quarta-feira, 2 de julho de 2008

Jairo: o artista de volta à sua arte


Por Mário Bittencourt , A TARDE

Morar no município de Barra de Mundo Novo (a 209 km de Salvador), onde nasceu em 12 de abril de 1947, sempre foi um incômodo para Jairo Lopes.

"Minha infância e adolescência foi boa. Cresci fazendo artes em cerâmica e artes em cipó. Uns tios meus que me ensinaram".

Mas isso era pouco para ele, que, aos 17 anos, resolveu ganhar o mundo e se mandou de mala e cuia para São Paulo, junto com um primo. "Fomos buscar dias melhores".
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A viagem foi uma aventura só. Com materiais que tinha produzido, ele e o primo foram vendendo e, com o dinheiro que ganhavam, adquiriam a passagem para seguir o rumo.


"As dificuldades foram muitas.

Tinha vez que não conseguíamos vender muita coisa e o dinheiro não dava paa as despezas. Quando isso acontecia, a gente pegava a grana e ia pra farra. Ia fazer o quê? Outro dia é outro dia".

Trajetória E no ritmo do carpe diem Jairo, e o primo chegaram a São Paulo e foram bater na casa de um parente distante, que não sabia que eles estavam a caminho. "Ao contrário do que nós esperávamos, eles nos receberam muito bem e nos encaminharam para uma usina de açúcar". Jairo, que conhecia a cana apenas pelo gosto, passou a saber como é plantá-la, cortála, moê-la e carregá-la.

Ficou nessa vida por quase dois anos, até que seu espírito inquieto sugeriu que ele fosse para outro lugar. Resolveu, então, "tocar a mula" para o município de São Carlos, e sozinho o primo se engraçou com um "rabo de saia" no meio do canavial, acabou virando pai e por lá ficou. Procurou fazer algo diferente em São Carlos, mas a época era da cana mesmo. "Não teve jeito: fui cortar cana de novo".

Mas eis que surge algo que fizesse os olhos de Jairo brilharem com mais intensidade, muito mais. Ele avistou Cleidiana, morena robusta, filha de um bóia-fria amigo dele e que usava um vestido rodado que chamava a atenção de Jairo.

"Ficava torcendo pro vento bater mais forte", conta Jairo, de forma sincera e bem-humorada. Uma conversa aqui, outra ali, uma piada, um sorriso, um beijo e, conseqüentemente, um filho.

Jairo ficou feliz e depois teve mais quatro crianças.

Entediado com o canavial, Jairo embarcou com a família para a capital paulista, onde trabalhou na construção civil, em tinturaria, sacarias "eu pegava cerca de 60 km de açúcar nas costas todos os dias" e, por fim, numa metalúrgica.

Entusiasmo Conta Jairo que se empolgou mesmo quando várias mulheres que trabalhavam na metalúrgica passaram a comprar o material artesanal que ele fazia. "Eram brincos, pulseiras, argolas, materiais de prender o cabelo, essas coisas. Me empolguei muito com isso e fiquei muito alegre', disse Jairo, que, depois disso, resolveu tomar uma decisão: virar hippie.

Largou o emprego, deixou o cabelo crespo crescer à vontade, trabalhou muito na elaboração de novos materiais e deixou a casa onde morava com a família.

"Mas eu ia e voltava. Certo que não demorava muito, mas eu ia ver meus filhos e saber como eles estavam. Minha parte de pai eu fiz. Ajudei muito meus filhos e eles hoje estão todos trabalhando e felizes", conta Jairo, com certo orgulho.

Livre de tudo e com muito material para vender, Jairo foi em busca da sua felicidade, percorrendo rumos que não eram ditos por ele, mas pelo destino. Dessa forma, passou por várias cidades até chegar em Vitória da Conquista (a 509 km de Salvador, no sudoeste do Estado), no ano de 1994.

Em Conquista, ele se tornou figura marcante em shows de reggae, onde aparecia sempre com uma imensa bandeira da Jamaica nas costas e um painel cheio de materiais artesanais prontos para a venda. Isso nos finais de semana, pois, de segunda a sexta-feira, ele fica na Praça Nove de Novembro, Centro de Conquista, a vender e fazer materiais artesanais. "Eu amo essa vida minha".

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