sábado, 11 de outubro de 2008

Macário e a imprensa regional


Sâmia Louise, do Revertério
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“O jornal de interior precisa ser reinventado”. Esse é o diagnóstico aplicado por Jeremias Macário à mídia impressa de Vitória da Conquista e região. Jornalista formado pela FACOM em 73, Macário trabalhou no jornal A Tarde por 33 anos, sendo que em 91 veio para a surcusal de Conquista. Em suas atividades paralelas, encontram-se as publicações de dois livros: um de cunho mais literário, e o outro, o conhecido apanhado histórico sobre a origem, formação e embates da imprensa regional - A imprensa e o coronelismo no sertão do sudoeste - fruto de suas viagens como repórter.

Conhecendo de perto o funcionamento do jornalismo local, ele fala sobre a dependência dos jornais de interior em relação a grupos políticos. “O jornal impresso aqui está sempre refém da prefeitura pra sobreviver”, diz. O jornalista explica que, na maioria das vezes, o jornal faz um contrato com cerca de 4 ou 5 prefeituras locais, que lhes dá sustentação, enquanto ele veicula as notícias que recebe dessas prefeituras. Dessa forma, o meio de comunicação perde sua função social, e ao invés de atender à população, passa a atender aos interesses de alguns grupos minoritários. “A comunidade fica desinformada (…), totalmente alheia às questões que acontecem na prefeitura e na própria comunidade”, pontua.

Um dos motivos para essa dependência seria a falta de apoio do Governo do Estado, que através dos seus órgãos poderia dar espaço à imprensa de interior. Essa escassez de incentivos não deixa grandes alternativas para os veículos. Outra dificuldade encontrada é a questão cultural. Para Macário, o baixo nível de ensino no Brasil forma poucos leitores, que não compõem público para sustentar os jornais. Como exemplo, ele cita o fato de Salvador ter cerca de 7 bibliotecas públicas, o mesmo número que se pode encontrar em apenas uma rua em cidades da Argentina. E completa: “É uma vergonha”.

Para contornar essas dificuldades, ele enfatiza que os jornais impressos regionais precisam fazer a diferença em sua atuação. Primeiro, produzir uma informação de qualidade – deixar a utilização de releases (reproduções de notícias). Para isso, é preciso colocar repórteres nas ruas, para averiguar os acontecimentos, bem como para confeccionar reportagens mais profundas, que abordem não apenas o fato em si, mas todo o contexto que o cerca. Ele também vê a necessidade de regionalização das notícias, pois as informações a nível internacional, e até mesmo nacional, já são fornecidas suficientemente pela internet – principalmente com a multiplicação de blogs que se observa hoje. Eis o diferencial ao alcance do jornalismo impresso local. O esperado agora é que ele seja capaz de erguer seu braço, e tocar essa reinvenção.

Foto: Sâmia Louise.

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