segunda-feira, 16 de março de 2009

Cafeicultura - Barra do Choça tem história

Juscelino Souza, A Tarde
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Os efeitos da situação crítica atingiram igualmente sede e interior do município de Barra do Choça, o maior produtor individual de café do Norte e Nordeste, e grande destaque nacional na produção de café de qualidade, ao lado de Piatã, na Chapada Diamantina.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar da estabilidade produtiva nos últimos 16 anos, com média de 350 mil sacas – equivalente a 20% da produção estadual, que é de 1,6 milhão, Barra do Choça perdeu 8.329 moradores em oito anos.

ÊXODO – Em 2000, o município tinha 40.818, contra atuais 32.489 habitantes. A culpa pelo êxodo é atribuída principalmente ao desemprego no campo. “Desde o ano passado que a cafeicultura vem sofrendo abalos, mais por conta do alto preços dos insumos e aí eu incluo a adubação”, comenta Ioza.

“Aí vem a crise mundial e apanha os cafeicultores com volume elevado de café em estoque e sem mercado comprador”, continua.

“Não podemos esquecer, também, que o quadro já era de dificuldade em 2006 e 2007 devido à falta de financiamento e juros elevados”.

Sem esperanças quanto à liberação de prometidos recursos estaduais na ordem de R$ 75 milhões para a cafeicultura, com ênfase na renovação de 30 mil hectares com mais de 30 anos e ampliação de área plantada de 136 mil para 150 hectares, os produtores agem por conta própria. O método mais barato tem sido a recepagem dos cafezais para rebrota.

Levantamento do Sindicato Rural Patronal de Barra do Choça estima em mais de 40% de lavouras velhas recepadas. Distante de tecnologias de ponta, todos mantêm viva a esperança de boa colheita em, no máximo, dois anos. (JS)

“A crise afetou a falta de liquidez e travou o mercado mundial.

O governo fala em marola.

Qual nada, está chegando é uma tsunami” Giano Brito, cafeicultor de Barra do Choça

Os efeitos da desaceleração cambial afetaram até a tradicional Semana do Café em barra do Choça.

Este ano, a região não promoverá aquele que seria a 12ª edição consecutiva do evento de alcance estadual.

“Mesmo assim, o pequeno produtor vai continuar cultivando café de qualidade. Ele pode até reduzir a produção, mas a qualidade não será afetada”, frisa o cafeicultor Israel Tavares Viana, o Ioza.

Antes da crise mundial, deflagrada no final do ano passado, a cafeicultura do Brasil já estava passando por um ajuste. Mesmo em função da recuperação dos preços do café em dólar nos últimos quatro anos, o câmbio ficou apertado de maneira que os cafeicultores não se aproveitaram dessa vantagem.

A observação foi feita por César Nery, fiscal do Ministério da Agricultura e um dos pioneiros da cafeicultura no Planalto de Conquista.

“O que existe hoje é um preço apenas razoável para aqueles que têm boa tecnologia e boa produtividade”, explica Nery.

“Para os cafeicultores, os preços atuais empatam com o custo de produção, mas, para a cafeicultura brasileira e, particularmente a da Bahia e a nossa aqui, não há como sobreviver com esses preços”, sustenta.

Precavidos, os produtores mantêm um olho na lavoura e outro no mercado financeiro.

“A gente não vê perspectiva nem otimismo em relação ao futuro da cafeicultura como um todo”, prossegue. “Claro que o café não vai desaparecer, mas não podemos esperar que essa seja uma cultura que dê satisfação e conforto aos produtores, como foi no passado, porque não existe uma política adequada para o café, nem garantia de preço”, assinala.

Como sugestão, ele recomenda aos colegas que se organizem em associações e cooperativas que funcionem para que este seja o diferencial de mercado, com café de melhor qualidade e produtividade a um custo menor. (JS)

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