Valter Freire: algumas palavras
Recebi com alegria um comentário do meu amigo e compadre Valterci de Souza Freire. O Valter, que no inicio dos anos 70 nos colocou em uma aventura infanto-juvenil – o terceiro parceiro chama-se Nil - de morar e estudar no Rio de Janeiro, ainda mora naquela cidade, e creio, de lá não sairá jamais. Tornamos-nos compadres e eternamente amigos. Pois meu amigo, para não perder o costume atirou uma série de observações sobre mim, via comentários para um dos melhores blogs de nossa cidade. O comentário está no Blog do Anderson e eu me senti aliviado pelas críticas que ele me dirigiu. Todas são bem fundadas. Um dado que muito me impressiona na vida são as posições que tomamos no decorrer de nossas existências. Hoje a gente pensa de um modo, amanhã de outro e assim vamos levando.
Reitero que as críticas que ele me faz são todas procedentes, portanto não tenho motivos para contrariá-lo. Ele só esqueceu de dizer uma coisa: Sempre fui um anarquista. Não por doutrinação ideológica, mas por uma opção natural. Já nasci com o espírito anárquico. Nunca cri em nenhuma ideologia, nunca acreditei muito que coisas feitas pelo homem fossem instrumentos de salvação e tenho enorme desprezo por daquilo que se convencionou chamar “verdade”. Para mim a verdade nunca é verdadeira. Quer saber? Para mim, a verdade não existe. Do mesmo modo diria que a realidade não é real. Nada existe. Nós não existimos. Somo apenas um sonho. E prá ninguém ficar assustado, diria que existe gente mais radical ainda: Aquele tipo que adora transformar nossos sonhos em pesadelos! Preocupo-me apenas, como queria Goethe, transformar minha vida em obra de arte. Sei que isso é impossível. Mas tento. Quando consigo pequeno avanço fico satisfeito. E é por isso que de vez em quando me flagram em um Bar comemorando. Sei que isso também é ilusão, mas já que dizem que estou vivo, vou lá e mando bala.
Torno a repetir que não existo. Mas já que me vêem, penso também que existo (como disse o senhor Descartes: Penso, logo existo!). Minha única ocupação ultimamente é refletir sobre as ilusões. Hoje, com uma leitura razoavelmente melhorada em relação ao que pensava há quarenta anos, sinto-me mais aliviado. Vivo mergulhado em reflexões sobre as ilusões criadas pelo que dizem ser o mundo real. Prá ser sincero, não gosto da realidade. Prefiro ser iludido. Prá ser mais sincero ainda, adoro ser iludido. Penso que perder ilusão é encher a alma de tristeza. Não ser mais iludido é como perder a infância. Não quero minha alma triste. Portanto, preciso de ilusão, ou melhor, de muitas ilusões. Infelizmente, admito, a realidade me atrapalha. Não me sinto bem com a realidade. Sou um pequeno poeta condoreiro, escapista (Castro Alves ainda está em mim). Isso explica minhas fugas. Sou um daqueles classificados pelo Sr. Durkheimer como anômico. Isso tem me custado muito. Tenho pavor de não gostar de pessoas. Adoro o ser humano como gênero e quero admirá-lo como indivíduo. Embora reconheça ter por alguns desses indivíduos justificadas decepções. Ao mesmo tempo perdôo-os pelo enorme senso de tolerância. Também não escondo que provoco muitas decepções a quem me conhece. Sou humano. Só isso. Sinto que a coisa piora quando me conhecem mais de perto. A maioria percebe que não sou lá essa coca cola toda (ou, como queiram, ma Brastemp). Ainda bem! Nunca disse ou pretendi ser modelo prá ninguém. Se eu mesmo não sei quem sou, como poderia ser modelo para alguém?
Meu amigo Valter me critica sobre algumas coisas que pronunciei sobre política (leia-se Lula) dizendo não esperar aquilo de mim. Realmente as coisas mudaram muito. E nós mudamos também. Só que eu, que nunca esperei muita coisa de ninguém, não estou decepcionado com o Sr. Lula da Silva. Ao contrário. Lula fêz coisas que eu nunca pensei que ele tivesse tanto topete e competência para fazer. O homem fêz coisas que a maioria dos filhos da mãe que governaram este País, somados, nunca fizeram. No governo de Lula teve e tem maluquices? Bota maluquice nisso! Ainda assim, o Barbudo pelo que fêz de positivo para o Brasil e para o Povo Brasileiro, é o mais barato e o melhor presidente dessa Joça, juntamente com Dr. Getúlio (outro que também pensou nas desigualdades sociais, como o nosso maior flagelo). Portanto, meu caro amigo e compadre Valter Freire, quero lhe mandar minhas saudações e lembrar aquilo que disse o filósofo Heráclito: “Panta Rei, tudo muda, exceto a ambição!”. Um abraço do seu velho amigo e um beijão para todos (especialmente Aiza e Camila, minha afilhada). Continue me criticando que eu mereço. Até a próxima e um cordial abraço.
Paulo Pires
Professor UESB-FAINOR.
Recebi com alegria um comentário do meu amigo e compadre Valterci de Souza Freire. O Valter, que no inicio dos anos 70 nos colocou em uma aventura infanto-juvenil – o terceiro parceiro chama-se Nil - de morar e estudar no Rio de Janeiro, ainda mora naquela cidade, e creio, de lá não sairá jamais. Tornamos-nos compadres e eternamente amigos. Pois meu amigo, para não perder o costume atirou uma série de observações sobre mim, via comentários para um dos melhores blogs de nossa cidade. O comentário está no Blog do Anderson e eu me senti aliviado pelas críticas que ele me dirigiu. Todas são bem fundadas. Um dado que muito me impressiona na vida são as posições que tomamos no decorrer de nossas existências. Hoje a gente pensa de um modo, amanhã de outro e assim vamos levando.
Reitero que as críticas que ele me faz são todas procedentes, portanto não tenho motivos para contrariá-lo. Ele só esqueceu de dizer uma coisa: Sempre fui um anarquista. Não por doutrinação ideológica, mas por uma opção natural. Já nasci com o espírito anárquico. Nunca cri em nenhuma ideologia, nunca acreditei muito que coisas feitas pelo homem fossem instrumentos de salvação e tenho enorme desprezo por daquilo que se convencionou chamar “verdade”. Para mim a verdade nunca é verdadeira. Quer saber? Para mim, a verdade não existe. Do mesmo modo diria que a realidade não é real. Nada existe. Nós não existimos. Somo apenas um sonho. E prá ninguém ficar assustado, diria que existe gente mais radical ainda: Aquele tipo que adora transformar nossos sonhos em pesadelos! Preocupo-me apenas, como queria Goethe, transformar minha vida em obra de arte. Sei que isso é impossível. Mas tento. Quando consigo pequeno avanço fico satisfeito. E é por isso que de vez em quando me flagram em um Bar comemorando. Sei que isso também é ilusão, mas já que dizem que estou vivo, vou lá e mando bala.
Torno a repetir que não existo. Mas já que me vêem, penso também que existo (como disse o senhor Descartes: Penso, logo existo!). Minha única ocupação ultimamente é refletir sobre as ilusões. Hoje, com uma leitura razoavelmente melhorada em relação ao que pensava há quarenta anos, sinto-me mais aliviado. Vivo mergulhado em reflexões sobre as ilusões criadas pelo que dizem ser o mundo real. Prá ser sincero, não gosto da realidade. Prefiro ser iludido. Prá ser mais sincero ainda, adoro ser iludido. Penso que perder ilusão é encher a alma de tristeza. Não ser mais iludido é como perder a infância. Não quero minha alma triste. Portanto, preciso de ilusão, ou melhor, de muitas ilusões. Infelizmente, admito, a realidade me atrapalha. Não me sinto bem com a realidade. Sou um pequeno poeta condoreiro, escapista (Castro Alves ainda está em mim). Isso explica minhas fugas. Sou um daqueles classificados pelo Sr. Durkheimer como anômico. Isso tem me custado muito. Tenho pavor de não gostar de pessoas. Adoro o ser humano como gênero e quero admirá-lo como indivíduo. Embora reconheça ter por alguns desses indivíduos justificadas decepções. Ao mesmo tempo perdôo-os pelo enorme senso de tolerância. Também não escondo que provoco muitas decepções a quem me conhece. Sou humano. Só isso. Sinto que a coisa piora quando me conhecem mais de perto. A maioria percebe que não sou lá essa coca cola toda (ou, como queiram, ma Brastemp). Ainda bem! Nunca disse ou pretendi ser modelo prá ninguém. Se eu mesmo não sei quem sou, como poderia ser modelo para alguém?
Meu amigo Valter me critica sobre algumas coisas que pronunciei sobre política (leia-se Lula) dizendo não esperar aquilo de mim. Realmente as coisas mudaram muito. E nós mudamos também. Só que eu, que nunca esperei muita coisa de ninguém, não estou decepcionado com o Sr. Lula da Silva. Ao contrário. Lula fêz coisas que eu nunca pensei que ele tivesse tanto topete e competência para fazer. O homem fêz coisas que a maioria dos filhos da mãe que governaram este País, somados, nunca fizeram. No governo de Lula teve e tem maluquices? Bota maluquice nisso! Ainda assim, o Barbudo pelo que fêz de positivo para o Brasil e para o Povo Brasileiro, é o mais barato e o melhor presidente dessa Joça, juntamente com Dr. Getúlio (outro que também pensou nas desigualdades sociais, como o nosso maior flagelo). Portanto, meu caro amigo e compadre Valter Freire, quero lhe mandar minhas saudações e lembrar aquilo que disse o filósofo Heráclito: “Panta Rei, tudo muda, exceto a ambição!”. Um abraço do seu velho amigo e um beijão para todos (especialmente Aiza e Camila, minha afilhada). Continue me criticando que eu mereço. Até a próxima e um cordial abraço.
Paulo Pires
Professor UESB-FAINOR.
5 comentários:
Até mesmo os considerados ´sábios e inventores - conseguiram chegar aos seus objetivos,quando deram asas a imaginação e sonharam como crianças.Alguns exemplos;A. Santos Dumont,Isaac Newton,Júlio Verne,Kekulé e tantos outros!.RGS
Valeu Paulo, ninguém agrada a todos, nem Jesus foi capaz de conseguir isso. Quanto ao Lula, vejo como você, basta ser um pouco inteligente para entender que o nosso País é outro, tenha certeza disso! Quanto aos contrarios isso é apenas choro. Pra eles é bom voltar os asseclas da ditadura militar. Como o filhote da ditadura Color de Melo, seus comparças, e agora o neto ACM. Vamos parar por aqui. BOM MESMO É LER SUAS CRONICAS E DE OUTROS GRANDES DAÍ DE CONQUISTA - EZEQUIEL, LUDOVICO, JEREMIAS, FRANCISCO O RESTO É SUPAPO DE NEGO. UM ABRAÇÃO E CONTINUE. GERSON.
Amigo Paulo,
Lí a sua crônica sobre o Lula, como também, lí esta crônica, assim como, também lí o comentário do Valter Freire o seu amigo e compadre. Quer um conselho amigo? Precisas visitar mais os seus amigos, parentes e aderentes; quanto aos barzinhos, faça como o Lula falava no início da sua campanha: "todo brasileiro, no meu governo, terá direito a ir à um restaurante, a um bar ou à praia uma vez por mês!". Brincadeira!!! Risos... Quanto ao Valter seu amigo e compadre, está na hora de rever os seus(dele) conceitos. As mudanças acontecem, e devemos comemorar se elas são boas, mesmo que não seja para nós, mas, que sejam boas para as outras pessoas que nada tiveram em suas vidas, em acontecendo assim, já estarão satisfatoriamente boas para nós!
Abraços,
Francisco
Senhor Colunista,
Ultimamente eu venho lendo o seu e os artigos de seus colegas, eu diria até com uma certa assiduidade. Alguns bons, outros sofríveis. Mas no geral eu gosto de quase todos. Afinal aqui estão no blog do anderson para informar e desopilar o fígado.
Os seus artigos são bons - alguns cheiram a crônica, mesmo saindo semanalmente -,gostosos e divertidos; contudo o colunista peca pelo excesso de citações quando o artigo é mais sério: - ressuscita alguns autores e põe em evidência os vivos; mas como o articulista frisou, em artigo passado, "que é vaidoso", é portanto compreensível e aceitável, mas o leitor (qual o nome que se dá, leitor ou navegador?)desavisado nem sempre entende e digere com facilidade tanta gente importante apresentada em alguns de seus artigos(isto é, quando não fica embasbacado, deslumbrado, e empaca no que está lendo ao ver tanto nome ilustre do meio literário e mercadológico - quando o artigo é sobre economia).
Vamos com calma, senhor colunista!,pois escrever para si é uma coisa, para o público que navega nos blogs é outra.Por ser a Internet democrática, a linguagem textual tem que ser a mais coloquial possível, e óbvio sem desprezar a boa gramática, o bom português e um pouco de erudismo.
É evidente que citar autores guia e orienta o leitor na melhor compreensão da mensagem e também enriquece o texto; mas pecar pelo excesso de citações pra mostrar erudição - tomara que não seja o caso do colunista - faz com que, quem o lê, passe a vê-lo com reserva.
Enfim, o articulista tem que ter a sensibilidade de não cair no pedantismo. Como já escutei de alguém; "Esse rapaz,o Paulo Pires, escreve bem, mas as vezes não entendo por que ele fala de tanta gente que não conheço. Será que é mesmo necessário?". - Acredito que não.
Bem,senhor colunista, escreva também para os espiritos vulgares.
Armínio Arduz
Paulo, sua crônica repetiu exatamente o que acontecia em nossas intermináveis discussões nas mesas de bares, botequins de Laranjeiras, Flamengo, Botafogo etc, nos anos 70 e 80. Sempre gerava pontos de vista diversos, envolvia outros amigos e a discussão varava madrugada, mas acabava em paz, para retornar no papo do dia seguinte. Sim, você sempre foi anarquista, mas não era um Bakunin radical. Eu era mais radical. Acho salutar todo assunto que gera polêmica, pois assim as pessoas discutem, aprendem, mudam. O colunista Francisco, que gosto de ler e até já fiz postei comentário em uma de suas crônicas, falou que eu devia rever meus conceitos. Francisco, se você me conhecesse como meu compadre me conhece, veria como mudei. Militei muito contra a ditadura. Tive professores da faculdade presos, colegas desaparecidos, presos e torturados. Participei ativamente das campanhas pela anistia (levei uma cassetetada no lombo que me dói até hoje!), pela libertação da Flavia Schlling da prisão uruguaia, corri da polícia na Cinemateca do MAM quando da exibição forçada de “Encouraçado Potemkim”. Cheguei até distribuir o jornal Voz Operária, do partidão. Participei desde o inicio das campanhas das Diretas Já. Colocava minha filha no pescoço , pegava minha mulher e ia para todas passeatas e comícios daquele belo movimento. Quando Luiz Carlos Prestes chegou do exílio, eu estava lá, junto a centenas de pessoas enfrentando a policia, no aeroporto do Galeão a esperá-lo. Já maduro, levei meus filhos a passeata do “Fora Collor”. Votei e acreditei no Lula. Mas depois, assim como muitos outros, decepcionei-me com tudo que aconteceu no governo, quando a ética foi esquecida e por tudo que acontece aí. Em um comentário, o anônimo diz que o Brasil mudou. Mudou, sim. Como mudou o mundo e o Brasil, já com a casa arrumada pelo FHC, teve que mudar como mudou o Chile, Argentina, India etc ou ficava na contra mão da história. O muro de Berlim caiu. E caiu de podre, como caíram quase todas ditaduras. Então, amigos, mudei muito. Naquele tempo, eu sequer admitia tomar coca cola, de tão radical que eu era. Que besteira, hein? Existe uma coisa mais gostosa que um bom Big Mac? Ou tomar um vinho do porto escutando Diana Krall ou Rosemary Clooney? Existe coisa mais gostosa que assistir do Roger Waters? Em certo momento da minha vida, achava isso uma heresia, que isso era programa de burguês! Mas agradeço a Paulo a crônica, fiquei lisongeado e comovido pelas palavras. Em nenhum momento quis magoá-lo, aliás sempre tivemos algumas diferenças: você defendia Caetano, eu defendia Gil. Você defendia Edu, eu defendia Chico. Lembra do nosso papo de bêbado com Nelson Cavaquinho, enquanto Beth Carvalho (gostosíssima na época!), naquele botequim da rua São Clemente, em Botafogo? Também gostei da polêmica. Aliás, não é a primeira vez que provoco discussões devido a cartas, que volto e meia, escrevo para o Jornal do Brasil. Paulo, para concluir ou iniciar nova polêmica, na sua crônica você cita Getúlio Vargas e coincidentemente hoje, dia 29 de outubro, é aniversário da deposição do mesmo, colocando fim à ditadura do estado novo. Um grande abraço a todos.
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