quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

A carteira e os perus


Paulo Ludovico

Essa, dizem, aconteceu com “seu” Jovelino, homem de muitas posses e bastante conhecido em Conquista. Ele foi pecuarista, com grande quantidade de terras na região de Itambé. A fazenda do homem era "um mundo véi de terra", dizia um "caboco". Jovelino tinha mais boi no pasto do que Itambé tinha de gente.


Pois a história é assim: Numa bela manhã qualquer de um dia qualquer, o "seu" Jovelino saiu pro costumeiro bate-papo, ali na Praça Barão do Rio Branco. Aliás, diga-se de passagem, muita coisa acontece em Conquista, justamente na Praça Barão do Rio Branco. Ali tem de tudo, se vende, se compra, se faz negócios. Na praça é contada a vida da cidade, se sabe do proceder de todos. Quem casou, quem largou, quem juntou, quem "inricou" e quem “quebrou”. Ali dá de tudo.
Mas a Praça não é só isso, lá os velhos amigos se encontram pra falar de suas venturas, desventuras e, também, das aventuras. E quanto deu o café? A arroba do boi gordo, como está? Tem também aquele que fala dos casos amorosos da noite anterior. Um amigo conta que em companhia de uma mulher, “cobiçadísima” pela turma do mal, ouvira dela o seguinte, já num avançado bate papo “motelesco”:
- Por favor não comente sobre esse nosso caso com ninguém.
Ele, imediatamente, responde:
- Epa! Se é assim, vista-se, pois não vai haver nada entre nós. E emendou em seguida:
- O bom vai ser os curtir a cara de inveja de meus amigos quando eu comentar que saímos.
Até hoje ele não conta o final da história (ou seria estória?)
Mas, voltemos pro rumo de nossa conversa. Foi justamente na Barão do Rio Branco onde estava "seu" Jovelino. Conversa vai, conversa vem e, de repente, o homem leva a mão ao bolso e descobre que havia deixado a carteira de dinheiro em casa. Inadvertidamente, comenta o esquecimento na roda de amigos. O desabafo foi alto, o suficiente para ser ouvido por dois malandros que, naquele exato momento, passavam por ali. Os dois, descobrindo de quem se tratava, descobriram o endereço e armaram o golpe. Foram à feira livre, que naqueles tempos idos funcionava onde hoje é o Mercadão, na Praça da Bandeira, e adquiriram dois perus gordos e bonitos. Daqueles próprios para morrerem em véspera de Natal. Um dos malandros (o outro ficou escondido) chegou à casa de "seu" Jovelino e disse logo a uma senhora que aparecera para abrir a porta:
- "Seu" Jovelino comprou esses dois perus e pediu pra mandar a carteira dele pra fazer o pagamento.
Inocente, a mulher recebeu a "mercadoria" e entregou ao malandro a carteira do homem, cheinha de dinheiro e daquelas notas mais graúdas (naquele tempo não era comum deixar dinheiro em banco). Quando "seu" Jovelino, já em casa, tomou conhecimento da história, foi ao desespero. Saiu de imediato à procura do gatuno. Passado uns 20 minutos, o outro malandro (o que havia se escondido) vai à casa de "seu" Jovelino e diz, à mesma senhora que atendera seu comparsa da vez anterior:
- "Seu" Jovelino mandou dizer que encontrou o malandro que enganou a senhora. Ele está na delegacia "dando" queixa e pede pra mandar os perus, que é pra mostrar lá pro "seu" delegado.
Recebendo os gigantescos "penosos", o gatuno deu no pé sem deixar rastros.
Os mais antigos juram ser verdade esse "causo". Há, até, quem afirme ter ajudado "seu" Jovelino (sem a carteira e sem os perus), dias e dias, a procurar, em vão, os dois vigaristas

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu "irmão"

Seus casos, ou melhor "causos" a cada dia melhores. Faz a gente rir do início ao fim. Parabens!

Anônimo disse...

Boa estória, Paulo Ludovico. Muito engraçada.Que continue assim.

José Aranha da Silva