Crise, Economia, Contabilidade, Ética...
Quinta feira passada (09/10/2008) estive na Rádio Melodia, a convite do jornalista Paulo Nunes, Programa Fala Conquista, para discorrer sobre a crise econômica internacional. Outrora não me dispunha a exercícios tão árduos. Considerava temas como ese terreno restrito aos Economistas. Todavia, diante do quadro atual e com a experiência que hoje tenho em termos de empresa, mercados, bolsas de valores, filosofia da história, história da filosofia e da Economia, me achei também no direito de dar os meus pitacos. Foi isso que fiz. Reconheço, para alívio dos Economistas, que não aprofundo (como eles) os assuntos. Evito isso, porque aprendi com o grande Ezra Pound que o mal de certos aprofundamentos é depois o sujeito não saber como sair de lá. O camarada às vezes mergulha tão fundo que ao final acaba percebendo estar indo apenas em direção às linhas assintóticas. Daí prá frente é o espaço infinito. E depois disso não haverá nenhum George Berkeley para dar a ele “o entendimento humano”, se é que isso também seja possível.
No início da entrevista alertei os ouvintes para o fato de não estar ali para explicar nada (explicar, nos conceitos da pesquisa científica, requer muita erudição). E eu, seguramente, não era a pessoa indicada para esse fim. O máximo que poderia fazer era comentar sobre o que estava vendo. Nem sobre o que está acontecendo poderia falar, porque não sei, nem ninguém sabe o que verdadeiramente está ocorrendo. Ou melhor, os malandros do Mercado sabem. Introdutoriamente fiz uma pequena referência ao surgimento das Bolsas de Valores (mas me esqueci de falar de como e quando elas surgiram no Brasil). Aqui elas foram instaladas em 1845 e regulamentadas em 1897, no governo de Prudente de Morais. Fiz um elogio inicial aos seus surgimentos, mas em seguida falei dos males que elas estão causando à Humanidade. A opinião não é apenas minha. O professor Kanitz da USP, em um artigo recente falou sobre a importância das Bolsas como alavancadoras de recursos no Mercado Primário. Ou, como dizem no jargão da Bolsa: IPO (pronuncia-se: ai, pi, ô). Que é o procedimento de lançamento inicial de ações para capitalização de empresas. Até aí tudo bem.
O inferno começa quando essas ações que foram lançadas no Mercado Primário começam a ser objeto de especulação dos oportunistas. Aliás, a bolsa, segundo um grande especialista, tem como protagonistas dois tipos de sujeitos endinheirados: Os investidores e os Especuladores. Sobre os últimos devem recair todas as maldições da humanidade. São eles os responsáveis pelo terrorismo financeiro que se espalha pelo mundo. Outro grande historiador de Bolsas faz uma distinção muito concreta sobre esses dois sujeitos. Como o espaço aqui é curto, é melhor deixar prá lá.
Na entrevista deixei bem claro que o mal não é a Bolsa, mas sim as deturpações que ela sofreu. No século XVIII, o Sr. Adam Smith (um dos homens mais odiados pelos marxistas) na melhor das boas intenções, defendeu a existência dessa Instituição [Bolsa] como uma das melhores invenções do homem civilizado. Claro, claro. Disso ninguém duvida. Mas a pergunta que agora fazemos é a seguinte: E por que hoje elas estão nessa condição horrorosa de Lobo Mau? Porque se perderam dos seus objetivos e acabaram caindo nas mãos dos malditos especuladores. E isso foi proposital ou não intencional? Eis aí mais uma pergunta.
O grande economista escocês pensava ingenuamente que os homens que iriam operar as Bolsas fossem sujeitos dotados de elevadíssimo sentimento Ético (ah, ah, essa foi boa!). Ledo engano. Diria que a coisa começou a falhar justamente a partir daí. Adam Smith, penso eu, era um sujeito repleto de boas intenções. Tão bem intencionado que em 1759 lançou uma obra cujo título era “Teoria sobre os Sentimentos Morais”. Ele pensava que o mundo financeiro ia ser dirigido por pessoas éticas e que as bolsas, por serem instituições que tomavam recursos da sociedade, jamais iriam se desvirtuar dos seus princípios e objetivos. Coitado do escocês...
Como a entrevista foi grande, posso resumir dizendo que externei minha perplexidade diante da ineficácia dos Organismos internacionais (FMI, ONU, GATT, Mercado Comum Europeu, etc.). E conclui fazendo uma mea culpa das Ciências (?) que estão envolvidas no processo de desvendamento da questão, ou seja: Economia, Contabilidade, Administração e Finanças. Cadê os nossos Sistemas de Controle e de Informações? Alertei para a questão da Mão Invisível do Mercado e sobre a falta de Regulamentação para ela. Todas as entidades têm responsáveis e/ou titulares (sejam países, empresas, famílias, ONG e o escambau). Por que só o Mercado se acha no direito de ser Invisível? Será que é para não ser controlado? Temos que identificá-lo, senão continuará bagunçando nossas vidas. Ao final da entrevista disse que a inexistência de Ética constituía-se como o cerne da questão. Os Malandros do Mercado se estivessem me ouvindo, certamente teriam dado uma estrondosa gargalhada. Diriam: Eis aí mais um abestolado falando de Ética. Pobre rapaz. Encerro convidando o leitor para o seguinte: Se você achar que vale a pena, ouça a entrevista no Blog do Anderson. Existem alguns recados elogiando e criticando meu pronunciamento. Bote o seu lá. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB – FAINOR.
Quinta feira passada (09/10/2008) estive na Rádio Melodia, a convite do jornalista Paulo Nunes, Programa Fala Conquista, para discorrer sobre a crise econômica internacional. Outrora não me dispunha a exercícios tão árduos. Considerava temas como ese terreno restrito aos Economistas. Todavia, diante do quadro atual e com a experiência que hoje tenho em termos de empresa, mercados, bolsas de valores, filosofia da história, história da filosofia e da Economia, me achei também no direito de dar os meus pitacos. Foi isso que fiz. Reconheço, para alívio dos Economistas, que não aprofundo (como eles) os assuntos. Evito isso, porque aprendi com o grande Ezra Pound que o mal de certos aprofundamentos é depois o sujeito não saber como sair de lá. O camarada às vezes mergulha tão fundo que ao final acaba percebendo estar indo apenas em direção às linhas assintóticas. Daí prá frente é o espaço infinito. E depois disso não haverá nenhum George Berkeley para dar a ele “o entendimento humano”, se é que isso também seja possível.
No início da entrevista alertei os ouvintes para o fato de não estar ali para explicar nada (explicar, nos conceitos da pesquisa científica, requer muita erudição). E eu, seguramente, não era a pessoa indicada para esse fim. O máximo que poderia fazer era comentar sobre o que estava vendo. Nem sobre o que está acontecendo poderia falar, porque não sei, nem ninguém sabe o que verdadeiramente está ocorrendo. Ou melhor, os malandros do Mercado sabem. Introdutoriamente fiz uma pequena referência ao surgimento das Bolsas de Valores (mas me esqueci de falar de como e quando elas surgiram no Brasil). Aqui elas foram instaladas em 1845 e regulamentadas em 1897, no governo de Prudente de Morais. Fiz um elogio inicial aos seus surgimentos, mas em seguida falei dos males que elas estão causando à Humanidade. A opinião não é apenas minha. O professor Kanitz da USP, em um artigo recente falou sobre a importância das Bolsas como alavancadoras de recursos no Mercado Primário. Ou, como dizem no jargão da Bolsa: IPO (pronuncia-se: ai, pi, ô). Que é o procedimento de lançamento inicial de ações para capitalização de empresas. Até aí tudo bem.
O inferno começa quando essas ações que foram lançadas no Mercado Primário começam a ser objeto de especulação dos oportunistas. Aliás, a bolsa, segundo um grande especialista, tem como protagonistas dois tipos de sujeitos endinheirados: Os investidores e os Especuladores. Sobre os últimos devem recair todas as maldições da humanidade. São eles os responsáveis pelo terrorismo financeiro que se espalha pelo mundo. Outro grande historiador de Bolsas faz uma distinção muito concreta sobre esses dois sujeitos. Como o espaço aqui é curto, é melhor deixar prá lá.
Na entrevista deixei bem claro que o mal não é a Bolsa, mas sim as deturpações que ela sofreu. No século XVIII, o Sr. Adam Smith (um dos homens mais odiados pelos marxistas) na melhor das boas intenções, defendeu a existência dessa Instituição [Bolsa] como uma das melhores invenções do homem civilizado. Claro, claro. Disso ninguém duvida. Mas a pergunta que agora fazemos é a seguinte: E por que hoje elas estão nessa condição horrorosa de Lobo Mau? Porque se perderam dos seus objetivos e acabaram caindo nas mãos dos malditos especuladores. E isso foi proposital ou não intencional? Eis aí mais uma pergunta.
O grande economista escocês pensava ingenuamente que os homens que iriam operar as Bolsas fossem sujeitos dotados de elevadíssimo sentimento Ético (ah, ah, essa foi boa!). Ledo engano. Diria que a coisa começou a falhar justamente a partir daí. Adam Smith, penso eu, era um sujeito repleto de boas intenções. Tão bem intencionado que em 1759 lançou uma obra cujo título era “Teoria sobre os Sentimentos Morais”. Ele pensava que o mundo financeiro ia ser dirigido por pessoas éticas e que as bolsas, por serem instituições que tomavam recursos da sociedade, jamais iriam se desvirtuar dos seus princípios e objetivos. Coitado do escocês...
Como a entrevista foi grande, posso resumir dizendo que externei minha perplexidade diante da ineficácia dos Organismos internacionais (FMI, ONU, GATT, Mercado Comum Europeu, etc.). E conclui fazendo uma mea culpa das Ciências (?) que estão envolvidas no processo de desvendamento da questão, ou seja: Economia, Contabilidade, Administração e Finanças. Cadê os nossos Sistemas de Controle e de Informações? Alertei para a questão da Mão Invisível do Mercado e sobre a falta de Regulamentação para ela. Todas as entidades têm responsáveis e/ou titulares (sejam países, empresas, famílias, ONG e o escambau). Por que só o Mercado se acha no direito de ser Invisível? Será que é para não ser controlado? Temos que identificá-lo, senão continuará bagunçando nossas vidas. Ao final da entrevista disse que a inexistência de Ética constituía-se como o cerne da questão. Os Malandros do Mercado se estivessem me ouvindo, certamente teriam dado uma estrondosa gargalhada. Diriam: Eis aí mais um abestolado falando de Ética. Pobre rapaz. Encerro convidando o leitor para o seguinte: Se você achar que vale a pena, ouça a entrevista no Blog do Anderson. Existem alguns recados elogiando e criticando meu pronunciamento. Bote o seu lá. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB – FAINOR.
Um comentário:
A crise parece se espelhar na literatura Dr Jekill (governo) e Mr Hyde (mercado) se confundem e se degladiam, assim como o criador e criatura, ou o dragão da maldade e dragão guerreiro. Enquanto isso, aqui o ex-comunista, ex-petista espera a bolsa crescer para ter de volta meu dinheirinho. Se fosse eleger a mala do ano, essa crise teria meu voto.
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