quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Seca castiga zona rural de Vitória da Conquista


Juscelino Souza, A Tarde
Foto: José Silva – Agência A Tarde

Nem mesmo o valente boi suporta a voracidade da seca que se alastra por 80% das 284 localidades da zona rural de Conquista (a 509 km de Salvador), desde janeiro deste ano. O quadro afeta homens e plantas ao longo de mais de 60 quilômetros quadrados, transformando em cinza o cenário que até o final do ano passado era dominado pelo verde das lavouras de feijão, mandioca e milho.

De acordo com dados do Programa Saúde da Família (PSF), a população rural de Conquista, município de 308 mil habitantes, é de 63 mil moradores. A situação é mais crítica em Bate-Pé, distrito a 40 km do centro da cidade. No caminho para a localidade, uma cena dramática. Sem forças para ir em busca de água e alimento, o animal padece de fome e sede e morre aos poucos, caído num leito seco de um rio sob a ponte de acesso ao distrito.


Na maioria das demais localidades, a seca prolongada aflige animais e pessoas desde junho. Sem água para o gado bovino, os pequenos criadores são obrigados a tocar o rebanho pelo estradão, percorrendo mais de seis quilômetros, ida e volta, todos os dias. Para aliviar o sofrimento do sertanejo, carros-pipas a serviço do Exército e da prefeitura cruzam o solo árido para abastecer tonéis, tanques e reservatórios em 80% das residências da zona rural.

A água tratada é objeto de disputa de homens, mulheres e crianças. "A gente recebe 20 litros, mas só dá para três dias", conta o lavrador Valdenor Pereira Borges, 45. A água é utilizada moderadamente na pequena casa onde moram o lavrador e cinco filhos. "Quando acaba a gente vai pedir à vizinha, que tem um reservatório grande, mas nem sempre ela fornece", explica.

Assim que a seca começou a mostrar sua força, a prefeitura firmou convênio com a Coordenação de Defesa Civil do Estado (Cordec) para construção de 31 aguadas e cinco barragens de porte médio. O projeto, celebrado em julho, e orçado em R$ 600 mil está em andamento.

Casas abandonadas, aguadas secas e estradas intransitáveis significam que a ajuda veio tarde para muitas famílias. Na pressa em deixar o torrão natal, deixaram para trás escombros em adobe (tijolo cru) e até o padrão de energia elétrica marcando apenas 61 watts de consumo.

Nem mesmo o mandacaru (planta das mais características da caatinga nordestina e que serve de alimento ao gado na seca) resiste ao sol inclemente. Centenas deles secaram e se confundem com a sequidão do povoado de Lagoa de João Morais. Lagoa só no nome, porque a única fonte de água que chega ao lugar vem em tanque de carro-pipa.

A poucos quilômetros dali, o vaqueiro Tibúrcio Ribeiro de Queiroz, 56 anos, toca umas cabeças de gado para a aguada mais próxima. "Fica retirado três quilômetros de casa", informa. "O pasto acabou e só tem um pouco de água. Comida mesmo que resta é só a palma cortada, mas está escassa também". A rotina do sertanejo dura três meses, mas seu sofrimento remonta mais tempo. "Choveu um pouco no começo de fevereiro, depois nada mais", conta o paciente vaqueiro, que perde alguns minutos na viagem para resgatar um bezerro desgarrado que, sedento, sacia a vontade numa poça de água e lama. Na mesma região as constantes queimadas ampliam o drama da seca.


Um comentário:

Anônimo disse...

Não demais,dizer constantemente - sobre a necessidade de aumentar o potêncial hidríco de algumas represas e lagoas, e fazer poços artesianos!!!.A velha e conhecida história sai préfeito e entra préfeito e pouca coisa é acrescentada, principalmente nesses municipíos dos semi-árido baiano e nordestino de maneira geral!.Outro dia, lí uma mensagem de um blogueiro, sobre as lagoas, muito conhecidas de localidades próximas a cidade;Perí-Peri e Maria Quelemência - onde, o blogueiro, perguntava as autoridades, porque, não era dévidamente cuidado e aproveitado aqueles potênciais HIDRÍCOS. RGS(pesquisador).