quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A televisão fascina ou aliena?

Por Ezequiel Sena

Com o avanço da tecnologia nas últimas décadas, notadamente no campo cibernético, podemos assegurar que os ganhos foram inimagináveis em todos os sentidos da vida humana. Tanto no aspecto da ciência, como da informação, tornando as coisas mais instantâneas, e a mídia de modo especial abocanhou essas descobertas para o seu próprio soerguimento – há muito considerada o quarto poder. Os sinais de força são tão visíveis que, respeitadas as devidas proporções, ela interfere nas principais decisões da maioria das nações – noticiando, opinando, denunciando e até sentenciando o que acontece em qualquer parte do mundo. E a televisão conduz tudo isso como sendo o carro chefe por ter em seu repertório o fácil acesso e maior credibilidade.

É impressionante como a televisão influencia o nosso quotidiano, principalmente do ponto de vista comportamental. Não é novidade pra ninguém dizer que a televisão uniformiza a conduta de grande parte da sociedade. A programação que é exibida prende as pessoas de tal forma que se torna a responsável direta por uma pseudo-socialização. Na verdade, a TV é um meio de comunicação ditador de regras, modas e estilos que norteia os nossos hábitos e atitudes, enquanto a capacidade de persuasão dos programas informativos interfere até mesmo em nossas decisões. E o curioso é que nos tornamos indolentes frente a um arsenal publicitário que vai determinando tudo na vida das pessoas; qual o melhor, o conveniente, o ideal e mais proveitoso bem a se consumir.
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Na década de 60, um dos grandes estudiosos ‘mass media’ de destaque do século XX, o escritor e professor canadense Herbert Marshall McLuhan (1911-1980), considerado o profeta da eletrônica, criador do paradigma “aldeia global” elegendo a televisão como um meio de comunicação de massa; já alertava sobre uma compreensão que fugia a realidade de seu tempo, disse ele: “Esse fluido elétrico e onipresente que é a mídia levará a espécie humana a um estado de espírito mais compassivo e coletivo, ou nos transformaremos em criaturas indiferentes e mecanizadas”.
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Pois bem, a teoria visionária de Mcluhan para toda a área da comunicação, embora os críticos considerem contemplativas e utópicas, e por ser muito polêmico e irônico, sustenta em “o meio é a mensagem” uma lógica sintetizada em dois tempos – o da história e o do presente. Já que o progresso tecnológico fez reduzir o planeta à mesma situação de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nele vive como uma aldeia. E a TV como arte nobre se tornou fascinante. Para exemplificar, observe o comercial de uma determinada marca de cerveja, por excelência genial –, a narrativa de uma história que demoraria meia hora ou mais para ser contada, em questão de vinte ou trinta segundo é mostrada e compreendida de forma concisa, sintética e brilhantemente direcionada ao público alvo objetivado; de uma criatividade quase insuperável e a televisão tem o poder de apresentar isso de uma maneira sensacional!
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Por outro lado, mesmo reconhecendo que a TV foi uma descoberta extraordinária e que trouxe valiosos benefícios para a humanidade, é preciso ter logicamente, no mínimo, uma consciência crítica para encontrar caminhos que possibilitem a inibição dos reflexos causadores de repulsa e discórdia que ela pode causar. Pois, seria muita ingenuidade admitir que todo o conteúdo veiculado pelas emissoras televisivas traz somente a verdade absoluta.
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Naturalmente que com o tempo aprendemos a lidar com isso de forma mais amadurecida e menos alienante, mas nem sempre estamos conscientes desse absolutismo. Até porque, o que é ofertado pela televisão provoca o fascínio e isso tanto pode esclarecer como fragmentar a nossa opinião. O mais interessante é que, além da diversão, faz a gente pensar e analisar que nem tudo é como se avista ou se apresenta.
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Como diz aquele velho ditado popular ‘cada cabeça é um mundo’ e, em razão dessa complexidade, é quase impossível compreender as escolhas de cada indivíduo, principalmente quando seus múltiplos conceitos e ideais fogem ao controle. Contudo, eu acho que não nos restam alternativas, se não tivermos a sensibilidade e uma boa dose de ceticismo para saber separar o que é falso e/ou o que é verdadeiro de uma notícia manipulada, voltada unicamente para os interesses pessoais de quem detém esse quarto poder.
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Ezequiel Sena

3 comentários:

PAULO PIRES disse...

Caro Ezequiel Sena

Excelente seu artigo sobre a televisão. O problema nesse importante veículo de comunicação é a sua absoluta capacidade de alienar cabeças. Na década de 70 do século XX, um crítico americano chamou as pessoas "fissuradas" em TV de VIDIOTAS. Achei o maior barato. Parabéns pelo seu trabalho.

Paulo Pires

Anônimo disse...

Grande amigo, você é muito bom naquilo que faz. Parabéns!
Gil

Anônimo disse...

Sou formado em Comunicação (jornalismo)e seu artigo me fez lembrar do tempo em que fazia faculdade e tive o prazer de ter, entre as matérias,aulas de Comunicação Televisiva, e voce citar Marshal Mcluhan me deu uma ponta de saudosismo.

Parabéns pelo providencial artigo,

Jorge Marcos Sabino

Rio de Janeiro