terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Academia do Papo


Caetano Veloso e Tom Zé

A mídia nacional informa que neste último fim de semana o compositor Tom Zé em uma apresentação feita em São Paulo, gritou ao final do show que queria mesmo é que Caetano Veloso, seu velho amigo da Tropicália, fosse tomar no... copo. Apesar de hoje não nutrir a menor simpatia pelo Sr. Caetano (que já foi meu ídolo nos anos 60), repudiei a grosseria de Tom Zé e apenas fiquei encabulado porque a imprensa deu tanta repercussão. O fato não me surpreendeu porque já conhecia bem as grosserias dos dois. Em relação ao Tom Zé, então, nunca me surpreendi com o rabugento de Irará. Minha razão é óbvia e talvez até preconceituosa: nunca esperei grandes coisas dele. Prá mim ele é o típico artista que pensa uma coisa, mas por limitações técnicas, nunca realiza o que idealiza porque não sabe como e nem tem como fazer. A essa altura o leitor também já deve estar me tachando de grosseiro (principalmente os caetanófilos). Tudo bem, tudo bem. Eu não gosto de ser impolido, mas com esses dois [Caetano e Tom Zé] acho que todo castigo é pouco. O Tom Zé, em minha avaliação, parece que ultimamente piorou. Depois que um americano o colocou na crista da onda, o autor de São Paulo, Meu Amor, deu prá delirar e falar em “línguas” diferentes. O cara tá numa boçalidade espantosa.


O Caetano, por seu turno, parece estar mais maduro. Sinceramente, acho que se poliu um pouco mais. Ultimamente está “mais macio”. Fala com mais respeito das pessoas e, penso eu, começou a entender que ele não “é o centro do mundo”. O filho de dona Canô por pouco não chegou a dizer que a Terra sem ele não passava de um buraco negro. Ninguém discute sobre a importância de Caetano, sua contribuição estética, poética, cultural. Sem dúvida uma grande figura. E quem se lembra dele desde o início da carreira, há de recordar que a sua presença sempre se caracterizou como a de uma pessoa inteligente, astuta e interessante. Com o tempo, porém, começou a deixar dúvidas. A partir de determinado momento, começou a declinar. Isso se deu, creio, em razão de algumas idéias que o colocava como o mais narcisista de todos os artistas brasileiros. Ele se adorava. Um amigo, depois de alertado por mim, foi assistir a um show do moço de Santo Amaro, e quando saiu de lá disse que a minha leitura sobre a autolatria do autor de Alegria, Alegria era totalmente verdadeira. Fiquei aliviado.

O que me surpreende nessa história Caetano - Tom Zé não é falta de educação dos dois, mas sim a guerra de “egos” que sempre marcaram as suas personalidades. O Tom Zé nunca perdoou Caetano, porque este desde aquele famoso Festival da Record, foi coroado de sucesso de crítica e de público. Com Tom Zé foi justamente o contrário. A partir do momento que ganhou o mesmo Festival no ano seguinte, teve a sua vida artística mergulhada numa urucubaca que só havia um concorrente à altura: o time do Íbis de Recife. A coisa tava tão ruim para ele, que de vez em quando fiquei com a sensação de encontrá-lo catando papel perto da Vila Madalena ou na Freguesia do Ó.

Mas o que me surpreende mesmo é a extrema capacidade que os dois têm na promoção de espetáculos pouco construtivos. O Caetano, nascido em agosto de 1942 e o Tom Zé, que já passou dos 70 anos de idade (se não me engano nasceu em 1936), deveriam tomar mais tenência na vida e procurar coisas que harmonizassem melhor a ambos (já que eles são músicos). Eles precisam se entender. Você já imaginou uma briga entre Tom Zé e Caetano Veloso (vai ser uma guerra de plumas e paetês dos diabos!). Mas que nada! Os dois velhinhos querem mesmo é aprontar. Como são amigos há muito tempo, eles que se entendam. Depois vão sair entre tapas e beijos.

O tempo passa. Lembro desses dois rapazes chegando a São Paulo. Havia um terceiro chamado Gilberto Gil e uma moça de cabelos encaracolados chamada Maria das Graças (hoje conhecida como Gal Costa). Lá eles se juntaram a um grupo de jovens intelectuais paulistas e resolveram fundar um movimento musical chamado Tropicália. O mentor dos baianos era o Caetano. Da parte de São Paulo, quatro intelectuais sobressaiam: os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Zé Celso Martinez. Depois chegaram mais dois poetas. Um baiano chamado José Carlos Capinam e o maranhense Torquato Neto (que veio a se suicidar aos 27 anos em Copacabana, Rio de Janeiro). Nem Caetano, nem Tom Zé, tampouco Gil eram grandes músicos no sentido lato do termo, mas como nunca foram burros, trouxeram para as suas companhias ninguém menos que músicos do porte de um Júlio Medaglia, um Rogério Duprat e um Damiano Cozzela (três maestros) doidos para dar uma bagunçada na cena musical brasileira (e conseguiram!). Bem, o final, todo mundo sabe. Caetano e Gil foram expulsos pelos generais do golpe. O tropicalismo acabou e Tom Zé que nunca soube fazer música para o Povo, azedou com o Brasil e com o Povo brasileiro. A vida dele, pelo que dizem, era espinafrar a falta de educação da nossa raça. Por isso, dizia ele, não havia lugar para obras como a sua. Ultimamente ele voltou. Mas parece que não enterrou o ressentimento. Por onde anda, mete o pau em Caetano. Dizem que este último gosta. Você que é esperto, tire as suas conclusões. Um abraço cordial e até a próxima. Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR.


Um comentário:

Anônimo disse...

Se dupla fosse - forte dupla seria!J Dean