Em seu livro `Geografia da Fome’ o cientista e escritor pernambucano Josué de Castro (pensador e humanista de extensa obra) traz a seguinte mensagem: “O que divide os homens não são as coisas, são as ideias de que eles têm das coisas, e as ideias dos ricos são bem diferentes das ideias dos pobres”. Crítico das especializações, seu trabalho científico foi marcado pela multidisciplinaridade. E a violência da fome foi sua principal e corajosa bandeira. Mas além da fome, também estudou questões de interesse global que lhe são relacionadas, como o meio ambiente, o subdesenvolvimento, o comportamento humano e a paz. Foi uma das figuras mais marcantes e de profunda influência na vida nacional, e de grande projeção internacional nos anos que decorreram entre 1930 e 1973, inclusive recebeu o Prêmio Internacional da Paz e indicações para receber o Prêmio Nobel da Paz. A consistência do pensamento do escritor é inegável, pois quando a dor, a maldade e a loucura são humanizadas, perdem-se os controles, extinguem-se os diálogos e o alfabeto fica inútil.
A violência não está tão-somente restrita aos centros urbanos, mas um mal que assola todas as comunidades, e que se manifesta praticamente em todas as culturas do mundo – em maior ou menor escala. O Brasil não foge à exceção, uma vez que aqui se prolifera de forma assustadora e supera toda e qualquer ação das leis, da ordem pública e dos costumes. Alguns especialistas asseguram que as principais causas da violência estão ligadas a atitudes desregradas dos adolescentes que não conheceram limites –, que deveria advir dos pais – na crise familiar, na reprovação escolar, desemprego, tráfico, falta de influência e participação política, machismo, discriminação, na desilusão e tantos outros agravantes. A violência extrapola e engloba ainda uma série de brutalidades como a doméstica, a escolar, a de patrão contra empregados, contra idosos, crianças e tantos outros que geram esse emaranhado que se tem conhecimento. Apesar de todas estas causas citadas, talvez a mais perversa seja a má distribuição de renda que resulta na privação do tudo e do todo – Josué de Castro levanta a questão da mais cruel e aviltante calamidade social: a fome e a miséria. Em sua curta existência se entregou em promover a dignidade humana – como vemos, são raízes de um problema antigo que tem origem na falta de justiça social e de condições de uma vida digna, levando tantos a percorrerem caminhos criminosos. Adicionando a isso os excessos instituídos pelo abuso do poder – especialmente nas esferas da segurança pública – aos desamparados e menos aquinhoados socialmente.
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Ao abordar esta questão, recordei-me do bárbaro crime ocorrido em Salvador em junho de 2007, a covardia cometida pelo policial Civil Edilson Santos Souza Júnior, inclusive noticiado pelo Jornal A Tarde e TV Bahia, contra o articulista do Jornal Universo Católico, o diácono José Sergio Fontes, 57 anos, por conta de uma "carteirada no rosto" (claro uso de função pública em proveito próprio – abuso de poder), ao tentar furar a fila de um caixa eletrônico onde estava a vítima e outros cidadãos. Seguiu-se um ruidoso protesto, entretanto, para se justificar o ato de covardia e acalmar os ânimos daqueles que também aguardavam a vez para usar o equipamento, o acusado teria dito que estava com pressa e se identificou como agente de Segurança Pública. O diácono não silenciou ante as agressões do policial, vindo a sofrer traumatismo craniano e afundamento da parte posterior do crânio, dias depois de internado na UTI do Hospital São Rafael veio a falecer.
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Crime dessa ordem é muito triste, há de se levar em consideração que, pela formação religiosa do diácono, com certeza ele não teria dito qualquer palavra chula que viesse a ofender o agressor. Apenas não deixou que violasse o seu sagrado direito de cidadão. Fatos como esses envergonham as nossas corporações de segurança, uma vez que em seus quadros lamentavelmente existam servidores tão desequilibrados e despreparados como este policial Civil. A pena máxima para um ato de tanta agressividade é muito pouco para a gravidade da violência desferida contra a pessoa humana. Ainda bem que as autoridades eclesiásticas estão à frente, não permitindo que caia no esquecimento, tornando-se mais um caso impune.
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Acredito que barbaridades como a ocorrida com o diácono tenha influenciado as autoridades episcopais em trazer para a sociedade neste ano o tema da Campanha da Fraternidade 2009 – Fraternidade e Segurança Pública – que agrega o lema “A paz é fruto da justiça” que será lançada oficialmente pela CNBB na semana que inicia a quaresma no dia 25 de fevereiro. A abertura será durante a Missa da Quarta-feira de Cinzas, às 9h, na Basílica de Aparecida. O Brasil é considerado um dos países mais violentos do mundo, o índice de assaltos, seqüestros, extermínios, violência doméstica e contra a mulher tem sido muito alto e contribui para tal consideração. Suas causas são sempre as mesmas: miséria, pobreza, má distribuição de renda, desemprego e desejo de vingança. As instituições, por sua vez, concentram o poder nas mãos de poucos, deixando de lado as que representam o povo. Parece até que a estrutura governamental torna a violência necessária, em alguns aspectos, para a manutenção da desigualdade social. Não se sabe ao certo onde ela se concentra, pois quando são presos sofrem torturas, maus tratos, descasos, perseguições, opressões etc, fazendo com que os encarcerados tenham dentro de si um desejo irreprimível de vingança.
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De acordo com o texto base publicado pela CNBB, a Campanha da Igreja do Brasil deste ano quer suscitar o debate sobre a segurança pública e contribuir para a promoção da cultura da paz na família, na comunidade e na sociedade, a fim de que todos se empenhem efetivamente na construção da justiça social, e que seja sinônimo de segurança para todas as pessoas. Mas para isso medidas enérgicas precisam ser tomadas para diminuir tais estatísticas, a partir de então se atente para a estrutura que vem sendo montada para decidir o futuro das cidades brasileiras. Para que possamos alcançar mais justiça social – não da forma como vemos nos grandes centros urbanos onde impera a força das armas – precisamos de pessoal bem orientado, capacitado e ideologicamente preparado no combate a violência e os seus causadores, pois está provado que o combate ao crime não se consegue com os atuais métodos de repressão utilizados pelos Órgãos de Segurança Pública.
A violência não está tão-somente restrita aos centros urbanos, mas um mal que assola todas as comunidades, e que se manifesta praticamente em todas as culturas do mundo – em maior ou menor escala. O Brasil não foge à exceção, uma vez que aqui se prolifera de forma assustadora e supera toda e qualquer ação das leis, da ordem pública e dos costumes. Alguns especialistas asseguram que as principais causas da violência estão ligadas a atitudes desregradas dos adolescentes que não conheceram limites –, que deveria advir dos pais – na crise familiar, na reprovação escolar, desemprego, tráfico, falta de influência e participação política, machismo, discriminação, na desilusão e tantos outros agravantes. A violência extrapola e engloba ainda uma série de brutalidades como a doméstica, a escolar, a de patrão contra empregados, contra idosos, crianças e tantos outros que geram esse emaranhado que se tem conhecimento. Apesar de todas estas causas citadas, talvez a mais perversa seja a má distribuição de renda que resulta na privação do tudo e do todo – Josué de Castro levanta a questão da mais cruel e aviltante calamidade social: a fome e a miséria. Em sua curta existência se entregou em promover a dignidade humana – como vemos, são raízes de um problema antigo que tem origem na falta de justiça social e de condições de uma vida digna, levando tantos a percorrerem caminhos criminosos. Adicionando a isso os excessos instituídos pelo abuso do poder – especialmente nas esferas da segurança pública – aos desamparados e menos aquinhoados socialmente.
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Ao abordar esta questão, recordei-me do bárbaro crime ocorrido em Salvador em junho de 2007, a covardia cometida pelo policial Civil Edilson Santos Souza Júnior, inclusive noticiado pelo Jornal A Tarde e TV Bahia, contra o articulista do Jornal Universo Católico, o diácono José Sergio Fontes, 57 anos, por conta de uma "carteirada no rosto" (claro uso de função pública em proveito próprio – abuso de poder), ao tentar furar a fila de um caixa eletrônico onde estava a vítima e outros cidadãos. Seguiu-se um ruidoso protesto, entretanto, para se justificar o ato de covardia e acalmar os ânimos daqueles que também aguardavam a vez para usar o equipamento, o acusado teria dito que estava com pressa e se identificou como agente de Segurança Pública. O diácono não silenciou ante as agressões do policial, vindo a sofrer traumatismo craniano e afundamento da parte posterior do crânio, dias depois de internado na UTI do Hospital São Rafael veio a falecer.
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Crime dessa ordem é muito triste, há de se levar em consideração que, pela formação religiosa do diácono, com certeza ele não teria dito qualquer palavra chula que viesse a ofender o agressor. Apenas não deixou que violasse o seu sagrado direito de cidadão. Fatos como esses envergonham as nossas corporações de segurança, uma vez que em seus quadros lamentavelmente existam servidores tão desequilibrados e despreparados como este policial Civil. A pena máxima para um ato de tanta agressividade é muito pouco para a gravidade da violência desferida contra a pessoa humana. Ainda bem que as autoridades eclesiásticas estão à frente, não permitindo que caia no esquecimento, tornando-se mais um caso impune.
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Acredito que barbaridades como a ocorrida com o diácono tenha influenciado as autoridades episcopais em trazer para a sociedade neste ano o tema da Campanha da Fraternidade 2009 – Fraternidade e Segurança Pública – que agrega o lema “A paz é fruto da justiça” que será lançada oficialmente pela CNBB na semana que inicia a quaresma no dia 25 de fevereiro. A abertura será durante a Missa da Quarta-feira de Cinzas, às 9h, na Basílica de Aparecida. O Brasil é considerado um dos países mais violentos do mundo, o índice de assaltos, seqüestros, extermínios, violência doméstica e contra a mulher tem sido muito alto e contribui para tal consideração. Suas causas são sempre as mesmas: miséria, pobreza, má distribuição de renda, desemprego e desejo de vingança. As instituições, por sua vez, concentram o poder nas mãos de poucos, deixando de lado as que representam o povo. Parece até que a estrutura governamental torna a violência necessária, em alguns aspectos, para a manutenção da desigualdade social. Não se sabe ao certo onde ela se concentra, pois quando são presos sofrem torturas, maus tratos, descasos, perseguições, opressões etc, fazendo com que os encarcerados tenham dentro de si um desejo irreprimível de vingança.
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De acordo com o texto base publicado pela CNBB, a Campanha da Igreja do Brasil deste ano quer suscitar o debate sobre a segurança pública e contribuir para a promoção da cultura da paz na família, na comunidade e na sociedade, a fim de que todos se empenhem efetivamente na construção da justiça social, e que seja sinônimo de segurança para todas as pessoas. Mas para isso medidas enérgicas precisam ser tomadas para diminuir tais estatísticas, a partir de então se atente para a estrutura que vem sendo montada para decidir o futuro das cidades brasileiras. Para que possamos alcançar mais justiça social – não da forma como vemos nos grandes centros urbanos onde impera a força das armas – precisamos de pessoal bem orientado, capacitado e ideologicamente preparado no combate a violência e os seus causadores, pois está provado que o combate ao crime não se consegue com os atuais métodos de repressão utilizados pelos Órgãos de Segurança Pública.


4 comentários:
Ezequiel, excelente crônica, bateu no fundo a sua narrativa, a violencia é originada principalmente pelos donos do poder. Veja como somos tratados nos orgaos públicos, o povo atende a gente como se não existissimos, são raras as pessoas que sentem o seu problema. Vá na Prefeitura, no Forum, no DISEP ou Defensoria e vejam o descaso.
Mario Silva
Vale a pena Zica ler seus textos.
muita qualidade.
Jose Eduardo
Esplendido, você tocou em assunto muito bom, deu enfase ao grande humanista pernambucano Josué de Castro que nos dá orgulho ser conterraneo dele. Outro fato foi o assassinato do diácono pelo policial civil desequilibrado. Parabens por esta otima cronica.
Ezequiel,
Você foi feliz abrindo o texto citando o escritor e cientista Josué Apôlonio de Castro.Faço uma observação que no dia 05/9/2008 se comemora o centenário de seu nascimento, 05/9/1908,(morreu no mesmo mês em que nasceu, 29/9/1973). Óbvio, caso o Josué estivesse vivo, faria 100 anos, como o nosso arquiteto Oscar Niemayer. Infelizmente morreu ainda muito jovem, 65 anos. Vida êfemera.Mas durante a sua estada entre nós, foi como se fosse 200 anos de contribuição - quão fecunda e multifacetada foi sua vida e obra. O Josué de Castro foi um visionário de pés no chão numa época em que os parlamentares,
os intelectuais, a mídia, os acadêmicos; em suma, época em que o poder dominante se recusava em enxergar a fome,a miséria,o analfabetismo e todos os 'ismos' que assolava o País. Pois é, não é de graça que hoje ele é lembrado como o "profeta dos excluídos".
À seu respeito, afirmou o antropólogo Darcy Ribeiro:
"Josué é uma das pessoa que eu mais admiro.
Eu digo mesmo que Josué é um dos homens mais inteligente e mais brilhante que eu conheci..."
Continue trazendo para seus textos, sempre que possível, pessoas dessa envergadura. Muito bom!
Abração e até breve...
Armínio Esdras Arduz
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