhe sobre o que acabara de ouvir e pensar. Meu amigo, como sempre galhofeiro recomendou que eu não esquentasse a cabeça. E completou: “Se a Ford e a GM estão de pires não mão, fica tranqüilo, isso é sinal que as coisas vão se resolver. Se fosse só nós dois os endividados ninguém ia ter pena e liberar crédito. Mas como tem gente grande no meio, as coisas vão ter um final feliz”. Quando acabei de ouvir isso, esbocei um pequeno sorriso e o convidei para o caldo de cana. O pastel estava muito gorduroso e evitei. Ah, como a vida é boa. Como é bom ter bons amigos e ouvir bons conselhos...
Um comentário:
Prof. Paulo Pires, folgo saber que o senhor tem um amigo tão distinto quanto o Carlos Casandinho. Que bom! Assim fico mais tranquilo, e como disse, folgo saber que as coisas na economia vão mudar para melhor; a Bolsa de Valores está arrasando o meu pobre capital. Mas, como disse a sabedoria do Cansadinho, os gigantes como GM, por exemplo, estão no mesmo barco que eu, resta-me, pois, também me juntar aos senhores e degustar o suculento caldo de cana, sem exageros, para não ficar devendo ao dono da barraquinha!
Abraços,
Francisco Silva
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