terça-feira, 29 de setembro de 2009

Um filho ilustre na cidade

Por Ezequiel Sena

.
Uma tarde de sábado memorável, 26/09, especialmente para os que apreciam a verdadeira história da música popular brasileira. Desta vez no espaço do Viela Sebo Café. Simples, educado, olhar sereno, fala suave e jeitão paciente são algumas caracteríscas marcantes que percebemos ao conversar com nosso conterrâneo, o historiador, jornalista e mestre em memória social, Paulo César de Araújo, conhecido nacionalmente ao escrever o polêmico livro “Roberto Carlos em Detalhes”. Um trabalho de mais de 15 anos de pesquisas reunindo depoimentos de cerca de duzentas ou mais pessoas. A obra foi publicada em dezembro de 2006, pela editora Planeta, e, segundo o autor, chegou a vender aproximadamente 50 mil exemplares, no entanto, um mês após o lançamento, a venda foi proibida por determinação da Justiça do Estado de São Paulo.

Paulo Cesar de Araújo também é autor da obra literária “Eu Não Sou Cachorro, Não”, que se transformou numa referência historiográfica, traçando um perfil musical paralelo entre a ditadura militar e os cantores populares considerados “bregas”, como Odair José, Nelson Ned, Waldick Soriano, Agnaldo Timóteo, Dom e Ravel, Evaldo Braga, Paulo Sérgio, Lindomar Castilho e tantos outros. Para nós que tivemos a felicidade de comparecer ao evento, um encontro dos mais honrosos.
.
Num bate papo informal, contou em detalhes fatos da sua infância aqui em Vitória da Conquista. Filho de pais evangélicos, estudou na Escola Anísio Teixeira, situada nas proximidades da BR-116, logo ali no final da Avenida Régis Pacheco. Da sua obsessão por livros, lembrou da biblioteca que ficava na praça do antigo Jardim das Borboletas. Recordou ainda da história de um parente que veio morar em sua casa e trouxe uma caixa de livros, guardava-os a sete chaves, mas nas escapadas desse tio, retirava às escondidas um e lia, depois retornava-o cuidadosamente ao local, de maneira que terminou lendo a caixa inteirinha – todos de auto-ajuda. Por isso, em tom de brincadeira, disse ter se tornado o maior expert em obras desse gênero, o que arrancou gargalhadas da platéia. E, assim, falou sobre o primeiro romance que que teve a oportunidade de ler “Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro Vasconcelos. Contou da sua ida para São Paulo, muito jovem tinha apenas 16 anos. Agradece muito aos professores daqui por exigirem dele a leitura de livros. Fez referência a alguns clássicos, inclusive, afirmou ter uma fila esperando, dentre eles, Machado de Assis, já que não teve condições de saborear a obra em sua totalidade.
.
No decorrer da conversa, passou a palavra a sua advogada Deborah Sztajnberg que igualmente está no meio musical há mais de 20 anos, além de professora de cursos de pós-graduação relacionados à cultura e entretenimento, tem atuado como jurada em diversos festivais. Autora do livro O Show Não Pode Parar: Direito de Entrenimento no Brasil. A rigor, ela deixou bem claro que as chances de Araújo em relação a batalha judicial travada com Roberto Carlos é como se fosse uma briga entre Davi versus Golias.
.
Mas voltando ao palestrante, um fato que despertou a curiosidade dos presentes, Paulo Cesar ao chegar na Praça Barão do Rio Branco, perguntou: Cadê o Cine Riviera? O Bar Lindóia? O Riachuello? Quando viu um hotel no lugar do antigo cinema entrou na garagem e começo a vislumbrar o local do palco que marcou a sua adolescência. O garajista indagou: O senhor é hóspede ou procura por algo? Em estado contemplativo “estou no ano de 1971, não estou atrás do novo, busco o velho, aquilo que foi preservado”, respondeu.
.
Por último, discorreu sobre os festivais do passado em comparação com os do presente. Reservadamente falou do seu futuro projeto que é escrever um livro sobre a sétima arte e futebol, inclusive, vai começar a colher material para o novo trabalho. “Seria de bom grado encontrar fotografias dos Cine Riviera, Cine Ritz, Cine Glória, Cine Madrigal ou Cine Eldorado, bem como documentos que marcaram a história dos cinemas de nossa terra, até porque aqui também é o berço do grande cineasta Glauber Rocha”. Concluiu.
.
Particularmente tenho minhas dúvidas com relação a chamada “liberdade de expressão” neste País, principalmente de pessoas públicas e famosas. Sem querer fazer juízo de valor a qualquer tribunal, mas confesso que não consigo entender como Roberto Carlos obteve êxito em uma ação dessa natureza. Daqui a pouco a gente estará assistindo a volta da censura. Depois que li o livro não percebi nada que viesse denegrir ou macular a imagem do rei. Torço para que o desfecho desse episódio seja favorável ao Paulo, pois, a meu modo de ver, a pessoa pública não tem que se melindrar, mesmo porque esta é uma biografia que foi criteriosamente elaborada e dentro da mais perfeita ordem e zelo.
.
Ezequiel Sena

2 comentários:

AFRANIO GARCEZ disse...

Caro Ezequiel Sena, mais uma vez voce nos brinda com um belo artigo. Tenho ambos os livros do Paulo Cézar de Araújo, mas há um fato que eu acho importante se destacar, que foi a palestra de sua ilustre advogada, que falou sobre a liberdade de imprensa, inda mais, quando envolve figuras públicas. Sei que o Paulo Cézar irá conseguir em instância superior a liberação do seu livro. Abraços.
Afranio Garcez.

Anônimo disse...

Ezequiel,

Felizardo você por indo a palestra do Paulo Cezar e mais ainda em ter elaborado este excelente texto, ou melhor, esta primorosa crônica.

Abração do primo Renato Senna