segunda-feira, 5 de maio de 2008

ACADEMIA DO PAPO


Futebol: animais e dignidade

Destacada tenista do circuito internacional (Maria Emília ainda está no nacional) afirmou recentemente que “quando você ouvir alguém dizendo que no esporte não importa vencer; certamente essa pessoa perdeu”. Malgrado o respeito que a grande esportista merece, penso que o seu pensamento revela-se pouco tolerante com os perdedores. No esporte, como em muitas coisas na vida, todos devem aceitar que o título de campeão só pode ser conferido a um competidor ou a uma competidora. Seria extremamente ilusório e extremamente insípido se todos fossem contemplados com o título.

Aliás, uma coisa que me impressiona no karatê e no jiu jitsu é a quantidade de medalhas distribuídas aos competidores. Principalmente nos campeonatos infantis. Toda criança que conheço, até as que perderam, chegam em casa com uma medalhinha. Se por um lado isso possa ser visto como algo virtuoso no eixo das boas atitudes, sob o ponto de vista de inserir a criança no campo da realidade, creio ser uma das formas mais acentuadas de se promover o auto-engano. Ou seja, na cabeça da criança ficará a tênue lembrança de que “tanto faz ganhar quanto perder”, a sua medalha não deixará de receber. É uma atitude que promove equívoco, ilude e não ajuda a construir personalidades com percepção clara de justiça.

O final de semana no futebol brasileiro foi um mosaico de acontecimentos esquisitos. Primeiro, pelo grande número de goleadas. Segundo pelo comportamento que foi mostrado pelas emissoras de televisão de todo o País. Lastimável, por exemplo, os torcedores do Palmeiras, depois de uma vitória espetacular sobre a Ponte Preta, saindo pelas ruas de São Paulo, dando porrada, quebrando carros, linchando adversários e convocando pelos celulares torcedores dos “inimigos” São Paulo e Corinthians para participarem de uns combates de rua. Coisa animalesca. Evidente que essa onda vem de longe. Quem não se lembra dos Hooligans ingleses?

Alguns dos nossos jovens estão cada dia mais ridículos na imitação de coisas ruins que vêm de fora. Mário de Andrade, um dos maiores paulistanos de todos os tempos, dizia de certos intelectuais brasileiros que eles possuíam um grande fascínio pela “exposição sedentária de doutrinas alheias”. Pois alguns dos seus jovens conterrâneos parecem sentir um imenso desejo público de manifestar suas idiossincrasias destrutivas por intermédio da violência. É uma raça que, como diz o amigo Hilário, não vale uma cibalena. Como é que um cidadão sai de uma partida de futebol, seu time goleando e campeão e o sujeito ainda tem o desplante de descer o cacete nos outros, arrebentar carros e quebrar vitrines? É doido? Não tem mãe, não? A polícia deitou a borracha no lombo. Eu achei foi bom.

Enquanto isso, no Campeonato Baiano, devido ao nosso espírito festivo, os times finalizaram o certame dentro da mais desejável harmonia. O Conquista não foi campeão, mas chegamos perto. Mais um pouquinho de estratégia e sorte e teríamos aqui na Cidade o caneco de 2008 do Baianão. Elias Borges se saiu bem. Os jogadores idem. O presidente Ederlane não deve ficar casmurro com o desfecho. Afinal somos um time ainda de fraldas no futebol. Com mais um pouquinho de experiência a gente chega lá.

Na cabine da Rádio Clube, Tatu pela elegância que exibia parecia mais um embaixador da Zâmbia. Os óculos de professor da Universidade Harvard lhe caíram bem. Ele é um rapaz de boa aparência. Herzem o observou detidamente e disse: “Tatu tá parecendo um intelectual”. Ele sorriu largo, mas seu rosto logo transpareceu que estava doido prá entrar no jogo. Pena que o nosso artilheiro, justamente na partida final deixasse de lutar pelas nossas cores. Se estivesse no jogo, mesmo que não rendesse o que esperávamos, daria à zaga do Bahia um desassossego esportivo muito grande. Sua presença em campo funcionaria como a presença de El Cid, que mesmo arrebentado nos campos de batalhas da Espanha, provocava o maior medo aos árabes. Tatu é um guerreiro.

Mas o que chamou a atenção foi o espírito esportivo que reinou entre as torcidas. Ninguém se agrediu, se bateu. O máximo das agressões ficou no plano daquelas rimas sem vergonha que os torcedores inventam na hora e que rapidamente se transformam em canto de deboche para todo mundo: U, u, u, vai tomar caju. Beleza! Valeu a pena. Principalmente porque as torcidas demonstraram não haver ninguém com alma pequena. Um abraço cordial e até a próxima competição. Com a mesma dignidade.
Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR

Um comentário:

Anônimo disse...

Faltou uma voz de comando dentro do campo.Co certeza a história seria diferente.A torcida é dez.Um exemplo para todas as torcidas.RGS