Paulo Ludovico
Um dito popular: "esse cabra é igual a peixe, morre pela boca". Todo mundo já conheceu alguém assim. E, pra lembrar (ou relembrar), não é preciso de muito rodeio, basta pensar um pouco... pronto, a imagem do brabo já está aí, batendo na memória. Morrer pela boca é aquele tipo que "tem opinião formada sobre tudo" e pra tudo. Na maioria das vezes, o indivíduo se acha dono da verdade. Numa prosa qualquer, surge a deixa, e o infeliz manda ver, palavras bonitas “chuviscam”. Mesmo sem que qualquer pergunta tenha sido feita, a danada da opinião "pipoca de lá". Doa a quem doer.
Outro dito popular: "pra esse sujeito ser considerado baixo, precisa crescer mais uns 30 centímetros". Essa é pros que se "esqueceram de crescer". É o famoso baixo. Aí, "mano véi", é história pra dois mil anos. Pra início de conversa, todo baixo é invocado, nojento (nojento no bom sentido, claro), cheio de nó pelas costas. Um "baixinho" (e por esse diminutivo é por onde começam os problemas) me confidenciou certa feita: "todos querem zombar de nós baixos. Só se referem a gente como... baixinho". E não é que o danado tem razão? Baixinho é de doer. Se baixo, já é baixo, baixinho deve ser um "baixo menor ainda". E os apelidos? Alguém vê um "baixinho", e é aquela festa: "tamborete de forró", "pintor de roda-pé", "anão de jardim". Esses são apenas alguns deles. Dizem até que se altura fosse dinheiro, sujeito baixo seria troco. Brincar com o baixo é prato pra toda hora. Aparece um deles e tem quem saia com uma dessas: "fulano é tão baixo que pra conseguir subir na calçada, só se atravessar a rua correndo". Não é sem razão que a maioria dos que têm baixa estatura passe a idéia de ser um sujeito "invocado". Esse temperamento, tendendo para agressivo, não é outra coisa senão uma espécie de autoproteção.
Pra nossa história ficar bem temperada, vamos juntar esses dois tipos numa só pessoa, o sabe tudo e o baixo. Melhor dizendo, o baixinho, pra deixar o cabra mais "invocado" ainda. A "mistura", isto é, o baixo falante, trabalhava (hoje deve ser aposentado) no Banco do Brasil, em Conquista, numa época em que só havia a agência central. Hudson é o nome dele. Um baixinho daqueles "invocados", que carregava, na época, a alcunha (apelido) de "cabo Oscar", por se parecer tanto com um militar de mesmo nome que atuou em Conquista. Nessa época, o gerente do BB era o "seu" Lima. Aliás, foi seu Lima quem primeiro acreditou no potencial cafeeiro da Região. Como gerente, ele abriu as portas do banco, e os (cofres) para aquela nova lavoura, lá pelo início da década de 70. Mas vamos voltar ao rumo da nossa prosa.
Houve uma época em que o Banco do Brasil estava promovendo a transferência de alguns de seus funcionários. Uns saíam daqui, outros terminavam por aqui, aqueles iam pra acolá. E, nesse clima de troca-troca, foi quando, um belo dia, chegaram para Conquista uns quatro ou cinco funcionários de outras localidades. Pra eles, já com a mão na massa, o expediente iria até as duas da tarde, quatorze horas, corrigiam sempre os mais compenetrados. Lá pela uma da tarde, chega pro seu dia de trabalho o nosso querido Hudson, o "cabo Oscar". Caixa, dos bons, ele pegou logo no batente.
Atende um daqui, outro dali (na época a coisa era mais complicada, não havia a ajuda da informática), vai até o arquivo conferir a assinatura de um cliente, brinca com alguém, diz uma "piléria" pra outro e, assim, começa, pra Hudson, aquele dia que não deveria ter existido. Observador como ele só, o "baixinho", de pronto, percebeu gente estranha no pedaço. Conter-se, pra não fazer um comentário qualquer, poderia ser comparado a um ato heróico, de sacrifício extremo. Colegas mais próximos até se afastaram dele, afinal, um comentário qualquer podia "pipocar de lá". E assim vai passando o tempo, Hudson, na sua rotina, examina uma ficha, confere um saldo, faz uma anotação, vai, de novo, até o arquivo, e pronto, está armada a encrenca. Ao seu lado, dois dos transferidos, um homem, à sua esquerda, e, à direita, uma mulher.
Feia de dar dó, pra voar só faltava a vassoura. Um palito que andava e, pra piorar o quadro, a divina era corcunda. As pernas eram um caso à parte, de tão finas, uma perna da meia-calça bastava. Metade desses "atributos" da dama já seria suficiente pros famosos comentários do velho Hudson. O espantalho, ou melhor, a mulher, depois de verificar a autenticidade de uma assinatura, volta pro caixa. Hudson não se fez de rogado, vira-se pro camarada à sua esquerda e diz:
- Amigo, umas transferenciazinhas, né?
O colega fez apenas um leve movimento com a cabeça. E Hudson continuou:
- Amigo, parece que os diretores do banco não gostam muito da agência de Conquista.
Você viu aquilo? Que mulher feia, de doer, mandaram pra cá?
O colega, com cara de poucos amigos, respondeu:
- Em primeiro lugar, não sou seu amigo e, em segundo, fique o senhor sabendo que ela é minha esposa.
Hudson perdeu completamente o rebolado. De tão enrolado, o primeiro impulso foi o de dar os pêsames pro sujeito, mas, refeito, saiu com essa:
- Moço, sua mulher é feia. Mas é gostosa!
Um dito popular: "esse cabra é igual a peixe, morre pela boca". Todo mundo já conheceu alguém assim. E, pra lembrar (ou relembrar), não é preciso de muito rodeio, basta pensar um pouco... pronto, a imagem do brabo já está aí, batendo na memória. Morrer pela boca é aquele tipo que "tem opinião formada sobre tudo" e pra tudo. Na maioria das vezes, o indivíduo se acha dono da verdade. Numa prosa qualquer, surge a deixa, e o infeliz manda ver, palavras bonitas “chuviscam”. Mesmo sem que qualquer pergunta tenha sido feita, a danada da opinião "pipoca de lá". Doa a quem doer.
Outro dito popular: "pra esse sujeito ser considerado baixo, precisa crescer mais uns 30 centímetros". Essa é pros que se "esqueceram de crescer". É o famoso baixo. Aí, "mano véi", é história pra dois mil anos. Pra início de conversa, todo baixo é invocado, nojento (nojento no bom sentido, claro), cheio de nó pelas costas. Um "baixinho" (e por esse diminutivo é por onde começam os problemas) me confidenciou certa feita: "todos querem zombar de nós baixos. Só se referem a gente como... baixinho". E não é que o danado tem razão? Baixinho é de doer. Se baixo, já é baixo, baixinho deve ser um "baixo menor ainda". E os apelidos? Alguém vê um "baixinho", e é aquela festa: "tamborete de forró", "pintor de roda-pé", "anão de jardim". Esses são apenas alguns deles. Dizem até que se altura fosse dinheiro, sujeito baixo seria troco. Brincar com o baixo é prato pra toda hora. Aparece um deles e tem quem saia com uma dessas: "fulano é tão baixo que pra conseguir subir na calçada, só se atravessar a rua correndo". Não é sem razão que a maioria dos que têm baixa estatura passe a idéia de ser um sujeito "invocado". Esse temperamento, tendendo para agressivo, não é outra coisa senão uma espécie de autoproteção.
Pra nossa história ficar bem temperada, vamos juntar esses dois tipos numa só pessoa, o sabe tudo e o baixo. Melhor dizendo, o baixinho, pra deixar o cabra mais "invocado" ainda. A "mistura", isto é, o baixo falante, trabalhava (hoje deve ser aposentado) no Banco do Brasil, em Conquista, numa época em que só havia a agência central. Hudson é o nome dele. Um baixinho daqueles "invocados", que carregava, na época, a alcunha (apelido) de "cabo Oscar", por se parecer tanto com um militar de mesmo nome que atuou em Conquista. Nessa época, o gerente do BB era o "seu" Lima. Aliás, foi seu Lima quem primeiro acreditou no potencial cafeeiro da Região. Como gerente, ele abriu as portas do banco, e os (cofres) para aquela nova lavoura, lá pelo início da década de 70. Mas vamos voltar ao rumo da nossa prosa.
Houve uma época em que o Banco do Brasil estava promovendo a transferência de alguns de seus funcionários. Uns saíam daqui, outros terminavam por aqui, aqueles iam pra acolá. E, nesse clima de troca-troca, foi quando, um belo dia, chegaram para Conquista uns quatro ou cinco funcionários de outras localidades. Pra eles, já com a mão na massa, o expediente iria até as duas da tarde, quatorze horas, corrigiam sempre os mais compenetrados. Lá pela uma da tarde, chega pro seu dia de trabalho o nosso querido Hudson, o "cabo Oscar". Caixa, dos bons, ele pegou logo no batente.
Atende um daqui, outro dali (na época a coisa era mais complicada, não havia a ajuda da informática), vai até o arquivo conferir a assinatura de um cliente, brinca com alguém, diz uma "piléria" pra outro e, assim, começa, pra Hudson, aquele dia que não deveria ter existido. Observador como ele só, o "baixinho", de pronto, percebeu gente estranha no pedaço. Conter-se, pra não fazer um comentário qualquer, poderia ser comparado a um ato heróico, de sacrifício extremo. Colegas mais próximos até se afastaram dele, afinal, um comentário qualquer podia "pipocar de lá". E assim vai passando o tempo, Hudson, na sua rotina, examina uma ficha, confere um saldo, faz uma anotação, vai, de novo, até o arquivo, e pronto, está armada a encrenca. Ao seu lado, dois dos transferidos, um homem, à sua esquerda, e, à direita, uma mulher.
Feia de dar dó, pra voar só faltava a vassoura. Um palito que andava e, pra piorar o quadro, a divina era corcunda. As pernas eram um caso à parte, de tão finas, uma perna da meia-calça bastava. Metade desses "atributos" da dama já seria suficiente pros famosos comentários do velho Hudson. O espantalho, ou melhor, a mulher, depois de verificar a autenticidade de uma assinatura, volta pro caixa. Hudson não se fez de rogado, vira-se pro camarada à sua esquerda e diz:
- Amigo, umas transferenciazinhas, né?
O colega fez apenas um leve movimento com a cabeça. E Hudson continuou:
- Amigo, parece que os diretores do banco não gostam muito da agência de Conquista.
Você viu aquilo? Que mulher feia, de doer, mandaram pra cá?
O colega, com cara de poucos amigos, respondeu:
- Em primeiro lugar, não sou seu amigo e, em segundo, fique o senhor sabendo que ela é minha esposa.
Hudson perdeu completamente o rebolado. De tão enrolado, o primeiro impulso foi o de dar os pêsames pro sujeito, mas, refeito, saiu com essa:
- Moço, sua mulher é feia. Mas é gostosa!
Um comentário:
Muito boa crônica - só faltou falar do aeroporto!.J Dean Pereira.
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