quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Carta a Bruno


Jeremias Macário


Meu amigo Ruy Bruno Bacelar não se foi.
Ou por aqui passou e partiu, outra vez,
numa noite fria de cordas de aço,
por entre as palmeiras dos Imborés,
contando as história do cangaço,
da Guerra dos Caceteiros e do Conselheiro.


Aqui continua tudo no mesmo
Só a crise de consumir os miolos,
e o tempo a nos empurrar lento e devagar
como não quer nada, e disfarçado,
Para o Jardim de Alá.

O Conselheiro continua imortal,
O Pau-de-Colher no lugar,
Os Caceteiros pra lá e pra cá,
e as queimadas para não variar,
fritar a terra, sugar nosso ar.

Meu caro amigo Ruy Bacelar,
as notícias aqui continuam a piorar
nesse primeiro ano de sua partida.
Naquele canto dos Canteiros,
eu vou na mesma lida.

Por aqui, nas praças algumas flores
de uma estação de poucas cores.
Novas avenidas, sem os amores.
A melancolia das nuvens a serenar
depois do sol a vibrar da Bahia ao Ceará.

O canto não brota mais do chão de Caim
Continuamos nos alimentando de sonhos
e fingindo ser felizes na saga da vida
Como dizes na trilogia de um só,
ou no processo do início e do fim.

A sandália do poeta por aqui passou
Perfurou, abriu outros canais
Extraiu do subsolo árido metais
Soube além das letras desvendar
Partiu no trem sem nos avisar
Me mande notícias de lá.

O nosso Ruy Bruno Bacelar de Oliveira não se foi. Ele está por aí disfarçado a meditar com sua tradicional jaqueta e sua gaiata entoando suas baladas prediletas. Não importa a ingratidão da sua terra. Aqui não se valoriza mesmo o que foi. Enquanto se tem é reconhecido como ser. Com seu sofisticado aparelho de detectar água e minerais, Ruy me ajudou a completar um trabalho sobre a Serra do Periperi. Descobrimos que num dos pontos de suas encostas existe água. Infelizmente, o trabalho não foi publicado por falta de apoio. Não se pode fazer tudo mesmo.....

Ele partiu sem nos comunicar, mas nos deixou esse seu poema e nos pediu para orar:

“SEM TEMOR”

Não há prece.
Se não há amor

A poesia é minha
Oração
Vou com ela vencendo os desafios.

A luz que vem de cima
Alimenta meu coração.
E dentro das trevas
Não temo a escuridão.

O pão do poeta
É a ilusão,
De saber que existe no firmamento
Uma grande mão
Que lhe conduzirá
Em busca do incognocível.

E derramando poesias,
Vou cumprindo meu destino
Não tenho nada a temer,
A poesia é minha arma...

E quando chegar ao fim
Na minha lápide,
Mandarei escrever:
Aqui jaz um poeta
Nos muitos versos
Que escreveu
A morte jamais
Temeu!
Ruy Bruno Bacelar de Oliveira

Na sua missa de sétimo dia, sua família mandou imprimir mensagens suas,
e numa delas Ruy dizia:

A trilogia é uma só
Nascimento, vida e morte
Tudo é o mesmo processo

Deixei de temer a morte,
Porque descobri que nada possuía
Só uma coisa estava comigo,
O meu lado espiritual.
Este realmente é único e verdadeiro
Passei a viver
Sem pensar em risco, vida e morte.....

Um comentário:

Anônimo disse...

Dr.Ruy Bruno Bacelar - um grande cientista e sobretudo um grande cidadão brasileiro!.J Dean .