quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Academia do Papo


Fim dos Castelos, surgimento das Piriguetes.

O amigo Márcio Prado, leitor assíduo dos nossos escritos, pediu-me para enviar fotografias minhas dentro de um Castelo. Infelizmente, Márcio, não poderei atendê-lo em virtude de uma ex-companheira muito ciumenta e “mordida” com a minha vida passada ter queimado todas as fotos do meu acervo Casteleiro. Ela jamais aceitou que eu mantivesse aquelas memórias. Nas fotos, com a indisfarçável cara de quem está gostando, eu aparecia sempre brindando com as “meninas” folgazãs. Cá prá nós, a companheira estava correta. É chato saber que a pessoa que está com você ainda guarda coisas do passado (no meu caso, pouco recomendável). Ela, quando viu as fotos, tacou fogo e disse com cara de ciúme, que aquilo era falta de respeito. Fiquei quieto, não disse nada. Calei-me e nunca mais falamos do assunto. Confesso que se fosse hoje, com a tecnologia que temos, teria feito pelo menos um backup (becape).



O único senão é que a moça não é mais parte de minha vida e minhas fotos, infelizmente, foram pro espaço. Mas, tudo bem. Não adianta chorar o leite derramado. Hoje fico pensando como as coisas mudaram. Mudaram muito. Primeiro tivemos uma alteração substancial em nossos comportamentos. Já disse em outra ocasião que se um sujeito quisesse “trocar o óleo” teria obrigatoriamente que fazê-lo em casas de tolerância (nome eufêmico que encontramos para o rendez-vous francês). Era assim mesmo. Ou se ia a uma casa de tolerância (rendez-vous) ou então se fazia o “serviço” à base do punho. Coisa pouco elogiosa para quem atinge padrões de maturidade e independência moral.

Com as mudanças incorporadas pela sociedade contemporânea, poucas pessoas, principalmente do interior, vão hoje a esses ambientes. Mas engana-se quem pensa que eles deixaram de existir. Em São Paulo e Rio (e na maioria das capitais) o que tem de casa de rapariga é uma festa. Volta e meia a polícia detona algumas e a televisão mostra. No caso das capitais a coisa é sofisticada. Misturam-se casas de prostituição a jogos de azar e drogas e daí e tem-se uma combinação barra pesada para os padrões de quem tem vida normal.

Aqui em Conquista a coisa melhorou. Os castelos que a partir do final dos anos 70 foram substituídos pelos bregões, são apenas lembranças na memória dos seus antigos freqüentadores. E os bregões, por sua vez, estão em processo de extinção. Mas o fim dos bregas não significa fim da sacanagem. Ao contrário. O negócio continua forte, mas com outra forma administrativa. Dos antigos bregas parece-me que só quatro ainda estão de pé. Dois pertencem a amigos de infância e os outros são de Leontina e Bandola, se não estou enganado. É bem verdade que hoje eles parecem pouco confortáveis em seus “negócios”. Há tempo que não vejo os meus amigos, mas percebe-se que a concorrência na atual conjuntura - com o surgimento das Piriguetes - tornou a coisa mais difícil. A liberdade sexual deu às moças contemporâneas uma liberdade e uma independência pessoal fora do comum. Os próprios pais assimilaram as mudanças e todo mundo avalia a questão com a maior naturalidade.

Existem famílias que se expressam claramente: “Prefiro que minha filha traga o namorado para dormir aqui em casa, do que saber que ela está em um motel, longe e exposta à sanha descontrolada de bandidos”. Certíssimas. A liberação sexual modificou muito os nossos costumes. Eu é que nasci no tempo errado. Ah, se eu tivesse nascido hoje. Teria economizado uma boa grana (ah, ah, ah). No meu tempo não havia Piriguetes. O fato é que as pessoas estão mais independentes, mais soltas, menos reprimidas e trazem consigo uma noção de privacidade assegurada pelos institutos legais do País. No capítulo dos Direitos Humanos nossa Constituição é de um avanço espetacular. Todo mundo se sente protegido pelo Estado Democrático. Ninguém tem mais o temor de sofrer preconceito por expressar-se conforme suas convicções (o próprio Presidente da República está deitando e rolando em cima de palavrões. E eu dou o maior valor).

Em conseqüência disso, pode-se dizer que os direitos humanos asseguraram às pessoas aquilo que mais elas desejavam em termos individuais: Liberdade. Quanto às meninas, posso dizer que em nossa cidade e na Bahia como um todo, foi Ivete Sangalo quem primeiro promoveu a declaração pública do “Estou Piriguete”. A musa do axé propalou em todos os lugares e para todas as pessoas que “estava piriguete”. Pronto: Isso foi o sinal de abertura para que as meninas assanhadas se espelhassem na musa. O fato é que, em quase todos os lugares ouvimos falar em Piriguetes; meninas Piriguetes. Quem são elas? São as que chegam nos lugares demonstrando claramente que estão a fim “dançar” um Tango em Paris. Mesmo que esse Tango seja “dançado” pros lados da Terra do Remanso ou em direção a Estrada da Barra. O fato é que todo mundo está brincando nos trinta. Menos eu, quase monge, recatado e tímido, vivendo em busca da última Flor do Lácio. Adeus mundo boêmio. Adeus batucada! Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR.

5 comentários:

Anderson Oliveira disse...

Ha!!! Ha!!! Ha!!!

Só você meu amigo e professor que me faz sorrir com esses contos envolventes.

Apesar de ter um quarto de sua idade também pude vivenciar momentos, mas não com a mesma força da coragem que possue, pois sempre fui muito receoso a tais aventuras, mas Vovô meu amigo, o bicho era um boêmio quase como o do namorador Paulo Pires das Piriguetes.

Anônimo disse...

Paulo,

Você é muito engraçado! Acho que os seus artigos são como droga. Estou viciada. Todos dias procuro por eles...

Anônimo disse...

Eu acho que está havendo muita liberdade. As pessoas perderam a vergonha. Tudo é liberado. No meu tempo era completamente diferente, casava-se virgem. Apesar de achar isso de casar virgem uma besteira, depois descobre que o principe virou sapo.
Vulgarizou demais a sexualidade.Também, a midia,as musicas, as novelas exploram muito esse tipo de comportamento.

Pois eu queria ter vivido os anos 60...

Anônimo disse...

É amigo velho, você não é brinquedo não. Esta finalização da crônica está genial - "Menos eu, quase monge, recatado e tímido, vivendo em busca da última Flor do Lácio. Adeus mundo boêmio. Adeus batucada" - (Ah.. ah.. ah..) Você ainda tem muita estória pra contar.
Um abraço,
Ezequiel Sena

Anônimo disse...

Paulo;

KD VOCÊ?