terça-feira, 25 de agosto de 2009

Eu ainda tenho memória

Por Afranio Garcez

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No dia 13 de Maio de 1978, o presidente nacional do antigo MDB, considerado o maior líder da oposição ao governo autocrático implantado no Brasil, em 31 de Março de 1964 estava na cidade de Salvador, a fim de dar continuidade ao movimento pela redemocratização do País. O Governador da Bahia era Roberto Santos, mas que mandava era Antonio Carlos Magalhães e os militares.

O governador autorizou que o comício fosse realizado, e garantiu a todos de que não haveria, como era de costume, nenhum tipo de repressão. A sede do MDB na Bahia ficava situada no Campo Grande. O velho guerreiro Ulysses Guimarães, mesmo antes de chegar à cidade de Salvador já havia sido alertado, de que o governador Roberto Santos não teria como manter a sua palavra, mas mesmo assim, ele nunca temeu enfrentar nenhum tipo de situação, principalmente a que viria ocorrer à noite. Os operários, estudantes universitários, secundaristas, os sindicalistas, a população em geral, estavam todos ansiosos por aquele momento. Naquela época eu residia na Rua Inácio Tosta, nº 68, no bairro de Nazaré, onde ficava a instalação do extinto CEUSC – Casa do Estudante Universitário e Secundarista de Vitória da Conquista. Já havia passado no vestibular, e começava a cursar Direito, na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. Lá também residiam os bravos Gélbio Melo, irmão do poeta Jean Cláudio, Ramiro Matos, parente do deputado Filemon Matos, Wilton Cunha, hoje um dos nomes mais sérios e competentes da política conquistense dentre outros.

A nós do CEUSC cabia convocar todos os integrantes das demais residências de estudantes, o que foi feito com uma perfeição ímpar. Também naquele dia estavam presentes em Salvador, os deputados conquistenses pelo MDB, Elquísson Dias Soares, e Antonio José Sá Nascimento, além de outros políticos de renome nacional, como Alencar Furtado, Freitas Nobre, e quase todos os deputados estaduais pelo MDB da Bahia, os que eram denominados “autênticos. Lembro-me ainda da presença comandando o seu sindicato do atual Governador da Bahia Jacques Wagner e de tantas outras personalidades. Os avisos que eram enviados a Ulisses Guimarães eram todos eles rechaçados, e o mesmo usava a seguinte frase para justificar a sua presença tão útil no processo de redemocratização do País: “Nós na temos armas. Sou Presidente do MDB e já percorri este País (oito) 08 vezes de cidade em cidade, cercado pelas multidões. Estive em Pernambuco os cachorros e os cavalos do governador Moura Cavalcanti, luz apagada, pedras na praça, quando realizávamos as nossas concentrações. Mas meus amigos, o MDB é como clara de ovo: quanto mais bate mais cresce”. O Campo Grande estava totalmente repleto, e após vários oradores se apresentarem ao povo chegava a hora de Ulisses fazer o seu discurso. Surge então a tropa de choque, com os seus cães, bombas de gás lacrimogêneo, e efeito moral, cassetetes elétricos, e a maioria da população de lá não arredou pé. Presos foram muitos, quem estava assistindo a concentração, e também quem apenas estava de passagem. Do alto do 1º andar da sede do MDB, Dr. Ulisses fez sua oração, citou a declaração universal dos direitos do homem, lembrou-se da data histórica 13 de Maio, dia da promulgação da Lei Áurea, prometeu a convocação de uma Assembléia Constituinte Nacional, e pronunciou a frase histórica:”Baianos, marchemos juntos para a vitória a 15 de novembro. Baioneta não é voto, cachorro não é urna” . E hoje, após a redemocratização do País, temos um democrata no Governo da Bahia, mas também temos no partido ao qual ele pertence figurinhas carimbadas como: JOSÉ SARNEY (ex-arena), RENAN CALHEIROS, FERNADO COLLOR, e se fala até mesmo em DELÚBIO SOARES. O PT não fará o seu sucessor, pois é um partido que está sendo destruído aos poucos pela falta de ética, faz hoje o que no passado condenava. Possuiu aliados da velha e triste “direita”, ou pessoas de passado duvidoso, e que pensavam que poderiam simplesmente apagá-lo da mente de milhões de brasileiros, com um simples “delete”.

Nossas instituições corre sério risco, e ainda há o resquício do coronelismo reinando em nosso País. Agora a história do “Fora Collor” se repete com o “Fora Sarney”.

Poe Afranio Garcez – Advogado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este artigo do Dr. Garcez retrata uma época de um passado não muito remoto, e que parece que foi hoje. Apenas há uma diferença, é que os escândalos políticos que avassalam o País são bem maiores e mais frequentes, o que parece ser a certeza de total impunidade. Uma ora se cria a censura que já foi derrubada pela Carta Cidadã, outra é a reunião incestuosa de SARNEY, COLLOR, RENAN CALHEIROS, FRANCISCO DUQUE e a tropa de choque que criaram para blindar o PT e suas eminências pardas. O Dr. Garcez escreveu um artigo que me fez ouvir a música "O Bêbado e o Equilibrista". Brilhante, verdadeiro e comovente. FRANCISCO AMARANTE.