quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Fogo consome áreas verdes da Chapada

Edson Borges, A Tarde


Enquanto o governo da Bahia decreta estado de emergência em 20 municípios da Chapada Diamantina, em razão de dezenas de focos de incêndio, brigadistas do Corpo de Bombeiros lamentam a falta de estrutura, desde transporte a ferramentas, para o trabalho de combate ao fogo. Apesar da situação se repetir todos os anos, ambientalistas, como a bióloga Laura Maliarenko, residente em Mucugê, afirmam que não há nenhum tipo de prevenção ou de fiscalização para evitar o problema.


Mucugê é um dos municípios mais afetados. Nos últimos três dias, o fogo destruiu grande parte da vegetação em volta da cidade, chegando ao ponto de atingir alguns quintais de residências. Solidariamente, os moradores enfrentaram as chamas e conseguiram evitar o pior. Eles reivindicam um combate mais efetivo do governo para o problema, que não é ocasional.

"Todo ano há reuniões de órgãos estaduais e federais que devem enfrentar a situação e sempre se repetem as mesmas promessas de oferecer infra-estrutura de fiscalização, prevenção e combate aos incêndios na Chapada Diamantina, mas tudo não passa de conversa", denuncia a bióloga.

O ambientalista Paulo Castilho, do Grupo de Defesa Ambiental Marchas e Combate, se queixa do reduzido número de brigadistas e carência de equipamentos como abafadores, bombas de água portáteis, facões e foices. Ele inclui ainda a dificuldade de transporte terrestre e aéreo. "O Ibama tem bombas d´água, porém necessita de mais mangueiras. As existentes somam cerca de 600 metros, quando precisamos de pelo menos mil metros", acrescenta.

Laura Maliarenko também denuncia que há inércia dos órgãos responsáveis em tentar descobrir e punir as pessoas que criminosamente causam os focos de incêndio. Ela destaca que algumas pessoas fazem as queimadas como um protesto contra a política de preservação imposta pelo Ibama, enquanto outras são piromaníacas.

Responsáveis – A bióloga acrescenta que os garimpeiros, os pecuaristas e os comerciantes de sempre-vivas continuam também sendo responsáveis pelos incêndios. No caso das sempre-vivas, é colocado fogo depois da colheita, para que as plantas rebrotem com mais rapidez.

"Quando cheguei na Chapada, há 8 anos, encontrei até uma cultura de tocar fogo na mata, nos morros, porque o incêndio proporcionava uma paisagem bonita durante a noite. É incrível, mas isto acontecia", lembra.

Os brigadistas lutam, inclusive, durante toda a noite, para controlar as chamas que se espalham com intensa rapidez. Os focos se multiplicam com as faíscas carregadas pelo vento. O fogo começa bem pequeno, mas logo as chamas crescem e vão devorando a vegetação seca pela falta de chuva.

"Sou de Mucugê, já presenciei vários incêndios, porém nenhum como o que aconteceu no fim de semana aqui na região. Nunca vi uma área tão queimada como agora", lamentou Adriano Paraguaçu, funcionário público municipal.

Nesta terça-feira, 28, pela manhã, ele estava na localidade conhecida como Capão, no encontro entre os rios Preto e Paraguaçu. O fogo destruiu uma grande parte da mata da margem direita do Paraguaçu e só não foi pior porque Adriano ainda encontrou um foco e apagou.

Decreto – O governador Jaques Wagner decretou situação de emergência em 20 municípios da Chapada Diamantina na sexta-feira passada. Segundo informações, a ação se deu em razão do agravamento dos incêndios que voltaram a atingir a Chapada desde o início deste mês. A maior parte da região está muito seca.

Até mesmo no Vale do Capão, no município de Palmeiras, onde a vegetação ainda está bem verde, começaram a aparecer focos, principalmente no povoado de Caeté-Açu.

Os moradores suspeitam que lá os incêndios estão sendo criminosamente espalhados, porque não há motivos para outras causas, como queimadas para abrir pasto.

Além de Mucugê e Palmeiras, dois dos 20 municípios incluídos em situação de emergência na lista, existe a constatação de que o fogo está se espalhando rapidamente em áreas dos municípios de Andaraí e Itaetê.

A comunidade está solicitando o envio de helicóptero equipado com o "bambi" (gigantesca bolsa que possibilita o despejo de água pela aeronave).

O Instituto Chico Mendes também chama a atenção para a gravidade do fogo no norte do Parque Nacional da Chapada, que se espalha pelo Morrão e Serra da Bacia, local de nascente de diversos rios e que ladeia um dos principais cartões-postais da região, o Morro do Pai Inácio.



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