Festival de música Uesb-Petrobrás
Neste final de semana, participei mais uma vez como membro do júri do Festival de Música da UESB. Foi uma festa. Quinta, sexta e sábado, o público de Conquista teve oportunidade de assistir a um verdadeiro mosaico de manifestações estético-musicais vindo dos mais diversos lugares do País. Do Oiapoque ao Chuí chegou gente, tivemos concorrentes. Maravilha!
Festival é Festival. Todas as vezes que se reúnem artistas concorrendo a prêmios que envolvam recursos financeiros, certamente algumas discordâncias terão que ser computadas ao evento. Algumas mais discretas outras mais estridentes. O certo é que sempre haverá um pouquinho de frustração por parte de algum concorrente (exceto os premiados). Até aqueles que ficaram nos últimos lugares, no fundo no fundo dirão em casa que foram injustiçados, que suas músicas não foram bem avaliadas pelo Júri e que este era constituído por pessoas incompetentes, sem nenhuma qualificação para apreciar como deveriam, músicas de alto nível como as suas. De minha parte digo que o choro é livre. E acrescento que alguns compositores precisam aprender um pouco mais sobre a história da arte. A arte é livre, mas a liberdade artística compreende um conjunto de detalhes que se soma até formar uma unidade organizada no processo de criação. Quem sabe fazer coisas assim, obedece ao processo sintagmático de organizar sua arte. Nem todos possuem essa qualidade. Infelizmente.
Algumas pessoas confundem idealização com realização. Artistas como Tom Zé têm ideais de música muito interessantes, mas, por limitações técnicas visíveis, não realizam aquilo a que se propõem por causa de uma coisinha simples: Deficiência técnica e cultural. Em contrapartida, artistas como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti quando pensam música, fazem exatamente aquilo que idealizaram. São virtuoses em diversos instrumentos e como grandes mergulhadores do nosso Oceano Musical, quando emergem trazem verdadeiras pérolas da estética sonora. No festival observamos isso. Alguns autores trazem como propostas de trabalho alguns temas muito interessantes, mas o resultado final não atinge aos objetivos por razões múltiplas. Em muitos casos, observa-se que o compositor, apesar do esforço que empreendeu, não conseguiu o seu intento por lhe faltar ora cultura musical, ora cultura literária ou histórica. É uma pena!
Por questão de foro intimo não citarei nenhuma das incongruências (dissonâncias) que observei. Mas alguns temas foram até engraçados. O sujeito queria dizer uma coisa, mas o fazia com citações tão precárias que fui obrigado a dar-lhe nota abaixo do que gostaria. È impressionante como algumas coisas estavam fora de lugar. As dissonâncias mencionadas não são aquelas maravilhosas introduzidas na música clássica por um senhor chamado Claude Debussy, mas sim as que destroem o conjunto arquitetônico da obra e acabam por desviá-la do seu motivo (leit motiv, como diriam os alemãs).
O compositor popular precisa se aplicar mais no estudo da História da Arte para entender melhor o processo de criação. Em uma aula musical ministrada pelo nosso Elomar, na Fainor, o grande compositor disse que o sujeito precisa dominar certas técnicas de composição para poder expressar melhor suas ambições na conclusão da obra que está construindo. Concordo com o velho Bode. Está certíssimo. Neste sentido, lembro-me de um tema de Jobim intitulado Só Danço Samba. Em certo trecho da música o maestro diz que “já dancei twist até demais” e aí o grande Tom faz uma inserção ao piano de uma escala do ritmo twist que confere à obra uma incidentalização maravilhosamente referenciada. Ou seja, se ele citou o tal twist, tome-lhe twist na orelha!!!
Mas voltando ao Festival, diria que a Organização esteve impecável. O depoimento de todos os participantes (compositores, pessoal da Banda, público em geral, fornecedores, etc.) dá conta de como Carlos Moreno, Paulo Mascena, Dirlêi Bonfim e Chico Luz têm o Projeto bem estruturado. Na entrega do Prêmio ao campeão, Grupo Voz, a representante da Petrobrás parabenizou os organizadores e disse que Moreno (nosso Carlos), fosse até Salvador para vender o Projeto. E arrematou dizendo que Salvador precisava ser sacudida com evento da mesma categoria. Saiu do palco sob chuva de aplausos. Mas quem saiu ovacionado mesmo foram os três meninos do Rio Grande do Sul. Os caras logo na entrada firmaram uma empatia tão forte com a Platéia que fiquei até desconfiado se eles já possuíam Fã clube por aqui. Mereceram. Embora a música de minha preferência fosse outra. Deixa prá lá. Agora não é hora de chorar. Ano que vem tem mais. Quem não foi este ano, prepare-se para 2009. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR.
Neste final de semana, participei mais uma vez como membro do júri do Festival de Música da UESB. Foi uma festa. Quinta, sexta e sábado, o público de Conquista teve oportunidade de assistir a um verdadeiro mosaico de manifestações estético-musicais vindo dos mais diversos lugares do País. Do Oiapoque ao Chuí chegou gente, tivemos concorrentes. Maravilha!
Festival é Festival. Todas as vezes que se reúnem artistas concorrendo a prêmios que envolvam recursos financeiros, certamente algumas discordâncias terão que ser computadas ao evento. Algumas mais discretas outras mais estridentes. O certo é que sempre haverá um pouquinho de frustração por parte de algum concorrente (exceto os premiados). Até aqueles que ficaram nos últimos lugares, no fundo no fundo dirão em casa que foram injustiçados, que suas músicas não foram bem avaliadas pelo Júri e que este era constituído por pessoas incompetentes, sem nenhuma qualificação para apreciar como deveriam, músicas de alto nível como as suas. De minha parte digo que o choro é livre. E acrescento que alguns compositores precisam aprender um pouco mais sobre a história da arte. A arte é livre, mas a liberdade artística compreende um conjunto de detalhes que se soma até formar uma unidade organizada no processo de criação. Quem sabe fazer coisas assim, obedece ao processo sintagmático de organizar sua arte. Nem todos possuem essa qualidade. Infelizmente.
Algumas pessoas confundem idealização com realização. Artistas como Tom Zé têm ideais de música muito interessantes, mas, por limitações técnicas visíveis, não realizam aquilo a que se propõem por causa de uma coisinha simples: Deficiência técnica e cultural. Em contrapartida, artistas como Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti quando pensam música, fazem exatamente aquilo que idealizaram. São virtuoses em diversos instrumentos e como grandes mergulhadores do nosso Oceano Musical, quando emergem trazem verdadeiras pérolas da estética sonora. No festival observamos isso. Alguns autores trazem como propostas de trabalho alguns temas muito interessantes, mas o resultado final não atinge aos objetivos por razões múltiplas. Em muitos casos, observa-se que o compositor, apesar do esforço que empreendeu, não conseguiu o seu intento por lhe faltar ora cultura musical, ora cultura literária ou histórica. É uma pena!
Por questão de foro intimo não citarei nenhuma das incongruências (dissonâncias) que observei. Mas alguns temas foram até engraçados. O sujeito queria dizer uma coisa, mas o fazia com citações tão precárias que fui obrigado a dar-lhe nota abaixo do que gostaria. È impressionante como algumas coisas estavam fora de lugar. As dissonâncias mencionadas não são aquelas maravilhosas introduzidas na música clássica por um senhor chamado Claude Debussy, mas sim as que destroem o conjunto arquitetônico da obra e acabam por desviá-la do seu motivo (leit motiv, como diriam os alemãs).
O compositor popular precisa se aplicar mais no estudo da História da Arte para entender melhor o processo de criação. Em uma aula musical ministrada pelo nosso Elomar, na Fainor, o grande compositor disse que o sujeito precisa dominar certas técnicas de composição para poder expressar melhor suas ambições na conclusão da obra que está construindo. Concordo com o velho Bode. Está certíssimo. Neste sentido, lembro-me de um tema de Jobim intitulado Só Danço Samba. Em certo trecho da música o maestro diz que “já dancei twist até demais” e aí o grande Tom faz uma inserção ao piano de uma escala do ritmo twist que confere à obra uma incidentalização maravilhosamente referenciada. Ou seja, se ele citou o tal twist, tome-lhe twist na orelha!!!
Mas voltando ao Festival, diria que a Organização esteve impecável. O depoimento de todos os participantes (compositores, pessoal da Banda, público em geral, fornecedores, etc.) dá conta de como Carlos Moreno, Paulo Mascena, Dirlêi Bonfim e Chico Luz têm o Projeto bem estruturado. Na entrega do Prêmio ao campeão, Grupo Voz, a representante da Petrobrás parabenizou os organizadores e disse que Moreno (nosso Carlos), fosse até Salvador para vender o Projeto. E arrematou dizendo que Salvador precisava ser sacudida com evento da mesma categoria. Saiu do palco sob chuva de aplausos. Mas quem saiu ovacionado mesmo foram os três meninos do Rio Grande do Sul. Os caras logo na entrada firmaram uma empatia tão forte com a Platéia que fiquei até desconfiado se eles já possuíam Fã clube por aqui. Mereceram. Embora a música de minha preferência fosse outra. Deixa prá lá. Agora não é hora de chorar. Ano que vem tem mais. Quem não foi este ano, prepare-se para 2009. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR.
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