quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O analfabeto político

Por Afranio Garcez

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"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimento políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio depende das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia a política.

Não sabe que da sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o explorador das empresas nacionais e multinacionais."
(Berthold Brecht, 1898 - 1956).

Infelizmente no Brasil temos dois grandes problemas: o primeiro é o analfabetismo político crônico da população. O segundo é que não temos políticos sérios, mas sim governantes que praticam a politicagem. Pode não parecer, mas tudo o que fazemos e ou consumimos depende da política. São os políticos que definem valores e taxas de tudo o que compramos. Seja um pãozinho ou um corte de cabelo, está lá a ação dos políticos. Como sintetiza o professor de Filosofia José Antonio Martins, no livro Corrupção, há “duas maneiras de interpretar a corrupção: de um lado, por meio de uma leitura moralista, vendo nela a decadência das virtudes do indivíduo, o que gera conseqüências nefastas para a sociedade. De outro, entendendo a corrupção como algo resultante das regras do próprio mundo político, sem maiores correlações com a moralidade do indivíduo. Por essa segunda interpretação, as razões para a corrupção de uma cidade estarão ligadas à fraqueza de suas leis e de suas instituições políticas, à falta de preocupação e ação do cidadão em relação às coisas públicas”.

Conquistar e manter o poder: eis em síntese a finalidade essencial da política. É neste sentido que Maquiavel cunha sua famosa e mais polêmica frase: "Os fins justificam os meios”. Muito já foi dito e escrito sobre esta assertiva. E ela permanece atual. Em primeiro lugar, é difícil não reconhecer que há uma relação entre fins e meios. Como diria um revolucionário russo: "É preciso semear um grão de trigo se se quiser obter uma espiga de trigo". Há uma relação dialética entre fins e meios, no sentido de que há uma interdependência entre ambos. O problema é o que a afirmação maquiaveliana encerra em si: o que se pode e o que não se pode fazer para atingir determinado fim? Se o fim é justo, todos os meios justificam-se?

Esta questão não pode ser satisfatoriamente respondida sem equacionarmos outra que se coloca a priori: o que justifica o fim? Ora, a realidade social na qual vivemos está longe de assemelhar-se ao paraíso ou à harmonia positivista da ordem e progresso. A ordem se mantém a ferro e fogo, isto é, a partir da ocultação ideológica das relações e mecanismos de exploração e pelo uso do aparato repressivo estatal, sempre que se faz necessário. (cf. BOBBIO, Norberto. Política. In: BOBBIO, N. et al. Dicionário de Política. Brasília, Editora da Unb, 1992, vol. 2, pp. 954-962). Mas ainda há outra agravante ainda pior, que surge quase ao meio do nada, de maneira inocente, e “bem intencionada”, que é a questão do cidadão ser um eleitor, ter em seu domicílio eleitoral, bons, sérios e honestos políticos, como se apresenta, no quadro atual de nossa cidade, e do nosso Estado, mas ele resolve simplesmente, quando não vender ou trocar o seu voto, o seu maior instrumento para o exercício da democracia, simplesmente não comparecer ao seu local de votação, para posteriormente proceder cobranças de melhorias para o seu bairro, sua rua, avenida, praças e demais logradouros públicos da sua cidade, querendo ser um cidadão de primeira grandeza, quando não passa de uma pessoa, que deixou a oportunidade passar depositando o seu voto, naquele candidato que ele considera ser o melhor, embora este esteja mal posicionado nas “famigeradas pesquisas eleitorais de intenção de votos”. Vaí para o bar beber aproveitar o dia das eleições, para depois se arrepender durante quatro anos, ou às vezes até por mais tempo, se esquecendo que começamos a morrer no dia em que nascemos. Pensem nestes fatos.
Afranio Garcez.


6 comentários:

Anônimo disse...

De fato o "analfabeto politíco" - gera outros analfabetismos.

Anônimo disse...

E também causa ainda outros males maiores a uma população inteira, e o pior é que depois, que cobrar do governador, do deputado, do prefeito, da justiça, tudo o que ele pretende, e ficará falando mal de todos eles. Excelente artigo.

Anônimo disse...

Esta é a importância de um meio de notícias que interage com os seus leitores, e artigos como este dá mais credibilidade ao blog. Realmente pelo que se lê nos comentários anteriores, o pior mesmo é o nalafabeto politíco. Endosso os dois outros comentários, e reafirmo, nas próximas eleições será q o número de abstenções será igual, ao das eleições municipais. Bons nomes estão sendo colocados na imprensa em Vitória da Conquista, para concorrer a vagas de deputado federal e estadual, e eu acerdito que se houver uma maior conscientização de nossos eleitores poderemos somente com os votos daqui mesmo eleger 3 deputados federais, e entre 3 a 4 deputados estaduais. Na política, assim como na vida, há pessoas sérias e honestas, e é por isso que jamais se conheceu um caso em nossa cidade de um prefeito cassado pela justiça, de igual forma um vereador, ou mesmo deputados federal ou estadual, com exceção de um que renunciou por está envolvido em corrupção e agora está respondendo a processo na Justiça Federal. No mais, todos os nomes que conheço e dizem ser candidatos são de pessoas sérias, e honestas. Viva a Democracia, e a liberdade de escolha. Viva o voto livre e consciente.
Carlos Augusto Renné.
carlosrenne@globo.com

Anônimo disse...

Depois de ler este artigo fiquei a imaginar no estado de coisas e caos que estamos passando principalmente na política. Bem escrito e articulado este artigo, e se não fosse os analfabetos políticos, o que seria dos políticos analfabetos hein. Acho que deveria ter vestibular para candidatos a qualquer cargo político, e aí quem sabe o anafabetismo seria erradicado, e complemento afirmando e indagando: O que vale mais, o analfabeto político, ou o político analbeto, como eu já fui um dia.
Bruno Sena Soares - brunossoares@uol.com.br

Anônimo disse...

Embora não resida aqui em Vitória da Conquista, eu a considero como minha cidade, pois é aqui que eu curso a Universidade em busca de um melhor futuro. Não é sempre que posso acessar os blogs de Conquista, mas quando o faço, é porque geralmente algum colega, ou amigo me fala sobre a importância de determinado asunto. E aqui terminei de ler este artigo, que por sinal é excelente, e muito oportuno, pois no seu bojo mostra a importância que temos de possuir um instrumento tão poderoso, embora de tamanho pequeno, que se chama título de eleitor, que assim como pode eleger alguém, pode também deixar de elegê-lo, isto a qualquer cargo. Confesso que sou fã do Prof. Paulo Pires, do Advogado Afranio Garcez e do Ezequiel Sena, pois são pessoas que demonstram equilibrio e bom senso, e não perdem tempo escrevendo baboseiras. Estes me agradam de verdade, pois se preocupam com o cotidiano de uma cidade e seus problemas. Na minha cidade natal que é Montes Claros, Minas Gerais, também há pessoas preocupadas com ela. Agora que já resido aqui em Conquista eu já fiz a transferência do meu título eleitoral, pois creio que aonde eu estiver tenho o dever e a obrigação de exercitar o meu direito ao voto, e estando aqui em Vitória da Conquista, evidentemente que na festa cívica da democracia irei analisar os melhores candidatos e neles depositar o meu voto. Jamais deixarei de votar, a não ser que esteja totalmente impossibilitado para isso. Este artigo serve para lembrar-nos da importância de tal obrigação, que depois de cumprida é claro, irei quem sabe tomar a minha cerveja bem gelada. Parabéns ao Advogao Afranio Garcez por abordar tão importante tema.
Rafael de Melo Cerqueira.

Anônimo disse...

Caro Garcez,

Lendo este seu excelente artigo, confesso que fiquei a imaginar como as coisas acontecem em nosso país, notadamente no campo político, e, a meu ver, se não fosse o analfabetismo político de muita gente tirada a "sabida", como bem articulou você, o que seria deles os políticos. Imagino que o jogo de interesse pessoal é tanto que supera qualquer ideologia partidária. E isso é muito nocivo a qualquer nação. Um malefício que parece que já faz parte da nossa cultura que, na verdade, é o nosso analfabetismo. Vamos torcer para que as futuras gerações consigam reverter este quadro.
Saudações,
Ezequiel Sena