terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Academia do Papo


Castelos e ilusões

Quem está na capa da Revista Caras desta semana é o apresentador Gugu Liberato e família. Bem em frente ao Castelo da revista. A manchete apela para que acompanhemos a reportagem. Quem vive a mídia televisiva sabe que além desse Castelo a revista possui uma Ilha, utilizada constantemente para fazer matérias sobre celebridades. É o chamado mundo dos famosos. Basta uma pessoa ser ou ficar famosa e a Revista a convida para posar e ficar na Ilha ou no Castelo. Não sei por que, mas até hoje não fui chamado. Fico impressionado com a ingratidão desses editores.


Ah, se eu fosse famoso!... Mas tudo bem. Enquanto não me chamam, fico aqui pensando nos Castelos que conheci. Sim senhor, se você não sabe, fique sabendo: Conquista até a década de setenta, era cheia de Castelos. Claro que os nossos não eram medievais [historicamente isso seria impossível]. Os nossos eram bem mais modestos e tinham uma destinação muito específica: Receber clientes mal amados [ou descarados], portanto homens carentes de bons serviços femininos. Todas as pessoas que aqui moram, principalmente os homens [estes tão sem vergonha quanto eu] sabem disso. Nossa grande diversão era freqüentar Castelos. Havia prá todos os gostos. Eles se espalhavam por toda a cidade. Prá se ter idéia, até na parte mais alta do Alto Maron tinha um: era o de Vane. Convenhamos que não fosse lá grande coisa, mas em último caso dava prá quebrar o galho. Era melhor que fazer trabalhos manuais.

Um dos castelos mais bem freqüentados era o de Fiazinha. Ficava no Ibirapuera, duas ruas abaixo do de Jandira. Não sei se as duas eram amigas, mas tive oportunidade de encontrar algumas das moças fazendo “ponto” tanto em um quanto em outro ambiente. Será que naquela época as duas [Fiazinha e Jandira] globalizavam também as meninas?

O fato social é que os Castelos de Conquista, sob o ponto de vista da sexualidade, representaram importantes instrumentos de contenção e equilíbrio. Se for verdade o que diz doutor Freud sobre sexualidade, não tenho dúvida em afirmar que nossos Castelos foram muito úteis nesse sentido. Havia outros importantes. Um que ficava meio distante, mas era muito bom, era o de Alaíde. Ficava na Patagônia, bem abaixo do DESERG. Não sei como ela fazia prá contatar as meninas, mas que ela conseguia bonitas moças, isso ninguém discute. Até namorei uma delas. Foi uma experiência e tanto. Senti-me o próprio Dorian Gray. A menina era espetacular. Não sei o que viu em mim: Foi paixão à primeira vista. Recíproca. Ela me dizia coisas espetaculares (acho que tava doida prá sair de lá) e eu ficava muito doido com aquele dengo. Odair José estava na moda e cantava: “Eu vou tirar você desse lugar... e não me importa o que outros vão dizer...”. A coisa tava ficando cada dia mais quente. Mas um dia... Bem, eu nem quero me lembrar (como disse Adoniran Barbosa), nossos sonhos foram por água abaixo. Deixa prá lá. ...

Existe um ponto comum nos Castelos: a ilusão. Os nossos, como todos no resto do mundo, são cheios de ilusões. Tudo nos castelos são ilusões. Até o mordomo é uma ilusão. Os quadros são ilusões, a vida lá dentro é uma ilusão, as princesas são ilusões, a Rainha e o Rei são ilusões, é tudo ilusão. Quem alimenta isso tudo é a vaidade (mãe da frivolidade e da presunção). Em Jeremias (10; 15) encontraremos: “Vaidade são, obra de enganos; no tempo da sua visitação virão a perecer”.

Pior é que a maioria das pessoas, infelizmente, vive sob esses dois estofos: Vaidade e ilusão. Eu mesmo de vez em quando me pego cheio de ilusão. Pespego-me uns piparotes (como dizia Machado) e caio na real imediatamente. Hoje não temos mais castelos. A coisa agora está mais industrializada. O sexo é uma indústria, não é mais uma carência afetiva. Prá se vender pneu, usam-se mulheres bonitas. Prá cigarro, idem. Carro, pior ainda. Tudo tem que ter mulher boa no quadro. Vai vender cerveja, bota mulher boa. Vai vender qualquer coisa, tem de meter mulher boa na cena. Quer saber? A estimulação sexual feita pela mídia é tão violenta que sinceramente acho existe até poucos tarados ou então a liberação sexual [ainda bem] amainou nossa concupiscência. Que há uma provocação sexual intensa, isso todo mundo vê. Prá encerrar, lembro-me agora de uma noite em que estávamos no Castelo de Jandira e de repente chegou lá um respeitável cidadão. Quando ele nos viu, percebemos logo o seu constrangimento. Mas ele se saiu bem. Perguntou pela nossa idade. Éramos três na mesma faixa etária e na hora dissemos em coro 19 anos (mentira. Não passávamos de 16). Ele, prá justificar sua presença ali, disse que era comissário de menor e se enfurnou dentro do Castelo. Notamos que o seu sorriso amarelo denunciava o temor de ser dedurado. Um dos amigos disse que ficasse tranqüilo. E ele insistiu que estava ali a trabalho. Prometemos a ele muita discrição e ele acabou indo lá prá dentro, provavelmente prá concluir o seu “serviço”. Acredite se quiser, mas o cidadão não tinha nada a ver com comissário de menor. Ale do mais é besteira querer dissimular uma coisa tão humana. Qualquer pessoa de percepção mediana enxerga quando um sujeito tá a fim de uma rapariga. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UES-FAINOR.

7 comentários:

Anônimo disse...

... voce já conhece muitos castelos!.Esses citados são sos de poucas ilusões, por essa razão mais reais.

Anônimo disse...

Paulo,

Você é muito engraçado!. Nao era amor o que vc sentia por essa moça. Se fosse, vc teria tirado ela de lá.O amor é um sentimento que esta alem da razao.
Como será encontrar o verdadeiro amor? será que existe amor verdadeiro?.
E Fiazinha já morreu e deve tá pagando muito caro por ter feito muitas maes sofrerem.
Em jeremias está escrito a verdade sobres esses castelos de areia.leia (13.1 Coríntios)
Ainda que eu fale as linguas dos homens e dos anjos , se nao tiver amor, serei como bronze que soa ou como o címbolo que retine.
Até...

Anônimo disse...

Prof. Paulo Pires, o senhor tem que mandar os seus escritos também para as revistas Caras, Carta Capital e outras. Tenho certeza que os seus artigos não são em nada inferiores aos que eu leio nestas revistas; mas, para que isso aconteça, tem que arranjar um jeito de fazer com que eles cheguem aos que decidem naqueles semanários; se chegarem primeiro aos quebra-facas, como acontece com determinado blog em nossa cidade, nada feito! Mas, se passar por essa barreira "parda", com certeza o senhor estará pisando em tapetes vermelhos e aproveitando-se da hospedagem nos castelos da fama! Quanto aos castelos, o senhor se esqueceu de citar os da Rua da Moranga (hoje Rua Dr. San Juan - continuação da Siqueira Campos), muito embora, tanto o professor e, muito menos eu, os tenhamos conhecido, face a nossa idade. Como tivemos historiadores em nossa época, que nos colocavam a par de tudo que havia acontecido em nossa cidade, acho que teria valido a pena ter citado.

Francisco Silva

Anônimo disse...

Depois de sair da Mamoneira palitando os dentes e agora sentir o prazer de viajar no imaginário dos Castelos, sinto-me um privilegiado de ter a chance de ler as crônicas desse iluminado Paulo Pires!
Um abraço amigo,
Ezequiel Sena

Anderson Oliveira disse...

Na rua Odilon Correia, onde morei e moram hoje meus Pais, passava diariamente uma loira bonita e sedutora, eu ainda criança, perguntei a Mainha quem era aquela mulher que abrilhantava meus olhos, e ela me falava que ela morava num Castelo. Um certo dia em meus passeis infantis a vi entrando numa casa juntamente com umas outras mulheres, e com o passar do tempo fui descobrindo o que realmente significava o movimento que ali existia. Hoje com essa nova crônica do Mestre Paulo Pires resgatou o meu passado, enriqueceu meu conhecimento e me fez sorrir.

Um abraço !

Anônimo disse...

vc mim fez voltar ao passado. Qundo eu era criança minha mae sempre dizia para que nao passasse nem perto desses dois castelos, colocava um monte de medos. Depois qdo fiquei adolecente, meu pai dizia nunca deixe fiazinha se aproximar de voces.Acho porque eu ser menina.Ele nao era muito claro nas suas explicações.Só sei de uma coisa, ele devia conhecer esse antro. Só sei que eu tinha medo dela. Toda vez que passava em frente ao castelo de areia, mudava de calçada.Apesar de uma certa vez quando faltava agua na cidade, tivemos que ir pegar na cisterna dela. Pois Sabará tava nervoso(bebedeira) nao deixou a viziança pegar da sua agua.

ate...

Anônimo disse...

Paulo,]

Jandira é uma que morava na av. amazonas ou manaus?
Se for, a filha dela(Marcia) foi minha colega de escola no primario.Gostava tanto dela! Deve ser por isso que meus pais quase mim batem por ter ido estudar na casa dela.
É realmente vc nos faz viajar...