quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Academia do Papo


Xuxa e a Bossa Nova

Nesta última quinta feira (1l8-12-2008) fizemos na Praça Barão do Rio Branco uma homenagem aos 50 anos da Bossa Nova. Uma das primeiras pessoas a chegar ao local para assistir a apresentação foi a nossa famosa Xuxa. Calma pessoal! Não estou falando de Xuxa Meneghel. Estou me reportando à nossa Xuxa, uma moça loura que anda de bicicleta pela imensidão da Olívia Flores e que tem uma inclinação enorme para farejar locais de entretenimentos sonoros. Além de gostar de bicicleta, essa moça, prá quem não está lembrado, é uma lourinha que se veste de short e camisetas baby look e cujo prazer, parece, reside em dançar nos eventos musicais da cidade. Pois a nossa Xuxa não deixou de nos prestigiar. Pelo menos no início da apresentação.


O nosso show começou por volta das 10 da noite. Quando olhei pra baixo e vi Xuxa, pensei com os meus botões: hoje a coisa vai pegar. A música de entrada foi o Samba do Avião de Tom Jobim. Nossa coadjuvante demonstrou interesse pelo tema. Em seguida Consuelo sacou do seu repertório Pela Luz dos Olhos Teus, do mesmo autor e de cima, já no meio do tema, comecei a perceber que Xuxa não pareceu muito empolgada com o que ouvia. Penso que ela estava esperava algo mais quente; coisa da linha Ivete Sangalo. Mas que nada! Nossa intérprete [Consuelo] começou a desfiar temas românticos da Bossa e Xuxa, um tanto quanto desapontada começou a demonstrar impaciência. De repente deu uma parada, sentou-se ao meio fio, olhou prá cima, balançou a cabeça e amarrou o tênis. Do alto, tenho impressão de que ouvi um muxoxo. Prá variar nossa Xuxa estava com um shortinho vermelho e uma camiseta da mesma cor. Mas a música que lhe chegava aos ouvidos, sinceramente estava bem longe do que ela pretendia para mostrar aos presentes sua performance.
O Show continuou. Era a vez de Carlos Moreno mandar uns sambas mais suingados. Xuxa se levantou, mexeu as pernas prá cá, mexeu o rabo prá lá, olhou prá cima demonstrando satisfação com o que ouvia. Isso foi até Moreno encerrar sua participação. Em seguida Dirlêi entrou cantando Dindi [Tom Jobim e Aloísio de Oliveira]. Pronto. Nossa Xuxa quase deu um ataque. Aquilo era música prá ela dançar? Sinceramente, pensou ela, esperava coisa melhor. Mas Dirlêi indiferente aos apelos da dançarina continuou sua interpretação. A loura, retada com o nosso músico, voltou a se sentar no meio fio. Que música chinfrim era aquela, pensou!
Claro que as pessoas que estavam lá (e não eram muitas), adoraram a interpretação de Dindi, um clássico que foi gravado até pelo grande Frank Sinatra. Mas Xuxa não queria saber desses detalhes. O que ela queria mesmo era balançar o esqueleto e aquela música certamente não servia para o seu intento.
Outro fato que me chamou a atenção foi a pequena quantidade de pessoas. Principalmente se levarmos em conta que Conquista hoje é uma cidade universitária. Se bem que há dois aspectos a se considerar: O primeiro deles é que ser estudante universitário não assegura a ninguém ter bom gosto musical; O segundo é que há uma considerável massa de professores que quando se reporta à Bossa Nova, o faz de forma jocosa e depreciativa. Alguns desses [marxistas de carteirinha] dizem que esse estilo musical é representativo apenas do modus vivendi da burguesia carioca no final dos anos de 1950. Portanto, pouco representativa da cultura brasileira autêntica. Claro que esses puristas são aqueles que ainda estão colados em 1968. Ma tudo bem.
O que importa é que mesmo com as críticas que a Bossa Nova recebe, talvez seja nossa melhor matriz canora instrumental para expressar e representar esteticamente o homem brasileiro no exterior. Quem anda pelo mundo sabe que a Bossa é nossa representação máxima de identidade cultural. E para que não haja confusão, Samba e Bossa Nova são a mesma coisa. A pequena diferença é que a Bossa tem um tratamento harmônico mais bem elaborado o que de forma alguma diminui a beleza do samba. O João Gilberto sempre diz que não canta Bossa Nova, mas sim Samba. Quem ouvir o repertório do baiano comprova isso.
Mas voltando ao nosso show, penso que naquela quinta feira Xuxa chegou em casa praguejando os artistas. Que bando de sacanas, deve ter dito ela. De nossa parte diríamos que o importante para nós foi o fato de que pelo menos em quatro temas pudemos proporcionar à grande dançarina oportunidade de ela poder mostrar o seu talento. Para evitar decepções nos próximos dias vamos logo avisando a ela: No dia 25 não vá à Praça Barão do Rio Branco só com o intuito de dançar. É que nessa noite quem vai se apresentar é Elomar. E, sinceramente, a música de Elomar não é para ser dançada conforme os seus requebros, minha cara Xuxa. Um bom Natal para todos. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires (*) Professor UESB – FAINOR.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bem - professor. Feliz Natal e um ano novo de grandes realizações.Apesar de 2008. RGS

Anônimo disse...

Legal - professor. Feliz Natal e boas festas.

Vc é muito observador!
Até...