sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Direto da Praça


Polêmicas, verdades, mentiras e mistério

O Brasil dos últimos dias viveu uma polêmica monumental. A ex-secretária da Receita Federal, srª. Lina Vieira disse que dona Dilma Roussef pediu a ela, em um encontro pessoal, que apressasse o processo de investigação da Receita contra o senador José Sarney e sua família. A ministra disse que nunca houve esse encontro muito menos um pedido dessa natureza. Isso foi o bastante para nossa imprensa se ocupar do fato e o Senado se viu obrigado a convocar dona Lina para depor. A ex-secretária insiste que houve, mas não soube precisar o dia, posto não usar uma agenda que registrasse o encontro. Pronto. O rolo se estabeleceu. Quem tá mentindo? Ambas afirmam estar dizendo a verdade. Embora as afirmações sejam frontalmente diversas. Seria possível existir duas verdades para um fato com assertivas diferentes? Uma flor é uma flor ou uma flor é um elefante? Pode haver duas verdade diferentes para o mesmo fato? Houve ou não o encontro? Uma diz que sim, a outra repete que não. E o bate boca está instalado. Quem é que está com a verdade? O que é a verdade?


Em 1912, o comunista Lênin, venerável senhor dos sonhos de uma sociedade igualitária, criou um Jornal chamado Pravda (que em russo significa Verdade). O Pravda reinou durante longos anos como porta voz da Verdade do povo soviético. De tanto falar a Verdade (?) Boris Yeltsin não o aguentou mais e mandou fechá-lo em 1991. O fato é que a verdade, no entender do velho Boris, não pode ser usada como um argumento exclusivo ou propriedade de ninguém. Se ela não for de todos, então deixa de ser verdadeira.

Em Filosofia - principalmente na Lógica - e na Matemática a verdade tem a sua aceitação ou não como objeto de intensa reflexão, por isso a civilização há séculos tem-na discutida e debatida. Mas é também na Política e na Vida Pessoal que suas raízes são mais profundas. Existem pessoas que mentem sem pudor. Algumas mentem com tanta dissimulação que chegam a pensar que as suas mentiras são verdadeiras. Millôr Fernandes, o grande, depois de refletir sobre a questão (verdade – mentira) concluiu que esta última pode se tornar verdadeira e com a ironia de sempre alertou: “Nunca diga uma mentira que jamais possa provar”. Ah, ah, ah, esse Millôr é genial...!

Mas não é apenas o grande Millôr que nos alerta para a questão da verdade. Euclides, um dos monstros sagrados da matemática (o Pai da Geometria) afirmava que todos os axiomas matemáticos eram verdades óbvias. Lamentavelmente o grande Euclides viu algumas de suas teorias irem por água abaixo no Século XIX, quando surgiram novas formulações para outras geometrias que não aceitavam mais algumas de suas postulações principalmente sua teoria das paralelas. A coisa piorou mais ainda no Século XX, com a Teoria dos Conjuntos, segundo a qual “o que é verdade em campo, pode não ser verdadeiro em outro”. Para agravar a situação apareceu o Teorema da Incompletude do senhor Kurt Goedel que afirma: “Nem todos os enunciados verdadeiros podem ser comprovados”. E um austríaco chamado Popper disse que para a ciência Deus não existe porque nesta fonte de conhecimento não há como provar sua existência. Durma-se com um barulho desses.

No Livro das Idéias do americano Chris Rohmann, no verbete sobre Verdade está escrito o seguinte: “A maioria das definições filosóficas da verdade tem-se fundamentado na idéia da “descrição correta”, embora exista muita discordância acerca do que constitui o “correto”. Foram propostas três teorias da Verdade. A mais intuitiva é a Teoria da Correspondência defendida por Thomas de Aquino como a correlação entre pensamento e objeto”, isto é, nossa idéia acerca de algo é verdadeiro se corresponder à realidade desse algo. A Teoria da Coerência apresenta uma objeção a essa teoria, afirmando que nossas percepções subjetivas podem não captar a realidade com precisão, segundo essa teoria, só se pode dizer que algo é verdadeiro se for compatível com outros elementos de um sistema conceitual coerente. Neste caso, voltamos às duas senhoras (Dilma e Lina). Ambas não são coerentes, portanto, como chegar à verdade se as duas estão mentindo? Por causa disso, ambas estão infelizes. E se estão assim, deveriam se lembrar de nossa tradição Cristã que assevera: “A verdade sempre liberta e promove a felicidade”. Lamenta-se, pois que o País tenha mergulhado em um debate tão medíocre. Outrora tínhamos polêmicas maravilhosas: Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro sobre a questão do Código Civil, Alberto Guerreiro Ramos e Luiz de Aguiar Costa Pinto sobre etnias, raças, antropologia. Mesmo na Política havia algo mais sedutor, como as “arengas” entre os senadores Paulo Brossard e Jarbas Passarinho (no famoso pinga-fogo do Senado), etc.etc.

Hoje assistimos a uma pobre querela que parece mais um trecho anti-literário do poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira: “Meu pai foi à guerra”, “Foi” “Não foi, não foi”. Na primeira estrofe o grande Poeta diz que os sapos saem da penumbra. No caso das duas, ao contrário, parecem querer enfiar o País num ambiente crepuscular. Chamem o Alfred Hitchcock - pai dos filmes de suspense - para desvendar o mistério! Como o homem está morto, apelemos para Deus: Ó Senhor, tende piedade de nós!

3 comentários:

Anônimo disse...

A mentira,pode surgir como uma brisa agradavel.Porém, a medida em que vai massificando-se,agigantando-se.Tornará em pouco tempo um grande furacão.Capaz de destruir os mais sólidos édificios.Tragando muitos indivíduos, no seu campo de atuação!.Alex B. da Silva.

Anônimo disse...

Caro Paulo,

Tempos atrás a bancada de oposição preparou o terreno para massacrar a Dilma sobre esta mesma palavrinha ‘MENTIRA’.

Agripino Maia tirou da cartola um depoimento para a polícia política da ditadura militar na qual Dilma reconhecera que MENTIA, MENTIA MUITO! Agripino tentou fazer uma relação entre o governo de que ela é ministra.

Recebeu uma das respostas mais contundentes da história do Senado: “Não é possível supor que se dialogue com pau-de-arara ou choque elétrico. Eu tinha 19 anos, senador. Fiquei três na cadeia. E fui barbaramente torturada.. Qualquer pessoa que ousasse dizer a verdade para o interrogador comprometeria a vida dos seus iguais, entregava pessoas para serem mortas. Eu me orgulho muito de ter mentido nos anos de chumbo, senador, porque mentir na tortura não é fácil. A dor é insuportável, o senhor não imagina quanto”.
Frisou, ainda, “naquele período eu era uma subversiva, lutava pela liberdade e o senhor era o governador do partido oficial, estávamos em momentos de vida muito distintos”. O senador, visivelmente amarelo de tanta vergonha reconheceu que o tiro saiu pela culatra, dissera depois que havia sido “mal interpretado”. Colegas do DEM e do PSDB responsabilizaram-no por ter virado o clima em favor da ministra.

Como agora a situação é bem diferente, porém os sintomas e as expectativa de um desfecho pizzaiolo não será novidade.

Um abraço,
Ezequiel Sena

AFRANIO GARCEZ disse...

Antes tínhamos, meu querido amigo Paulo Pires, polêmicas maravilhosas sim, como voce relata em seu sempre bem elaborado artigo. Temos ainda várias teorias a cerca do que é verdade, inlucusive uma das mais famosas que diz conceitua o que seja verdade absoluta, e verdade relativa. Mesmo negando Dilma Roussef mente, e se encaixa na teoria da verdade relativa, até mesmo, porque ao ler sua biografia, vê-se que é um caso perdido e repleto de um "curriculum viate" bastante comprometedor. Antes havia o bom gosto de se ouvir a música "Garota Nacional", mas esta foi maculada pela Ministra. Dormir com um barulho deste somente pode o senhor, o Ezequiel Sena, me incluou também, pois temos a justeja da verdade ao nosso lado. Mas que tudo vai terminar em pizza à lá Dilma, isso sim é fato. Afranio Garcez.