quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Indústria do futebol: Espetáculo & Negócio


*Por: Eduardo Moraes

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O valor estabelecido para o ingresso pela terceira rodada do campeonato baiano edição 2009 (jogo E.C.P.P. Vitória da Conquista X Esporte Clube Vitória de Salvador) gerou polêmica na cidade e permeou os debates na imprensa esportiva escrita e na radiodifusão local. A discussão versou sobre a questão de se cobrar o valor mínimo definido pela Federação Baiana em R$ 10,00 ou o estabelecido pelo alviverde em R$15,00. É preciso esclarecer que o futebol como conhecemos hoje não é mais apenas uma manifestação cultural amadora.


Em 2600 a.C., na China antiga, o futebol era jogado em ritual de guerra com a cabeça do chefe inimigo e ou com as cabeças dos seis guerreiros mais valentes derrotados em campo de batalha. No Brasil, embora haja controvérsia, prevalece à tese de que o futebol chegou através das mãos de Charles Miller, em 1894. Na época, ele era praticado apenas pela elite racista, mas, em meados da década de 20 do século passado, já era o mais popular entre as classes de menor poder aquisitivo. Foi só no final dessa época que se começou a pensar em cobrar ingressos em jogos das equipes dos campeonatos paulista e carioca. Mais tarde, década de 40, no governo do Presidente Getúlio Vargas, surgem as primeiras medidas com objetivo de tentar regulamentar a prática do futebol e a relação com o público. Entretanto, só na década de 90 com a lei Zico Nº 8.672/93 e Lei Pelé Nº 9.615/98 é que o futebol brasileiro entra em uma fase de obrigatoriedade de uma gestão profissional, o que infelizmente ainda não alcançou a maioria dos clubes brasileiros.
Se fizermos uma leitura mais atenta, observaremos que as raízes desse debate sobre cobrança e valor do ingresso têm como origem o atraso histórico e cultural ao qual estamos submetidos com relação à Europa, onde as equipes são geridas como um grande negócio de entretenimento no qual os torcedores adquirem seus ingressos antes do início da temporada.
Todo investimento feito no futebol é caro: desde a preparação dos futuros craques à montagem da indústria do futebol, com a construção e manutenção de um centro de treinamento, contratação de profissionais capazes de fazer esse centro funcionar como uma fábrica de talentos. Montar então uma equipe no mesmo nível das duas principais equipes do futebol baiano é uma tarefa titânica. No caso do Esporte Clube Vitória da Conquista, mesmo com todo o esforço e planejamento da diretoria, todos os contratos de publicidade vendidos são insuficientes para pagar um mês das despesas mensais, cerca de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), contratadas até aqui para assegurar uma vaga entre as equipes que irão disputar as finais do campeonato baiano de 2009.
É preciso que todos compartilhem desse esforço em compreender que somos uma associação desportiva sem fim econômico, mas gerida como empresa. O tempo do romantismo ficou para trás; hoje, o que faz mover o futebol é título, gestão responsável, transparente, planejamento e financiamento, pois, sem dinheiro, não se consegue proporcionar espetáculo algum.
O incrível é que em nossa cidade cobra-se de R$ 30,00 a 40,00 reais por shows de qualidade duvidosa; e de R$ 100,00 a 250,00 reais por festas fechadas onde os recursos arrecadados são destinados para o pagamento de cachês de artistas que nada deixam em nossa cidade e os lucros apropriados por seus promotores. No Vitória da Conquista todos os recursos até aqui arrecadados são reinvestidos no projeto em tornar a nossa cidade uma referência nacional na prática e gestão profissional desse esporte.
No Brasil, o país do futebol, pouco mais de uma dezena de clubes são geridos profissionalmente, tratando o esporte como entretenimento, espetáculo & negócio. Nós criamos o alviverde para se juntar a essa dezena e ajudar a mudar a face da gestão esportiva dos clubes de futebol, principalmente na Bahia. Estamos tratando de um projeto com perspectiva de longevidade e não de algo com tempo certo para o seu fim. Caso esta visão míope e hipócrita de achar injusto o valor do ingresso cobrado persistir, jamais o Conquista se juntará aos maiores do Brasil. Gostaria que os críticos respondessem de onde virão os recursos para manter uma equipe em um campeonato regional, série D, C, B ou A do Campeonato Brasileiro, uma vez que cada degrau de ascensão significa a necessidade de mais recursos para se contratar atletas e profissionais compatíveis com as respectivas ascensões?
O aumento do valor do ingresso para a partida contra o Vitória ocorreu por fazer parte no nosso planejamento oferecer aos nossos torcedores um produto, um serviço de melhor qualidade, com a contratação de pelo menos mais um atleta de expressão. Temos certeza que esse é o desejo de todos os torcedores. Não podemos cair no senso comum de achar que com ingresso barato o publico lotará o estádio, já tivemos essa experiência.
Pois bem, amigos consumidores do produto futebol, estamos cansados de ouvir dizer que o futebol é do “povão” e que os ingressos não podem ser majorados. Sendo assim, quem pagará a conta? Não concordamos com um aumento de valor do ingresso sem qualquer critério ou por motivos circunstanciais, porém, compreendemos que o tempo das visões de curto prazo se esgotou. Convidamos todos aqueles que acreditam em uma Vitória da Conquista grandiosa de um futebol profissional gerido enquanto negócio que se coloquem ao lado do nosso time para que ele se conquiste um lugar entre os maiores.
Nós confiamos na força dessa cidade e do seu povo e contamos com a participação de todos os conquistenses na luta pelo Esporte Clube Vitória da Conquista.
Eduardo Moraes
Vice-Presidente do Esporte Clube Vitória da Conquista


2 comentários:

Anônimo disse...

Eduardo,

Muito sensata a sua esplanação. Por sinal, um texto muito rico e esclarecedor. Sabe-se que o poder aquisitivo da maioria dos torcedores é pequena, porém se realmente querem um time forte é bom enxergar que UM TIME FORTE SÓ É POSSÍVEL COM RECURSOS FINANCEIROS BEM APLICADOS.
Portanto, parabéns pelos esclarecimentos.

Anônimo disse...

Muito sensata a explicaçã e concordo com o Sr. Porém repudio totalmente a atitude seja la de quem foi em realizar a amanobra para nao vender meia. Alegaram que 15 reais era o preço unico, preço de meia ja que a inteira era pra ser R$30,00 mas alguem foi muitlo legal e conseguiu preço de meia pra todo mundo. Palhaçada com o torcedor estudante né?