quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Academia do Papo


Problemas de identidade

O leitor Paulo Turrão (será esse seu nome?) disse que havia descoberto uma coisa importante: Eu, Paulo Pires, não sou eu. Diz o Sr. Turrão que na realidade eu sou o cidadão que assina com o nome de José Valente. Fiquei surpreso. Minha perplexidade se dá por conta de a essa altura eu mesmo ter problemas em me identificar. Recentemente outro amigo disse estar desconfiado de que eu sou verdadeiramente o Paulo Turrão. E agora? Agora estou confuso. Não sei se sou eu, Paulo Pires, ou se sou o José Valente ou, a terceira alternativa, Paulo Turrão. Devo esclarecer que os dois, Valente e Turrão, não são da mesma corrente. Parecem não se entender. Mas isso ocorre comigo também. Tem dias que eu mesmo não me entendo. Será que eu sou eu? Minha cabeça anda confusa. Tudo isso culpa do Sr. Turrão. Este cidadão colocou dúvidas profundas em minha cachola. Tem horas que eu penso que sou eu. Em outros momentos penso que sou Tom Jobim. Engraçado é que o grande Tom, por uns momentos, pensava que era Villa Lobos. E o grande Villa, para não fugir à regra, pensava ser um grande morubixaba. Imaginem vocês: nosso grande maestro na pele de um grande cacique do Alto Xingu. Ele adorava essa idéia. Os seus temas amazônicos confirmam isso (dá até prá vê-lo com um cocar na cabeça).


O fato é que a coisa não se dá apenas comigo. Muita gente boa no mundo fica confusa em se identificar. Marlon Brando nos primeiros momentos de sua brilhante carreira pensava ser Orson Wells. Francis Hime está quase se convencendo de que agora é o novo Tom Jobim. Edu Lobo se influencia demais pelo Lalo Schifrin. Tá todo mundo pensando que é outro, ou melhor, querendo ser outro. Mas um fato é inconteste: Ninguém pode sair de sua pele e se trocar até virar outro. Até porque o outro na maioria das vezes é tão egoísta que não quer sair de si mesmo. São pessoas que se amam. Elas dizer possuir alta estima prá dar e vender. Por mim tudo bem. Já que ninguém quer ser eu e uma das pessoas que eu queria ser, já morreu, acho melhor ficar sendo eu mesmo. Embora o Sr. Turrão desconfie que eu sou o Valente. E aquele amigo que mencionei continuar insistindo que na realidade sou Paulo Turrão.

Bem. Problemas de identidade à parte gostaria de dizer aos dois, Valente e Turrão (será esse seu nome?), que estou satisfeito em ser eu mesmo. A única coisa que me falta é dinheiro. Ah, se eu tivesse dinheiro. Sem brincadeira, se eu fosse um sujeito endinheirado todo mundo me daria alguma importância. É muito bom ter dinheiro. Um dia desses estava em um lugar (restaurante) e entrou um sujeito, velho conhecido, hoje dono de um patrimônio de respeito. A entrada do cidadão no ambiente provocou um alvoroço só comparável às chegadas de Obama. Quase todos os convivas se levantaram ou fizeram questão, mesmo de longe, de saudar o magnata. Eu mesmo fui um deles. Há muito tempo não assistia a um coro de puxa sacos tão explícito. Claro que nosso amigo ficou cheio de orgulho (e a mulher que estava com ele, ao ver tanta bajulação, não deixou por menos: se derreteu toda de carinhos no ombro do cabôco). Ah, como é bom ter dinheiro...

Depois que as coisas se acalmaram, comecei a fazer reflexões [inúteis] sobre a importância de se ter dinheiro. O dinheiro é uma coisa fascinante. As pessoas quando sabem que estão tratando com gente de grana ficam educadas, finas, civilizadas. Tratar com magnatas é outra coisa. Em 1973 trabalhava em uma tradicional empresa no Rio de Janeiro, quando fui incumbido de tirar uma nota fiscal para uma senhora e uma moça linda que a acompanhava. A senhora no caso, faz parte do rol daquelas famílias mais ricas do Rio de Janeiro e do Brasil até hoje. A moça posteriormente veio a se tornar, com licença da má lembrança, esposa de um dos nossos presidentes. Ao adentrar o estabelecimento, as distintas senhoras foram prontamente atendidas pelo nosso diretor comercial. Meninos, vocês precisavam ver! O homem se derramava em rapapés e salamaleques que eu nunca vira antes. Era dona fulana prá cá, dona fulana prá lá, e a puxação de saco comia no birro oitenta.

A senhora, por sua vez, estava adorando o tratamento diferenciado. E eu, fazendo o papel ordenado pelo superior, também não economizei na puxação. Ora, se o chefe que era um homem duro, seco, impolido e às vezes até grosseiro, estava com aquelas mesuras todas, o que deveria fazer um modesto auxiliar de escritório? Puxar o saco também. Puxei o saco com tanta classe que aquilo acabou me dando uma pequena promoção dias depois. Quando as duas saíram da empresa, Seu Campos [era esse o nome do diretor] me falou em poucas palavras quem eram as nobres figuras. Fiquei besta. Nunca pensei em conversar com pessoas tão “poderosas”. Mas tudo bem. Elas foram embora e eu fiquei pensando no mundo. Ainda bem que mudei de cidade. Pelas informações que recebi e pelas colunas sociais que depois li, o nível sócio-econômico das duas era bem superior ao meu. Bota superior nisso. Naquele dia fiquei querendo ser um sujeito importante. Mas sem deixar de ser eu mesmo. Até quando insistem que eu sou outro. Ou seria melhor se eu fosse outro? Ajudem-me. Um abraço cordial e até a próxima. Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR

3 comentários:

Unknown disse...

Danadinho esse Paulo Pires! Impagável como sempre!A leitura de suas crônicas (crônicas?)é uma uma coisa tão agradável que sempre deixa um gostinho de quero-mais!
Esse sujeito é um cabra da peste ensaísta dos bons ( ensaios? )que vale a pena curtir seus escritos ( escritos ?). E toda vez que a gente acessa o Blog Do Anderson dá logo aquela vontade de conferir as narrativas (narrativas ?) do grande Paulo Pires!
Valeu Paulo! Continue assim com seu jeitão largadão,desinteressado,brejeiro,bem humorado e encantador de escrever!E sem crise existencialista!!!hhehehe!!!
GIL.

Anônimo disse...

Paulo,

O blog do Paulo Nunes tá bombando,como nao quero ser idetincado, utilizo esse espaço para me pronuciar.
Que confusao é essa vc é Paulo Pires, Turrao, valente ou Bea? agora eu fiquei confusa.
Sugiro uma enquete:
Quem acha q o Paulo Pires é o:
Valente disque 0800-000
Turrao disque 0800-111
Bea ligue 0800-024
Nenhum dos tres ligue ....

brincadeirinha...

abraço

Anônimo disse...

Paulo,
Qdo vc pensar que é o Tom, canta a musica: Pela Luz dos Olhos Teus.

É linda!!!!