sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Pensar o hoje, ou o amanhã?

Por Ezequiel Sena
.
A ciência tem proporcionado grandes proezas e amplia o nosso tempo aqui na terra. Coloca à nossa disposição modernas tecnologias para uma existência mais longa e saudável. Mas quem vai saber ao certo o que vai ser no futuro? A única coisa segura é que a vida é breve e tem um fim. Só não sabemos quando. Então é procurar viver mais um dia pelo tempo que for possível e atentar para o depois. É aí que entra a prudência das negociações para fazer do tempo um aliado, e não um inimigo. Como bem enfatiza o economista e filósofo Eduardo Giannetti Fonseca em seu livro “O Valor do Amanhã”. Por quantos anos vamos viver? E como será o amanhã? O que é mais vantajoso: desfrutar o momento ou cuidar do futuro? Isso agora ou aquilo depois? Dilemas assim brotam a todo instante no nosso dia-a-dia. O que comer? Como cuidar da nossa saúde, do nosso dinheiro? Qual a melhor carreira a seguir? De um lado, estão os nossos sonhos e desejos. De outro, as nossas possibilidades e fronteiras.

Em verdade, vislumbra-se à nossa frente à existência de um amanhã com inúmeras possibilidades. A vida ganhou em qualidade, prorrogando a juventude, sem com isso perder os benefícios da longevidade. Somos forçados a tomar ilimitadas decisões, algumas se encaixam no problema de escolhermos entre desfrutar o hoje ou esperar para experimentar no amanhã. Este estigma é essencial no percurso da nossa história e é explorado com profundidade pelo economista. A obra aborda os juros, mas de uma maneira superficial. O assunto é muito mais amplo que possa parecer onde os valores presentes e futuros medem forças de forma interligadas e se aplicam à alma de nossas preferências. Mais adiante ele resume: "os tempos mudaram e a vida é um intervalo finito de duração indefinida”.
.
Tem razão Giannetti. E é verdade, os tempos são outros até porque hoje a longevidade tornou-se uma realidade. No século XIX e principio do século XX envelhecer era um milagre, um sonho e talvez uma sentença cruel. Para se ter uma ideia, se não fosse a genialidade precoce de seus autores, a maior parte da nossa poesia romântica não existiria. O nosso poeta condoreiro Castro Alves deu seu último suspiro aos 24 anos; Álvares de Azevedo, com 20, Casimiro de Abreu, 21, e Junqueira Freire, 22. Contrariando o espírito da época, Fagundes Varela partiu aos 33 e Gonçalves Dias, considerado um ancião, aos 41.
.
De fato, a gente se entusiasma muito quando ler escritores dizerem de suas experiências e sucessos, embora reconheça que ninguém fala dos fracassos. Retardar o consumo atual para poupar e investir na produtividade pode render uma aposentadoria tranquila no futuro. Os recursos não caem do céu, e faz-se necessário uma escolha intertemporal entre o menos agora e o mais posteriormente. Hoje, mais do que nunca, a preocupação com o amanhã deve ser grande, como bem argumenta Gianneti; o mundo necessita mais da racionalidade da formiga que da impulsividade da cigarra. Sem nenhuma dúvida a poupança de hoje permite o consumo maior e melhor no amanhã. Talvez as pessoas não consigam internalizar isso: – pois o conforto do amanhã exige algum sacrifício do hoje.
.
O amanhã, apesar de ilusório, instiga a imaginação de poetas, escritores, compositores, bem como de toda gama de intelectuais. Para não fugir a regra vejam que preciosidade é esta composição de Guilherme Arantes: “Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria/Que se possa imaginar/Amanhã está toda a esperança, por menor que pareça/O que existe é pra festejar/Amanhã apesar de hoje/Ser a estrada que surge, pra se trilhar/Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam...” Pela essência e graciosidade da melodia e dos versos – o autor estava iluminado – é inclusive cantada em vários shows por distintos artistas, também gravada por Caetano Veloso e já serviu de tema de campanhas eleitorais de políticos, principalmente baianos.
.
Mas voltando ao tema, creio que não se pode ignorar tanto o passado quanto o futuro, pois são contemplativos e povoam a nossa memória, já que o hoje é o limite entre eles. Nessa linha de raciocínio, conclui-se que o esforço para qualquer indivíduo é incondicional, intemporal e imperativo. Pensar diferente no mundo atual não deve ser o caminho mais apropriado. O imediatismo é produzido em série e vem de máquinas, já a produção artesanal é bem mais lenta, mas em contrapartida o artesão produz arte e as máquinas apenas o descartável. Contrariar isso ou é imaturidade ou querer remar

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu grande amigo Seu Zica, você também é um iluminado pela inteligência que Deus lhe deu. Beijos Celeste Santos do BB

Anônimo disse...

Meu caro amigo Sena, o que acabei de ler é um despertar para poder avaliar as nossas limitações. Viver o hoje com intensidade é programar o futuro. O passado passou, o futuro depende apenas do construído aqui e agora e com dignidade,assim projeta-se o amanhã. Um grande abraço, Raimundo Cunha.

Alan Medeiros disse...

Grande Ezequiel, mais uma vez o seu texto nos leva a realizar uma reflexão sobre o ontem o hoje e o que pode ser o amanhã.

Abraços

Anônimo disse...

Tem muito tempo que não leio algo tão bom como o que acaba de escrever o senhor Ezequiel Sena.Quanta verdade!

Jose Silveira da Costa

Brumado