Por Paulo Ludovico
pludovico@uol.com.br
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Clube de Regatas Flamengo ou, simplesmente, Flamengo.
Clube de Regatas Flamengo ou, simplesmente, Flamengo.
Conheço muitos que têm verdadeira adoração por esse clube. Ex-treinador do Flamengo, Gentil Cardoso, criador de máximas que até hoje persistem no futebol, como: "quem não faz, toma" ou "quem pede recebe, quem desloca tem a preferência", dizia que "ser Flamengo é o mesmo que ter uma religião" ou, ainda, "o Flamengo não possui camisa, e sim um manto sagrado". Gentil dizia também, referindo-se aos que iam fazer testes no Flamengo: "sei se alguém é bom jogador logo na chegada, no arriar das malas".
Confesso que já fui um torcedor mais "vidrado" pelo Flamengo. Hoje torço pelo clube, é claro, mas sem aquela empolgação de antes. Dizem alguns que, quem torceu pelo Flamengo na era Zico perdeu um pouco o amor pelo Clube, quando o Galinho de Quintino (apelido de Zico) deixou de jogar. É como, para nós brasileiros, a Fórmula 1 sem o Ayrton Sena.
Era um "arrepio" ver o Mengo jogar. Discutia-se apenas a que hora o gol sairia. Tínhamos sempre a certeza da vitória. O time era uma maravilha: Raul Plasmann, Leandro, Mozer, Marinho e Júnior; Andrade, Adílio e ele, Zico; Tita, Nunes e Lico. Essa foi a base do time que ganhou tudo a partir do finalzinho da década de 70 e na década de 80. Eram muitas as alegrias.
Júlio César Silva Santos (advogado bem-sucedido em Conquista) sempre vibrou com as vitórias rubro-negras e com as jogadas infernais de Zico. Falta perto da área, para o Galinho, era meio gol. E Júlio tinha um sonho, tirar uma foto com seu ídolo, Zico.
Passa o tempo. O Dr. Júlio, flechado pelo Cupido que fora, resolve se casar. E se casa. Erilza Carla é o nome da nova senhora Júlio César. A lua-de-mel é no Rio de Janeiro, claro, lá, na cidade do Flamengo de Zico. Júlio, até hoje, diz ter sido apenas uma coincidência, eu tenho cá minhas dúvidas. Uma bela tarde, numa dessas folgas nupciais no final da tarde, o recém-casado abre o jornal e vê na programação esportiva do dia: Flamengo e Madureira, à tarde na Gávea. O programa será aquele: ver o Mengo de Zico jogar.
Na Gávea, velhos flamenguistas, Carlos Eduardo Dolabella (falecido ator da Rede Globo), Flávio Costa (ex-treinador de futebol), Leônidas da Silva (craque do passado, inventor da bicicleta). E Júlio César lá, colado. Aquele jogo marca a volta de Zico, depois de uma séria contusão, provocada por uma jogada desleal (Zico ficou sem jogar por mais de um ano).
Final de partida. Se o Flamengo venceu ou se perdeu, é o que menos importa na nossa história. Entrevistas de final de partida, Zico é o centro das atrações (afinal, como foi a volta?). O campo fica vazio, todos somem para o vestiário. Júlio, ao lado de Carla na arquibancada, vê, dali, a oportunidade de tirar a tão sonhada fotografia, ao lado do ídolo, Zico. A porta que dá acesso ao vestiário está congestionada de torcedores. Um porteiro, que mais parece um armário 4 por 4, é senhor da situação, ninguém podia entrar. De repente, o 4 por 4 (o porteiro) ouve aquela voz de baiano do interior (será que existe?) num tom que é uma mistura de ansiedade e humildade:
- Posso entrar pra ver Zico?
O armário, digo, o porteiro, responde com cara de poucos amigos:
- Ver Zico o quê, rapaz. Vá sumindo daqui!
Júlio, sem alternativa, volta pra junto de Carla e fica de lá, olhando pra porta, vendo seu sonho desabar no mau humor do "negão". Uma tristeza só. O porteiro, certamente penalizado com a situação, faz um leve sinal, sugerindo que Júlio passe. E assim ele faz. Mais rápido que uma bala, nem o próprio porteiro viu.
Enfim, o vestiário. Jogadores famosos. Num canto, Renato Gaúcho conversa com Bebeto. Adílio se seca depois de uma ducha, Júnior, conversa com um companheiro, certamente passando sua experiência para aquele jovem zagueiro que acabava de ser promovido ao time profissional, o Aldair. E assim está o vestiário. De repente, vários repórteres, a luz e, no centro, o ídolo, Zico. Júlio César, com uma máquina fotográfica na mão (daquelas, ainda de filme), se aproxima e, com a mesma humildade que o levara até ali, pede a um repórter da Rádio Globo:
- Você pode tirar um retrato meu com Zico?
Tripudiam do pobre flamenguista:
- Qual é a tua, cara? Foto com Zico, o quê?
Zico, falando à TV, percebe o que se passa e logo após responder a uma pergunta, chama Júlio para junto de si e pede que batam a foto. O mesmo repórter que negara o favor antes, sem graça, pede pra “clicar” a máquina. Júlio é todo satisfação. Sai do pequeno campo da Gávea alegre. Uma alegria que aos poucos vira preocupação, quando percebe que havia comprado um filme "asa 100" e a máquina não estava regulada assim. Desespero total. Tanto esforço pra nada. Pode estar tudo perdido. Mesmo assim, vai a um laboratório, talvez preste alguma. Quem sabe? Uma hora depois, a moça do laboratório diz:
- Seu Júlio, perderam-se todas as fotos... menos essa aqui.
Júlio hesita por alguns minutos e, com o coração na mão, vê a foto que presta. Justamente ela, a foto com Zico. E, pra espanto da moça, diz, quase gritando:
- Quero 100 cópias!!!!!!!!
Até hoje, na sala de visitas, Júlio ostenta essa foto (ampliada ao máximo), tal qual um troféu.
4 comentários:
Muito bem vivida a história do grande amigo Julio Cesar. Meu saudoso pai foi daqueles flamenguistas doentes que se vivo estivesse ficaria encantado com um texto tão bonito quanto este. Parabéns Ludovico pela brilhante narrativa.
Ezequiel Sena
Paulo Ludovico é daquelas pessoas que agente considera muito. Colega do saudoso Colégio Batista, já naquela época evidenciava o seu induvidoso talento, bom aluno que era (e ainda é, posto estar concluindo, brevemente o seu tão sonhado curso de Direito - a Bahia, certamente, ganhará um brilhante advogado), a narrativa não me surpreende vez que sou conhecedor do seu induvidoso talento.
Nossa amizade é muito antiga, enriquecida ainda mais por passagens pelo Lions e Maçonaria.
O fato, de fato, ocorreu comigo. Mas o que é interessante é a capacidade de Paulo guardar, armazenar, a riqueza dos detalhes (a qualificação do filme da máquina, então, sem olvidarmos, do nome do adversário daquela partida), típicos dos grandes vocacionados para a brilhante arte de dissertar.
Parabéns amigo Paulo, DE VOCE SOMENTE ESPERO ESSAS PÉROLAS. Outrossim, não posso deixar de agradecê-lo vez que, no fundo, pra mim, é uma grande homengaem, não sei se poderei retribuir.
Forte abraço, e VIVA nosso MENGO.
Paulo Ludovico é daquelas pessoas que agente considera muito. Colega do saudoso Colégio Batista, já naquela época evidenciava o seu induvidoso talento, bom aluno que era (e ainda é, posto estar concluindo, brevemente o seu tão sonhado curso de Direito - a Bahia, certamente, ganhará um brilhante advogado), a narrativa não me surpreende vez que sou conhecedor do seu induvidoso talento.
Nossa amizade é muito antiga, enriquecida ainda mais por passagens pelo Lions e Maçonaria.
O fato, de fato, ocorreu comigo. Mas o que é interessante é a capacidade de Paulo guardar, armazenar, a riqueza dos detalhes (a qualificação do filme da máquina, então, sem olvidarmos, do nome do adversário daquela partida), típicos dos grandes vocacionados para a brilhante arte de dissertar.
Parabéns amigo Paulo, DE VOCE SOMENTE ESPERO ESSAS PÉROLAS. Outrossim, não posso deixar de agradecê-lo vez que, no fundo, pra mim, é uma grande homengaem, não sei se poderei retribuir.
Forte abraço, e VIVA nosso MENGO.
JÚLIO CEZAR.
Caro Anderson.
Como o comentário que fizemos acerca da crônica do Paulo Ludovico ficou anônima, peço-lhe o especial obséquio de apagar a primeira e salvar a última.
Forte abraço.
Júlio Cezar
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