segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Estréia o documentário 'Titãs, a Vida Até Parece uma Festa'


O documentário Titãs, a Vida Até Parece uma Festa, dirigido por Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves, parecia ter virado lenda. Desde 2002, Branco anunciava, com animação, sua nova empreitada nas entrevistas de divulgação de algum trabalho do grupo Titãs. Os anos foram se passando e nada do filme. "E o documentário, Branco?" Pergunta para a qual ele não ia muito além de um: "Eu e o Oscar ainda estamos em processo de edição das imagens."
Depois de seis anos, o longa-metragem musical está pronto. Já foi exibido no Festival do Rio 2008, em setembro, e poderá ser conferido pelo público paulistano de terça-feira, 28, a dia 30, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Sua estréia nacional está prevista para 16 de janeiro. A demora é compreensível. Um dos vocalistas e compositores dos Titãs, Branco vinha captando, desde 1986, imagens exclusivas de bastidores em viagens, estúdios, hotéis, shows e por onde mais passassem. "Foi quando consegui grana para comprar uma câmera", ele lembra. Explica-se: naquele momento, o grupo acabara de estourar com o disco Cabeça Dinossauro. Com o aval dos outros integrantes, o titã passou a registrar tudo. Começou com uma VHS, que carregava para cima e para baixo. "Eu sabia que sempre ia acontecer alguma coisa." Com o tempo, testou outros formatos, como Super 8 e mini-DV. Juntou cerca de 200 horas de filmagens ao longo desses 22 anos. Além desse material, ele e Oscar tiveram de editar 100 horas de imagens da banda em ação em programas de TV. Eles puderam contar ainda com a colaboração de amigos, que cederam cenas preciosas dos primórdios da banda, como a estréia oficial no Sesc Pompéia ou uma performance tosca no Lira Paulistana, em 82. No final, reduziram todas essas horas em 1h30 de documentário, após horas e horas de edição, realizada nos momentos de folga da dupla. "Não adiantava fazer esse trabalho separados, um precisava ouvir a opinião do outro", diz Oscar. Jornalista, um dos fundadores da MTV Brasil e diretor experiente, Oscar Rodrigues Alves surgiu no caminho de Branco Mello num momento providencial. Quando decidiu tocar o projeto, o vocalista tinha claro em sua cabeça o que queria contar, mas precisava da ajuda de uma segunda pessoa que não estivesse tão envolvida afetivamente com "as aventuras dos Titãs" como ele. Em 2002, Oscar dirigiu pela primeira vez um clipe da banda, Epitáfio, e o entendimento entre eles foi imediato. Para Branco, era o suficiente. "Era muita intimidade, imagens sem pudor, cenas de dentro do estúdio, do ônibus. Para compartilhar desse material, tinha de ser alguém de confiança." A dupla optou por fugir do formato tradicional de se fazer documentário, abolindo o recurso do entrevistado, sentado, falando sobre o Titãs diante das câmeras, ou um possível narrador. Os próprios integrantes contam essa história à sua maneira. Uma cronologia dos fatos é seguida, mas nada que os impeça de fazer um ziguezague na linha do tempo. Drogas, excessos, perdas e reviravoltas também fazem parte dessa aventura e Branco não deixou de contá-las. Garante que só descartou cenas pelo simples fato de não considerá-las relevantes e não por pudor em exibi-las. Quis que cada titã fosse bem representado no filme. Botou o dedo na ferida ao mostrar a morte de Marcelo Fromer, e as saídas de Arnaldo Antunes e Nando Reis - e o que teria levado a essas baixas. Expôs o clima de tensão que, certa vez, se instaurou entre Charles Gavin e o produtor Liminha em estúdio. Escancarou as pirações da banda, no auge da fama e da juventude, nos quartos de hotéis. Sem constrangimento, lembrou que os Titãs em início de carreira eram fregueses dos popularíssimos programas de auditório. Aquele grupo tido como underground desfilou seus penteados esdrúxulos, seus figurinos estapafúrdios e suas dancinhas ensaiadas nos palcos de Bolinhas e Chacrinhas da vida. Em uma cena hilária de arquivo, a banda desce até o palco da apresentadora Hebe, num programa de 84, e ela os acha umas gracinhas, todos comportadinhos de terno. De repente, leva um susto ao se dar conta que, de perto, eles não são assim tão normais. E pergunta, estarrecida: "Isso aí é punk?" Branco Mello encurta a conversa: "Isso é Sonífera Ilha." E soltam um play-back. "Acima de tudo, essa é uma grande história", acredita Oscar. "Se fosse ficção, com roteiro, seria impossível de criar. A história real é mais forte do que a ficção permitiria." Outras imagens inéditas que ficaram de fora do documentário devem abastecer um DVD, ainda sem previsão para ser lançado.
Adriana Del Ré, especial para o Estado


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