terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Academia do Papo



Despedida de um grande professor: Pedro Gusmão

Hoje as academias estão tristes. Quando falo academias, falo especificamente do Mundo Acadêmico: o Uesbiano e, desculpe minha imodéstia, nossa coluna Academia do Papo. Morreu nosso colega e amigo professor Pedro de Souza Gusmão. Parte o nosso amigo deixando um exemplo de dignidade pessoal e profissional que poderão até ser igualados, mas jamais superados. Todas as pessoas que tiveram o privilégio de conhecê-lo, certamente concordarão comigo. A última vez que o encontrei foi na saída do Hiper. Como costumava acontecer, ele me fustigava querendo notícias de minha vida pessoal, principalmente nos quesitos saúde e mulher. Eu dizia que estava bem e quanto a mulher continuava fiel à de sempre. Ele sorria matreiramente e fingia acreditar com o seu jeito Gusmão de ser. Era um excelente companheiro e por isso mesmo guardo do professor Pedro recordações inapagáveis.


Em sua histórica eleição para Reitor para a UESB eu estava do lado de outro amigo, professor Cláudio de Assis Cordeiro e, portanto, do lado oposto ao do Professor Pedro. Isso jamais foi suficiente para que ele esboçasse qualquer ressentimento em relação a mim. Acabada a campanha, com sua bela vitória, Pedro soube dar um tratamento justo a todos os companheiros da velha Uesb, de modo que ninguém viu ou via nele um Reitor protetor de amigos ou criador de paróquias. Não havia a patota do Pedro. Sua gestão foi marcada por uma grande reestruturação da Instituição, promovendo ações que lhe deram novos contornos a ponto de transformá-la em uma Universidade antenada com a modernidade, equipada de pessoas e instrumentos tecnológicos capazes de cumprir seu verdadeiro papel junto à comunidade.
Para ser fiel à história, foi a partir de sua gestão que a UESB começou a interagir com a sociedade civil abrindo-lhe as portas para que pessoas destacadas do nosso meio participassem de diversos colegiados da Instituição. Pedro, como membro de uma das mais influentes famílias conquistenses [Gusmão] teve a percepção de que deveríamos romper urgentemente com o isolacionismo em que estávamos metidos. Os conquistenses começaram a tomar consciência da importância da Entidade a partir daquele momento. Sua gestão ficou delineada como aquela que consolidou a Instituição junto a nossa sociedade e também como uma gestão em que todos os atos administrativos estiveram rigorosamente sob o império da transparência, da legalidade e da probidade. Nosso amigo entrou e saiu de lá com a consciência e as mãos limpas.
Na sua campanha para Reitor lá pelo início dos anos 90, houve um momento inesquecível. O velho auditório da UESB estava apinhado de professores e estudantes. No calor do debate entre os candidatos (me parece que eram seis ou sete), um deles, de quase um metro e noventa de altura, fêz uma colocação que o professor Pedro não gostou. E aí o seu espírito valente [Gusmão] falou mais alto. Nosso amigo se virou para aquele adversário de campanha e disse que discordava do que fora dito. O seu adversário o olhou de cima para baixo e Pedro, ao perceber que o cidadão o mirava fazendo mofa, arrematou com a seguinte frase: “Você é grande, mas não é dois”. O auditório veio abaixo às gargalhadas. Até o adversário sorriu. Era assim nosso amigo Pedro Gusmão. Sincero, autêntico e valente.
Hoje ele nos deixa. Dentro da UESB tem o Módulo Acadêmico que recebeu o seu nome. Mas acho que ele merece muito mais. O pátio externo dos primeiros módulos de salas de aula deveria receber a partir da próxima semana o seu nome por tudo que ele fez pela instituição. Por ser um lugar relativamente largo, poderíamos colocar ali o nome de Praça Pedro Gusmão. Isso seria apenas mais uma pequena homenagem. E ele merece.
Quanto a outras lembranças, permanentemente as manteremos e rogamos a DEUS para que conserve esse homem exemplar no lugar mais confortável que for possível. Ele merece e o Senhor sabe disso. De minha parte, lamento não mais poder encontrá-lo em algum lugar desta cidade para conversarmos sobre temas que sempre nos levaram para conversações amenas e agradáveis. Mas, tenha certeza, meu caro amigo, sua voz, suas palavras de incentivo e sua atenção comigo, jamais serão esquecidos.
Quero agradecer também àquele seu convite, quando assumiu a Direção da FTC e quis me levar para ser o primeiro professor de Contabilidade da Instituição. Infelizmente não pude atender ao seu convite naquela oportunidade, porque estava comprometido com outras instituições. Mas fica aqui o meu registro e rogo a Deus para quando nos encontrarmos, você me faça outro. Serei mais uma vez, como fui lá na Uesb, um honrado subordinado acadêmico. Dessa vez prometo: não deixarei de aceitar. Um abraço cordial e até a próxima com saudades de todos que te conheceram e passaram a te admirar.

Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR

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