O Barão de Macaúbas
Naqueles idos de 1962, estudava eu aqui em Conquista no Colégio Barão de Macaúbas. Tinha bons colegas, boas imagens locais e ainda por cima, belas meninas em minha companhia. Resumindo: minha vida era um palco iluminado. O Barão era uma escola prá lá de gostosa. Para o amigo se situar, informo que o prédio ficava onde hoje está o Fórum João Mangabeira. No fundo havia um campinho. Este ficava onde construíram o SAC. É isso aí. Acrescento ainda que naquele tempo eu jogava um bom futebol, embora não chegasse nem perto de Gerson, irmão de Dio Padeiro. O camarada possuía um domínio de bola espetacular. Para não fugir à regra dos adolescentes, de vez em quando escapulia do Barão e ia à Escola Normal para ver os meninos que jogavam melhor que eu. Três eram simplesmente endiabrados. O primeiro chamava-se Ermi, o segundo Espríto (Carlos, atualmente motorista de táxi no Conquista Sul) e o terceiro Naldo. Dos três hoje sei do paradeiro de Carlinhos (que nunca fica parado, graças a Deus) e Naldo, que volta e meia encontro nas imediações da Rua Treze de Maio, próximo à Alfaiataria de Zoín (grande craque do futebol antigo de Conquista).
O último, Naldo, foi quem mais se destacou. Jogou no Conquista, no Cruzeiro, no América do Rio de Janeiro e outros clubes mais. Ermi, Carlinhos, Gerson e eu, não saímos das divisões de base. Descobri logo cedo que não seria profissional da bola. Isso se deu nos final dos anos 60. Estava jogando na preliminar de Conquista e Bahia, quando um lateral esquerdo, daqueles que consideram que do pescoço prá baixo tudo é canela, me deu uma chapuletada tão violenta que quando recobrei os sentidos pensei que tinha saído do Universo. O cara batia até na própria sombra.
A partir daquele dia ficou claro que jogar futebol não seria mais a minha missão. Comprei um violão e danei a cantar para as meninas de minha rua (e das ruas dos outros também). As meninas gostavam do meu repertório e eu me sentia um Waldick Soriano melhorado. O tempo passou e eis que de repente fui embora. Fui morar no Rio de Janeiro. Lá estudei, vi e venci (êta mentira!). Retornei à Bahia e ingressei na UESB. A cidade crescia e víamos claramente as necessidades de novos equipamentos. Um deles, claro, seria um novo Fórum. Nada mais recomendado que se fazer um novo centro administrativo para o Judiciário. Quem haveria de se contrapor a isso? Ninguém.
Mas o pior foi que acharam que quem deveria cair na marreta, era justamente o velho Colégio Barão de Macaúbas. Com tanto lugar para se fazer um Fórum, resolveram dar um cacete no meu colégio e mandar a minha, a nossa memória e um pedaço de nossa História para a Caixa Prego. Juro que quando passava ali e via os “ômi” cas ferramenta dirrubando o Barão a sensação que eu tinha era a mesma do velho Adoniran em sua inesquecível Saudosa Maloca: “Cada tauba que caía, doía em meu coração”. Por que fizeram aquilo com o Barão?
Não só pela nossa história pessoal, mas até em respeito a um dos mais proeminentes baianos – de Rio de Contas - não deveriam tê-lo posto abaixo. O respeito ao educador deveria ter primazia sobre qualquer necessidade administrativa. O Barão de Macaúbas era um sujeito importante, tanto que dois dos mais ilustres baianos nunca deixavam de homenageá-lo em sucessivas oportunidades. Os dois baianos, no caso, eram ninguém mais ninguém menos que o poeta Castro Alves e o jurisconsulto Rui Barbosa. O Barão recebeu este título nobiliárquico pelas mãos de Dom Pedro II em 1871 (ano da morte do autor de Navio Negreiros).
Só um pedacinho da biografia do Barão (nas enciclopédias) dá uma pequena mostra de sua importância: “Pedagogo e médico brasileiro nascido no município baiano de Rio de Contas, antigo Minas do Rio de Contas, um dos precursores do livro didático brasileiro. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro, RJ, onde se doutorou (1847). De volta à Bahia, como diretor da instrução pública estadual, trocaria a carreira médica pela atividade de educador e fundou em Salvador o Ateneu Barrense e o Ginásio Baiano (1858), em Salvador, responsável pela formação de grandes personalidades como Castro Alves (1847-1871) e Rui Barbosa (1849-1923)”. Curioso é que Raul Pompéia faz alusão ao Barão (cujo nome de nascimento é Abílio César Borges) em seu livro O Ateneu. Nesta obra há uma queima do Educandário. Aqui em Conquista não tocaram fogo. Fizeram pior: Derrubaram. Cadê o Barão de Macaúbas? Para piorar: O Fórum não consegue mais resolver a contento os nossos problemas e o que ficou foi à saudade do menino dentro da escola vestido de camisa branca e calça azul. Senhor tende piedade de nós e perdoai-os porque eles não sabiam o que estavam fazendo. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB - FAINOR
Naqueles idos de 1962, estudava eu aqui em Conquista no Colégio Barão de Macaúbas. Tinha bons colegas, boas imagens locais e ainda por cima, belas meninas em minha companhia. Resumindo: minha vida era um palco iluminado. O Barão era uma escola prá lá de gostosa. Para o amigo se situar, informo que o prédio ficava onde hoje está o Fórum João Mangabeira. No fundo havia um campinho. Este ficava onde construíram o SAC. É isso aí. Acrescento ainda que naquele tempo eu jogava um bom futebol, embora não chegasse nem perto de Gerson, irmão de Dio Padeiro. O camarada possuía um domínio de bola espetacular. Para não fugir à regra dos adolescentes, de vez em quando escapulia do Barão e ia à Escola Normal para ver os meninos que jogavam melhor que eu. Três eram simplesmente endiabrados. O primeiro chamava-se Ermi, o segundo Espríto (Carlos, atualmente motorista de táxi no Conquista Sul) e o terceiro Naldo. Dos três hoje sei do paradeiro de Carlinhos (que nunca fica parado, graças a Deus) e Naldo, que volta e meia encontro nas imediações da Rua Treze de Maio, próximo à Alfaiataria de Zoín (grande craque do futebol antigo de Conquista).
O último, Naldo, foi quem mais se destacou. Jogou no Conquista, no Cruzeiro, no América do Rio de Janeiro e outros clubes mais. Ermi, Carlinhos, Gerson e eu, não saímos das divisões de base. Descobri logo cedo que não seria profissional da bola. Isso se deu nos final dos anos 60. Estava jogando na preliminar de Conquista e Bahia, quando um lateral esquerdo, daqueles que consideram que do pescoço prá baixo tudo é canela, me deu uma chapuletada tão violenta que quando recobrei os sentidos pensei que tinha saído do Universo. O cara batia até na própria sombra.
A partir daquele dia ficou claro que jogar futebol não seria mais a minha missão. Comprei um violão e danei a cantar para as meninas de minha rua (e das ruas dos outros também). As meninas gostavam do meu repertório e eu me sentia um Waldick Soriano melhorado. O tempo passou e eis que de repente fui embora. Fui morar no Rio de Janeiro. Lá estudei, vi e venci (êta mentira!). Retornei à Bahia e ingressei na UESB. A cidade crescia e víamos claramente as necessidades de novos equipamentos. Um deles, claro, seria um novo Fórum. Nada mais recomendado que se fazer um novo centro administrativo para o Judiciário. Quem haveria de se contrapor a isso? Ninguém.
Mas o pior foi que acharam que quem deveria cair na marreta, era justamente o velho Colégio Barão de Macaúbas. Com tanto lugar para se fazer um Fórum, resolveram dar um cacete no meu colégio e mandar a minha, a nossa memória e um pedaço de nossa História para a Caixa Prego. Juro que quando passava ali e via os “ômi” cas ferramenta dirrubando o Barão a sensação que eu tinha era a mesma do velho Adoniran em sua inesquecível Saudosa Maloca: “Cada tauba que caía, doía em meu coração”. Por que fizeram aquilo com o Barão?
Não só pela nossa história pessoal, mas até em respeito a um dos mais proeminentes baianos – de Rio de Contas - não deveriam tê-lo posto abaixo. O respeito ao educador deveria ter primazia sobre qualquer necessidade administrativa. O Barão de Macaúbas era um sujeito importante, tanto que dois dos mais ilustres baianos nunca deixavam de homenageá-lo em sucessivas oportunidades. Os dois baianos, no caso, eram ninguém mais ninguém menos que o poeta Castro Alves e o jurisconsulto Rui Barbosa. O Barão recebeu este título nobiliárquico pelas mãos de Dom Pedro II em 1871 (ano da morte do autor de Navio Negreiros).
Só um pedacinho da biografia do Barão (nas enciclopédias) dá uma pequena mostra de sua importância: “Pedagogo e médico brasileiro nascido no município baiano de Rio de Contas, antigo Minas do Rio de Contas, um dos precursores do livro didático brasileiro. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro, RJ, onde se doutorou (1847). De volta à Bahia, como diretor da instrução pública estadual, trocaria a carreira médica pela atividade de educador e fundou em Salvador o Ateneu Barrense e o Ginásio Baiano (1858), em Salvador, responsável pela formação de grandes personalidades como Castro Alves (1847-1871) e Rui Barbosa (1849-1923)”. Curioso é que Raul Pompéia faz alusão ao Barão (cujo nome de nascimento é Abílio César Borges) em seu livro O Ateneu. Nesta obra há uma queima do Educandário. Aqui em Conquista não tocaram fogo. Fizeram pior: Derrubaram. Cadê o Barão de Macaúbas? Para piorar: O Fórum não consegue mais resolver a contento os nossos problemas e o que ficou foi à saudade do menino dentro da escola vestido de camisa branca e calça azul. Senhor tende piedade de nós e perdoai-os porque eles não sabiam o que estavam fazendo. Um abraço cordial e até a próxima.
Paulo Pires
(*) Professor UESB - FAINOR
6 comentários:
Quanto ao Gerson, irmão de Diu padeiro - Formou-se em teológia e por alguns anos foi pastor da Primeira Igreja Batista de V. da Conquista.Hoje o mesmo se encontra aposentado por motivo de doença.Contato- pastor Carlos Dias -30812239(nesta).RGS.
Paulo, Imprescindível!
joguei bola no barão também...quanta saudade, quanta lembrança!
Também estudei no Barão. Devo muito às Professoras Juraci, Margarida, Zefinha, Ivonilda, Zilá, D. Diomar (severa até em aula de religião). Lá aprendi a cantar o hino Nacional, da bandeira, de Conquista. Era ensino de primeira. Todo dia, pela manhã, lembro-me do Barão. Moro ao lado de um colégio no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, e o barulho das crianças correndo (por que gritam tanto?) me faz lembrar quando eu também gritava e era muito feliz. como feliz é essa lembrança.
Professor Paulo,
O Ermi hoje é funcionário do Banco do Brasil, trabalhou em Itapetinga e atualmente reside e trabalha em Salvador, foi Diretor de Esportes da AABB, e hoje me parece que é Vice Presidente,mas a sua vida é quase toda dedicada ao esporte.
Quanto ao Dio Padeiro, alguém tem noticia por onde ele anda? Gostaria muito de saber notícias do mesmo.
Muito obrigado!
Geraldo.
Essas crônicas do professor Paulo, além de interessante - Ainda, apresenta uma clara possilidade de reencontro dos amigos!! RGS.
Paulo, a cor do uniforme era calça cáquio e camisa branca, com o escudo com as iniciais EBM no bolso da camisa. A calça azul e camisa brana era da Escola Normal ou IEED.
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