quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Ponto pro professor


Paulo Ludovico

Pensar é privilégio de poucas pessoas. Pensar rápido nem se fala, aí, meu senhor, já é virtude de pouquíssimos. Mesmo assim, quem rebuscar na memória há de se lembrar que já deve ter conhecido um cabra desses, bom e rápido de raciocínio. E eu conheço um assim, já até contei uma de suas histórias, aqui, é Gilvan Quadros, filho de Raimundo Quadros. Gilvan, hoje, com pouco mais de 50 anos de idade, é dono de uma loja de informática no Shopping Center Iguatemi, em Salvador. Bom jogador de xadrez (só podia ser), foi ele quem ensinou o movimento do pião, do bispo e da dama, tudo no tabuleiro, é claro, ao Armínio Santos.


Principiando nossa história, tudo aconteceu lá pelos idos de 1969. Gilvan devia estar, naquela época, com 13 ou 14 anos de idade. Fazíamos parte de uma turma onde estudavam pessoas que vez por outra nos vem à lembrança. Maria Perpétua, que trabalhou no Baneb, Mauro Muñoz, médico oftalmologista aqui em Conquista, Fernando e Crésio, filhos de Dr. Fernando Dantas Alves, Mauro, que tinha uma revenda da Coca Cola, ali na Praça Vitor Brito, Pedro Moraes Neto, o Pedrinho (que, depois da cirurgia de redução do estômago, está tal e qual um bailarino espanhol) Jadel Cajazeira, irmão de Lúcia Cajazeira, do Juvêncio Terra e tantos outros. Ah! não poderia esquecer de Maria das Graças Duarte, a Gracinha Duarte, naquela época, aluna cobiçada por todos os colegas. Perguntem a Pedrinho, a Mauro (qualquer um dos dois), certamente eles, como os demais, devem se lembrar dela (por onde andará?). Mas voltemos ao motivo da nossa prosa.
Estudávamos todos na Escola São Tarcísio, hoje Instituto, mas era Escola São Tarcísio naqueles idos tempos. Eram nossas professoras, Edna (de saudosas recordações), Edméia e Ednalva, as irmãs, que, com tanta dedicação, fizeram crescer aquela querida escola. Quem fez parte daquele tempo, lembra-se da professora Juanita, da professora Alzair, de matemática, os irmãos Bira e Iara Cairo, ele ensinava Ciências Naturais, ela, História. Quem ensinava inglês pra gente era Ediroaldi, o competente mas, temível Ediroaldi. Pois muito bem, num desses dias comuns, quando nada estava previsto pra acontecer, antes de nossa aula de inglês, dois alunos travavam uma cerrada discussão, a poucos “centímetros” das vias de fato, mesmo. Um dos brigões? O velho e bom Gilvan Quadros. Ofensa saia de um lado pra outro com tanta velocidade que nem dava tempo de piscar os olhos. Os dois, Gilvan e seu "oponente", vermelhos de raiva, quase não pensavam no que diziam, vinha a palavra (palavrão, na maioria) e saia mesmo. Coisas de assustar nos dias de hoje, imagine naquela época. As meninas, Perpétua, Sandra Ferraz (havia me esquecido da Sandra), de há muito, se escondiam num canto da sala. Além do medo da briga, a vergonha pelos xingamentos (ou, para os mais ecléticos, vetupérios). No calor das ofensas, você é isso, você é aquilo, aquilo é você, filho daquilo e daquilo outro, entra na sala o velho e “temidíssimo” Ediroaldi. Dois ou três alunos, se muito, é que perceberam. O professor esperou alguns segundos. Uma chance para que a presença dele fosse notada. Nada, palavrão cortava o ar, chegava zunir, juram alguns. Não se sabe quantos segundos se passaram, quem viu Ediroaldi entrar na sala e ficar a poucos metros da porta, achou que foi uma eternidade. Os brigões continuavam trocando ofensas. O professor, aos poucos, mudava a fisionomia, ia "enraivecendo" e achando que havia chegado a hora de dar um fim àquilo tudo, em voz pausada e forte, disse:
- Atenção! Ponto pra quem disser mais besteira.
Raciocinando velozmente, em cima da bucha e sem ligar para as conseqüências, Gilvan disse, apontando o indicador para Ediroaldi:
- Ponto pro senhor!
Seu moço, fez-se silêncio total, de ensurdecer. Emudecemos todos. Gilvan?... Ah! Esse foi suspenso durante uma semana.


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