quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Academia do Papo


Campanha sem sal

Ideologia é ideologia. Assim definiria a grande escritora Gertrude Stein lhe perguntassem o que é ideologia. Foi mais ou menos com esses termos a resposta que ela deu quando lhe perguntaram o que era uma rosa.. O que acho admirável nessa escritora é a sua inteligência para dispensar discursos teóricos enfadonhos que só os idiotas necessários têm coragem de expor. Coisas óbvias não se explicam. Elas mesmas se confessam pela superfície e pela profundidade.


Mas que diabo seria essa coisa chamada ideologia? Bem, isso é coisa para sociólogos, filósofos, historiadores e notórios cientistas responderem. Eu não sei de nada. Mas noto que por trás dos indivíduos há uma ideologia e que esta é a sua afirmação como membro individual e grupal de uma civilização. É a sua intransigente defesa do que pensa em relação ao mundo. O que ele aspira e quer desse mundo. Todos somos portadores de alguma bandeira ideológica. Vargas tinha a do Trabalhismo, Prestes a do Comunismo, Fernando Henrique a da Social Democracia, Perón a do Justicialismo, Sarney a do Incompetentismo e por aí afora. O fato é que todo mundo, mesmo os que não gostam de política, são porta-vozes de alguma.

O termo [ideologia] apareceu segundo um livrinho interessante da professora Chauí, por volta de 1809. A partir daí ficou estabelecido que a depender de certas defesas e visões do mundo, o sujeito estaria classificado em uma categoria sócio-política. Eu, durante muito tempo procurei me enquadrar em uma delas. Concluí recentemente que sou Marxista. Não no sentido do grande Karl Marx, mas no sentido de Groucho Marx (o humorista americano). Lamento não ter o talento do grande Groucho. Falta-me não apenas talento, como cultura também. Também é querer demais!

Noto também que a questão ideológica parece em decomposição. Os programas dos partidos trazem em seus conteúdos missão e objetivos rigorosamente iguais. Se tirarmos o nome do partido de todos os programas, verificar-se-á que eles são idênticos. Outrora se falava em esquerda, direita, centro, centro esquerda, centro direita. Hoje essa terminologia foi para o espaço. A própria mídia se incumbiu de deixar a sociedade totalmente enlouquecida. Diante disso a sociedade, bem ...

A sociedade por seu turno, parece estar fundando uma nova ideologia: A do reinado dos particularismos e o desejo do fim da política. Pelo menos é essa uma das conclusões a que chegou o grande professor Gilberto Dupas (Instituto de Análise de Conjuntura Internacional da USP). Este emérito professor (aclamado com grande reverência por outro colega notável, Alain Touraine, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais da Universidade de Paris - Sorbonne), disse que na transição para a pós-modernidade havia duas tendências para um novo mundo. A vertente que prevaleceu foi a norte americana que traz em seu bojo “a priorização de prerrogativas da personalidade civil estendidas às corporações, permitindo a elas exercer o direito de estabelecer relações contratuais”.

Hoje, o mercado e os mercados (dois conceitos diferentes) são detentores hegemônicos de um número enorme de concepções do mundo. Quase tudo é feito para e pelo Mercado. Ele agora é um Deus. Chegamos ao ponto de algumas instituições de ensino superior construir currículos para que os seus formandos “estejam inteiramente dotados de conhecimento exigidos pelo mercado”. Fornecedores, clientes, engenheiros, administradores, contadores, economistas (estes, mais que todos), só falam em Mercado. O capitalismo global é quem está na crista da onda. Nos últimos cinqüenta anos passamos a assistir de forma sistemática e coerente ao reagrupamento e à consolidação organizacional de todo tipo de interesses particulares e corporativos que obtiveram status de semi-oficialidade por meio de seu reconhecimento público, judiciário e midiático, afirma o professor Dupas. As corporações tornaram-se os sujeitos mais importantes da sociedade civil. Quase tudo no mundo contemporâneo é definido pelos interesses dessas grandes entidades privadas. No dizer do citado professor “elas se tornaram os atores mais importantes da esfera política e do espaço público da sociedade burguesa liberal”.

Pelo que estamos assistindo, inclusive na campanha política municipal, parece haver certo menosprezo por aquilo que deveria ser o evento mais importante de uma sociedade civilizada: A escolha de homens e mulheres para nos governar. Mas que nada! Êta nós! Um abraço cordial e até a próxima.

Paulo Pires
Professor UESB-FAINOR.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanto a globalização!.O resultado da "incorporação" - Capitalismo + comunismo = corporativismo comunista(?). J Dean Pereira.