quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Efeito estufa expulsa sertanejo do campo


As cenas de sertanejos perambulando à procura de água numa terra esturricada pelos efeitos da longa seca que atingiu o Nordeste este ano, provocando situação de emergência em 360 municípios da região, tendem a se agravar até 2050 devido ao aquecimento global. Isso pode aumentar o problema do êxodo rural, com a expulsão de contingente expressivo da população do campo. É o que mostra o trabalho Migrações e Saúde; Cenários para o Nordeste Brasileiro 2000-2050, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e que será divulgado nesta quarta-feira, 26, em Fortaleza, durante o seminário Mudanças Climáticas e suas Implicações para o Nordeste.

Numa perspectiva de aumento de 4 graus centígrados na temperatura da Terra até 2050, devido ao efeito estufa, as conseqüências serão devastadoras para a agricultura, afetando não só grandes lavouras, como a da soja (que tem na Bahia o maior produtor do Nordeste, com 2,29 milhões de toneladas/ano), mas também as pequenas culturas de subsistência. As estimativas são que até o 2050 o Nordeste perderá até 11,45% do seu Produto Interno Bruto (PIB), o que equivale a dois anos a menos de crescimento da economia da região. Com oportunidades de emprego e geração de renda reduzidas na área afetada, devem ser expulsos do Nordeste pelos efeitos do aquecimento global, de acordo com o cálculo dos pesquisadores, 246.777 habitantes em 2040 (equivalente a 0,36% da população) e outros 236.065 habitantes (0,34%) em 2050.

PREJUÍZO – O calor deve reduzir muito as terras agricultáveis de quatro estados: o Ceará diminuirá sua área de plantio em 79,6%; o Piauí, 70,1%; a Paraíba, 66,6%; e Pernambuco ficará com menos 64,9%. A oferta de terras para a agropecuária na Bahia foi calculada em menos 29% no ano de 2050. Com a atividade econômica afetada, os estados que terão maior quebra do PIB, conforme o estudo, são Pernambuco (-18,6%), Paraíba (-17,7%) e o Ceará (-16,4%). A Bahia perderá 8,3% do seu PIB.

De acordo com o trabalho, “os agrupamentos de municípios com perdas populacionais mais significativas causadas pela migração até 2030 estão localizados nos estados da Bahia, Maranhão e Pernambuco”. Entre esses, “devem ter um fluxo migratório negativo as cidades na fronteira agrícola do oeste da Bahia e do sul do Maranhão, as localidades ao longo do Rio São Francisco na Bahia e sudoeste de Pernambuco, além de municípios do oeste do Maranhão”.

As projeções não consideraram os efeitos positivos e negativos do projeto de transposição do Rio São Francisco. Contudo, a transposição deve agravar ainda mais a situação, já que a pesquisa detectou um fluxo migratório nas localidades ao longo do rio com a vazão sem levar em conta a retirada de uma parte da água.

As conseqüências negativas do aumento da temperatura da Terra para o Brasil já foram avaliadas em outras duas pesquisas divulgadas este ano. A primeira indicou que o aumento o efeito estufa pode causar uma queda significativa na produção de energia renovável no Nordeste, atingindo principalmente o vetor hidráulico. A segunda pesquisa avaliou que o aquecimento pode afetar seriamente a produção de alimentos no País, resultando em prejuízos de até R$ 7,4 bilhões para o agronegócio em 2020, podendo alcançar a cifra de R$ 14 bilhões em 2070. As populações expulsas do Nordeste pelo calor vão se dirigir para a Amazônia e o Sudeste.

Biaggio Talento, da Agência A Tarde

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