Meninos diferentes (ou lá vem Zé Lopes).
O ano era de 1965 ou 66 (não me lembro bem) estávamos no Cine Ritz, onde funcionava também a Rádio Clube de Conquista. O filme em tela era O Manto Sagrado, com Richard Burton, Victor Mature e a bela Jean Simmons. Chovia prá cacete e você pode até não acreditar: começou a pingar dentro do cinema. De repente, sem quê nem prá quê, alguém começou a tossir numa altura descomunal. A coisa se tornou tão incômoda que as goteiras passaram a um segundo plano na escala das inconveniências. Sinceramente se a cena se não fosse trágica, seria cômica. Nunca vi tanta esculhambação em uma sessão de cinema como vi naquele dia. E olhe que já vi Zé Lopes flagrando uns espertinhos bolinando namoradas puritanas que me deixaram sem graça dentro do escurinho do Riviera e do Cine Madrigal.
Zé Lopes, prá quem é da geração atual e não sabe, era o lanterninha que Nivaldo Araújo contratou para acalmar (dar bons termos) aos rapazinhos e mocinhas mais afoitos em nossas salas de cinema. Depois do cinema, Zé complementava sua renda prestando quase o mesmo tipo de serviço a Roberão Flores (o homem da boate Carrascão). O nosso personagem era considerado pelos meninos (e meninas) um tira prazer da zorra. Nos cinemas, mal começava o filme e o pessoal já começava o esfrega esfrega. Prá ser sincero, tinha gente que não tava nem aí para a tela (eu era um deles, claro). Os mais calientes eram.... Deixa prá lá. Se eu citasse aqui os mais apimentados certamente seria vítima de um número enorme de processos por danos morais. Havia umas meninas que eram espetaculares na arte de namorar em cinema. Umas fritavam até bolinhos (técnica avançada de namoro).
O diabo era Zé Lopes. Aquele sujeito alto, com aquela roupa preta, sem dúvida era um tira prazer do caracas! Ele possuía uma voz seca, autoritária, impositiva; tinha um olho de lince. O seu olhar alcançava imediatamente as mãos da gente. Quando sentíamos aquele calor gostoso da mão (às vezes até das duas) no meio das coxas das meninas, era justamente quando o disgramado do Zé Lopes nos flagrava. Ah, filho da mãe...! Na maior cara de pau, nos ajeitávamos, olhávamos para o teto, respirávamos fundo e lançávamos um olhar desafiador para aquele que como se dizia à época cortou “nosso barato”. Zé cumpria com eficiência o seu papel. Naquele tempo, quem não tinha carro, tinha que namorar dentro de casa. E dentro de casa, os pais da menina sempre se sentavam na poltrona de frente e vigiavam-nos como dois soldados da Gestapo. Era um controle rigoroso. Os sem carro (meu caso) só podiam aproveitar um pouquinho quando íamos ao cinema. E tinha outra: Os pais sempre mandavam um irmãozinho para nos acompanhar. Isso nos custava mais um pouco. Éramos obrigados a encher o fela da mãe do menino de pipocas (sacos bem grandes) caramelos e pirulitos grandes para que ele ficasse bem longe da gente. De preferência em cadeiras lá da frente.
Depois que ajeitávamos o irmão pequeno, era hora de lutar contra as intromissões de Zé Lopes. Êta cara chato, meu Deus! Mas como ele não podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, bastava um pequeno deslocamento do nosso vigia, para darmos início a uma sessão de intimidades que em lugar nenhum conseguíamos. Momentos maravilhosos aqueles! Ao final, saíamos do cinema, vermelhinhos e com uma vontade incontrolável de bater um pité. Era assim que os bestões do meu tempo diziam. As meninas, coradinhas, se encontravam com as colegas, primas e amigas e denunciavam-se logo pelo desarranjo do batom. Éramos todos muito bestinhas naquele tempo. Claro, que havia uns mais espertos e antes de acabar a sessão, iam ao banheiro para ajeitar a maquiagem e recompor o cabelo. Certa vez vi um desses abestolados com a boca cheia de batom da namorada. Parecia um palhaço mal pintado. Foi a maior gozação....
Mas voltando ao Cine Ritz, o sujeito que estava tossindo feito um doido, era ninguém mais ninguém menos do que Pedro Massinha. Isso mesmo! Nosso querido amigo Massinha. O sacana deu um acesso de tosse tão violento, que tiveram que acender a luz. Não pelas goteiras, mas pela tosse do sacana. Desde aquele dia percebi que Massinha era um menino diferente. Assim como identifiquei, tempos antes, um outro menino diferente e também super encapetado: Bira Bigode. Este até hoje parece que tem o diabo no rabo. È o maior barato. Massinha ostenta hoje o status de ser um empresário bem sucedido na área de entretenimento. Tornou-se um grande cidadão de Conquista e goza de excelente conceito no meio artístico baiano e nacional. Quanto a Bira Bigode, todo mundo sabe que ele goza de um prestígio pessoal e familiar junto com sua companheira Sandra, que poucas pessoas têm em nossa cidade. Mas o que mais caracteriza a personalidade do nosso Bira não é apenas ele gozar desse prestígio: São as gozações que ele faz da vida e com as pessoas que ele gosta. Por isso, tenho que admitir: Daqueles meninos do meu tempo esses dois foram e continuam diferentes. Sempre para o bem, claro. Por isso saúdo aos dois velhos companheiros. Um abraço cordial e até a próxima. Olha Zé Lopes aí, gente!
Paulo Pires
Professor UESB – FAINOR.
O ano era de 1965 ou 66 (não me lembro bem) estávamos no Cine Ritz, onde funcionava também a Rádio Clube de Conquista. O filme em tela era O Manto Sagrado, com Richard Burton, Victor Mature e a bela Jean Simmons. Chovia prá cacete e você pode até não acreditar: começou a pingar dentro do cinema. De repente, sem quê nem prá quê, alguém começou a tossir numa altura descomunal. A coisa se tornou tão incômoda que as goteiras passaram a um segundo plano na escala das inconveniências. Sinceramente se a cena se não fosse trágica, seria cômica. Nunca vi tanta esculhambação em uma sessão de cinema como vi naquele dia. E olhe que já vi Zé Lopes flagrando uns espertinhos bolinando namoradas puritanas que me deixaram sem graça dentro do escurinho do Riviera e do Cine Madrigal.
Zé Lopes, prá quem é da geração atual e não sabe, era o lanterninha que Nivaldo Araújo contratou para acalmar (dar bons termos) aos rapazinhos e mocinhas mais afoitos em nossas salas de cinema. Depois do cinema, Zé complementava sua renda prestando quase o mesmo tipo de serviço a Roberão Flores (o homem da boate Carrascão). O nosso personagem era considerado pelos meninos (e meninas) um tira prazer da zorra. Nos cinemas, mal começava o filme e o pessoal já começava o esfrega esfrega. Prá ser sincero, tinha gente que não tava nem aí para a tela (eu era um deles, claro). Os mais calientes eram.... Deixa prá lá. Se eu citasse aqui os mais apimentados certamente seria vítima de um número enorme de processos por danos morais. Havia umas meninas que eram espetaculares na arte de namorar em cinema. Umas fritavam até bolinhos (técnica avançada de namoro).
O diabo era Zé Lopes. Aquele sujeito alto, com aquela roupa preta, sem dúvida era um tira prazer do caracas! Ele possuía uma voz seca, autoritária, impositiva; tinha um olho de lince. O seu olhar alcançava imediatamente as mãos da gente. Quando sentíamos aquele calor gostoso da mão (às vezes até das duas) no meio das coxas das meninas, era justamente quando o disgramado do Zé Lopes nos flagrava. Ah, filho da mãe...! Na maior cara de pau, nos ajeitávamos, olhávamos para o teto, respirávamos fundo e lançávamos um olhar desafiador para aquele que como se dizia à época cortou “nosso barato”. Zé cumpria com eficiência o seu papel. Naquele tempo, quem não tinha carro, tinha que namorar dentro de casa. E dentro de casa, os pais da menina sempre se sentavam na poltrona de frente e vigiavam-nos como dois soldados da Gestapo. Era um controle rigoroso. Os sem carro (meu caso) só podiam aproveitar um pouquinho quando íamos ao cinema. E tinha outra: Os pais sempre mandavam um irmãozinho para nos acompanhar. Isso nos custava mais um pouco. Éramos obrigados a encher o fela da mãe do menino de pipocas (sacos bem grandes) caramelos e pirulitos grandes para que ele ficasse bem longe da gente. De preferência em cadeiras lá da frente.
Depois que ajeitávamos o irmão pequeno, era hora de lutar contra as intromissões de Zé Lopes. Êta cara chato, meu Deus! Mas como ele não podia estar em todos os lugares ao mesmo tempo, bastava um pequeno deslocamento do nosso vigia, para darmos início a uma sessão de intimidades que em lugar nenhum conseguíamos. Momentos maravilhosos aqueles! Ao final, saíamos do cinema, vermelhinhos e com uma vontade incontrolável de bater um pité. Era assim que os bestões do meu tempo diziam. As meninas, coradinhas, se encontravam com as colegas, primas e amigas e denunciavam-se logo pelo desarranjo do batom. Éramos todos muito bestinhas naquele tempo. Claro, que havia uns mais espertos e antes de acabar a sessão, iam ao banheiro para ajeitar a maquiagem e recompor o cabelo. Certa vez vi um desses abestolados com a boca cheia de batom da namorada. Parecia um palhaço mal pintado. Foi a maior gozação....
Mas voltando ao Cine Ritz, o sujeito que estava tossindo feito um doido, era ninguém mais ninguém menos do que Pedro Massinha. Isso mesmo! Nosso querido amigo Massinha. O sacana deu um acesso de tosse tão violento, que tiveram que acender a luz. Não pelas goteiras, mas pela tosse do sacana. Desde aquele dia percebi que Massinha era um menino diferente. Assim como identifiquei, tempos antes, um outro menino diferente e também super encapetado: Bira Bigode. Este até hoje parece que tem o diabo no rabo. È o maior barato. Massinha ostenta hoje o status de ser um empresário bem sucedido na área de entretenimento. Tornou-se um grande cidadão de Conquista e goza de excelente conceito no meio artístico baiano e nacional. Quanto a Bira Bigode, todo mundo sabe que ele goza de um prestígio pessoal e familiar junto com sua companheira Sandra, que poucas pessoas têm em nossa cidade. Mas o que mais caracteriza a personalidade do nosso Bira não é apenas ele gozar desse prestígio: São as gozações que ele faz da vida e com as pessoas que ele gosta. Por isso, tenho que admitir: Daqueles meninos do meu tempo esses dois foram e continuam diferentes. Sempre para o bem, claro. Por isso saúdo aos dois velhos companheiros. Um abraço cordial e até a próxima. Olha Zé Lopes aí, gente!
Paulo Pires
Professor UESB – FAINOR.
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