Por Jean Cláudio
Ele dobrou a esquina com 94 anos.
Ainda tinha gosto de putaria
Nas partes.
Falava palavras soltas
Que se emendavam no ar.
Eu atento, as respirava
E as atiçava no papel.
E o papel chamava e chama
Elas de poesia
Quando elas reunidas,
Untadas ainda sem sentido
Dentro da folha,
Que poderia ser verde,
Azul ou branca
Ou outra cor de mar em frente
Itapuã.
Untadas mesmo sem sentido,
Mais belas, mais aves,
Mais mar...
Um dia ele estava
Com os zoim percorrendo
A empregada nova.
Sentado em frente,
De pernas cruzadas
E os zoim correndo
Onde a empregada nova ia.
Perguntei na bucha:
O que o “sinhô está apreciando aí, pai?
Ele na bucha disse:
To apreciando o “restim” de minha vida.
E lá vinha a poesia me futucá novamente.
A mesma de antes.
Aquela que quando juntavam palavras
Que meu pai soltavam no ar.
Aquela, a mesma poesia
Que meu pai me ensinava sem perceber.
Dentro do “restim” da vida.
Mais belas, mais aves, mais pai.
O mesmo que dobrou a esquina com 94 anos.
E aí, pai! Como o “sinhô” vai?
Ele lá olhando o infinito
Bem frente ao mar na varanda,
Dizia:
To aqui entregue a “mamãe sacode”.
Eu ficava atônito
E recorria ao meu irmão
Gelbinho
Irmão sabido de verdade
Sabido das letras
Pedra e terra
Sabido de meu pai.
E aí, Gelbinho!
Por que pai chama a “veia da foice”
De “mamãe sacode”?
Meu irmão me enrolava
Com a sabedoria dele.
Sabedoria de pedra
Terra e pai.
E minha cunhada
No fundo só ria.
E lá vinha a poesia me futucá novamente.
A mesma de antes.
Aquela que quando juntavam palavras
Que meu pai soltavam no ar.
Aquela, a mesma poesia
Que meu pai me ensinava sem perceber.
Dentro do “restim” da vida.
Mais belas, mais aves, mais pai.
O mesmo que dobrou a esquina com 94 anos.
Menino ainda
Menino muito mais
Pois o olhar não mentia idade.
Outra feita:
E aí, pai! Como o “sinhô” vai?
E lá olhando o infinito
Bem dentro da varanda
Bem frente ao mar
E os passarinhos voando em volta
Voando dentro dos olhos
Voando na sabedoria
De um olhar menino,
Respondia:
Sei como é que tô não.
Naquele momento,
Mamãe sacode tinha dado um tempo.
Ou tinha ido em frente
Beber outra vida,
Molhar os pés no mar.
Um dia
Ele querendo beber uma coisa
Entrou no banheiro
E bebeu shampoo.
O povo correu para acudir
Pois a boca espumava
Espuma azul
E na boca nem cabelo tinha.
Principalmente a dele
Da cabeça aos pés
Tudo liso.
Tudo calvo.
Só não era calva a sabedoria de menino
Que ele carregava.
Sabedoria pura
Sabedoria de beber shampoo azul
Como o mar em frente
E o céu em cima.
Como o coração azul do poeta
Que eu carrego
E que não é meu
Veio de lá
Do coração vermelho de meu pai.
To escrevendo agora.
Do mesmo jeito
Que algumas lágrimas caem de meus olhos
Molhando a boca
Molhando o papel.
Escrevendo pai
Escrevendo meu coração
No coração lá dele.
Meu pai tinha um coração maior que tudo.
E que me desculpe o mar,
Mas o coração de meu pai
Era bem maior,
E tinha ondas também e banhavam as pessoas
Que chegavam.
Mulher?
Era a que ele mais queria banhar
De amor, carinho, afago, cafuné.
Minha mãe não gostava muito daquele amor estendido.
Mas meu pai não tinha jeito.
Era só chegar uma empregada nova
Que o “zoim” brilhava,
Pois o amor estava na memória.
Amor a gente nunca esquece.
A poesia não deixa
O menino que se alojou naquela morada
De 94 anos, também não deixava.
Ele tinha um coração azul,
Bem maior que o mar.
E tinha ondas também e banhavam as pessoas...
Cheguei à noite do trabalho.
E o povo me contou da estória do shampoo.
Fui lá perguntar:
E aí, pai? Por que o sinhô bebeu shampoo?
E ele lá olhando o infinito
Bem dentro da varanda,
Bem em frente do mar:
Mas, moço, qualquer um bebia.
Pois aquele shampoo todo azuzim
Era bunitim de mais.
Meu pai era assim.
Meu pai bebia shampoo
Pois o mesmo tinha a cor do mar
Tinha a cor do céu
Tinha a cor do meu coração
Que também é azul
A poesia é azul.
Tudo é azul
E meu pai muito mais...
Meu pai tinha um coração bem maior que o mar.
Eu sei disso
Ele sempre me diz em sonhos.
Talvez um dia eu volto a falar de meu pai.
Agora não dá.
Uma enxurrada no momento corre pela a face
Molhando a boca,
Molhando o papel
Molhando o chão
Mesmo ele estando na memória.
Eu sei que o amor a gente nunca esquece
Mas não controlo meu choro,
Uma saudade bateu.
Até logo mais.
JeanClaudio
08 e 09/05/08
Ainda tinha gosto de putaria
Nas partes.
Falava palavras soltas
Que se emendavam no ar.
Eu atento, as respirava
E as atiçava no papel.
E o papel chamava e chama
Elas de poesia
Quando elas reunidas,
Untadas ainda sem sentido
Dentro da folha,
Que poderia ser verde,
Azul ou branca
Ou outra cor de mar em frente
Itapuã.
Untadas mesmo sem sentido,
Mais belas, mais aves,
Mais mar...
Um dia ele estava
Com os zoim percorrendo
A empregada nova.
Sentado em frente,
De pernas cruzadas
E os zoim correndo
Onde a empregada nova ia.
Perguntei na bucha:
O que o “sinhô está apreciando aí, pai?
Ele na bucha disse:
To apreciando o “restim” de minha vida.
E lá vinha a poesia me futucá novamente.
A mesma de antes.
Aquela que quando juntavam palavras
Que meu pai soltavam no ar.
Aquela, a mesma poesia
Que meu pai me ensinava sem perceber.
Dentro do “restim” da vida.
Mais belas, mais aves, mais pai.
O mesmo que dobrou a esquina com 94 anos.
E aí, pai! Como o “sinhô” vai?
Ele lá olhando o infinito
Bem frente ao mar na varanda,
Dizia:
To aqui entregue a “mamãe sacode”.
Eu ficava atônito
E recorria ao meu irmão
Gelbinho
Irmão sabido de verdade
Sabido das letras
Pedra e terra
Sabido de meu pai.
E aí, Gelbinho!
Por que pai chama a “veia da foice”
De “mamãe sacode”?
Meu irmão me enrolava
Com a sabedoria dele.
Sabedoria de pedra
Terra e pai.
E minha cunhada
No fundo só ria.
E lá vinha a poesia me futucá novamente.
A mesma de antes.
Aquela que quando juntavam palavras
Que meu pai soltavam no ar.
Aquela, a mesma poesia
Que meu pai me ensinava sem perceber.
Dentro do “restim” da vida.
Mais belas, mais aves, mais pai.
O mesmo que dobrou a esquina com 94 anos.
Menino ainda
Menino muito mais
Pois o olhar não mentia idade.
Outra feita:
E aí, pai! Como o “sinhô” vai?
E lá olhando o infinito
Bem dentro da varanda
Bem frente ao mar
E os passarinhos voando em volta
Voando dentro dos olhos
Voando na sabedoria
De um olhar menino,
Respondia:
Sei como é que tô não.
Naquele momento,
Mamãe sacode tinha dado um tempo.
Ou tinha ido em frente
Beber outra vida,
Molhar os pés no mar.
Um dia
Ele querendo beber uma coisa
Entrou no banheiro
E bebeu shampoo.
O povo correu para acudir
Pois a boca espumava
Espuma azul
E na boca nem cabelo tinha.
Principalmente a dele
Da cabeça aos pés
Tudo liso.
Tudo calvo.
Só não era calva a sabedoria de menino
Que ele carregava.
Sabedoria pura
Sabedoria de beber shampoo azul
Como o mar em frente
E o céu em cima.
Como o coração azul do poeta
Que eu carrego
E que não é meu
Veio de lá
Do coração vermelho de meu pai.
To escrevendo agora.
Do mesmo jeito
Que algumas lágrimas caem de meus olhos
Molhando a boca
Molhando o papel.
Escrevendo pai
Escrevendo meu coração
No coração lá dele.
Meu pai tinha um coração maior que tudo.
E que me desculpe o mar,
Mas o coração de meu pai
Era bem maior,
E tinha ondas também e banhavam as pessoas
Que chegavam.
Mulher?
Era a que ele mais queria banhar
De amor, carinho, afago, cafuné.
Minha mãe não gostava muito daquele amor estendido.
Mas meu pai não tinha jeito.
Era só chegar uma empregada nova
Que o “zoim” brilhava,
Pois o amor estava na memória.
Amor a gente nunca esquece.
A poesia não deixa
O menino que se alojou naquela morada
De 94 anos, também não deixava.
Ele tinha um coração azul,
Bem maior que o mar.
E tinha ondas também e banhavam as pessoas...
Cheguei à noite do trabalho.
E o povo me contou da estória do shampoo.
Fui lá perguntar:
E aí, pai? Por que o sinhô bebeu shampoo?
E ele lá olhando o infinito
Bem dentro da varanda,
Bem em frente do mar:
Mas, moço, qualquer um bebia.
Pois aquele shampoo todo azuzim
Era bunitim de mais.
Meu pai era assim.
Meu pai bebia shampoo
Pois o mesmo tinha a cor do mar
Tinha a cor do céu
Tinha a cor do meu coração
Que também é azul
A poesia é azul.
Tudo é azul
E meu pai muito mais...
Meu pai tinha um coração bem maior que o mar.
Eu sei disso
Ele sempre me diz em sonhos.
Talvez um dia eu volto a falar de meu pai.
Agora não dá.
Uma enxurrada no momento corre pela a face
Molhando a boca,
Molhando o papel
Molhando o chão
Mesmo ele estando na memória.
Eu sei que o amor a gente nunca esquece
Mas não controlo meu choro,
Uma saudade bateu.
Até logo mais.
JeanClaudio
08 e 09/05/08
Um comentário:
Lindo e profundo como o mar.
Sensível e doce como o azul... do mar e do shampoo.
Emocionante e sincero como o poeta.
Inocente e Safado como o Pai.
Poesia, Poeta,Pai e Filho, uma coisa só.
Parabéns ao Poeata e ao Blog pelo momento e escolha felizes!
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