quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Academia do Papo


Um sujeito feliz

Pense aí em uma pessoa feliz. Pensou? Essa mesma: Sou eu. Explico: Tomei conhecimento da nova classificação sócio-econômica feita pelo IBGE. Sabe onde estou classificado? Classe média alta. Nunca pensei atingir nível tão elevado em minha vida. Classe média alta! Puxa! Como estou feliz! Ontem mesmo, andando pela Alameda Ramiro Santos (nossa principal Alameda) cumprimentava entusiasticamente as pessoas. Elas, evidentemente, não sabiam por que eu demonstrava tanta felicidade. Mas eu sabia. Agora estou quase no topo da sociedade. Estou inserido numa faixa da população que pode almoçar fora todos os dias, jantar todo final de semana também e viajar para Europa e Estados Unidos pelo menos uma vez de dois em dois anos. Além de poder trocar o carro por um novo a cada três anos. Isso é que é felicidade! Minha mobilidade social é muito maior do que a maioria dos meus compatriotas. Fiquei orgulhoso. Não é todo mundo que tem o meu status. Posso comprar um par de sapato de seis em seis meses e dar presentes de aniversário (de preços médios) pelo menos duas vezes ao ano. Sinceramente, nunca pensei estar em nível tão alto em nossa pirâmide social.



Hoje, ao acordar, olhei para o carro (que não é tão velho assim) e já senti vontade de trocá-lo. Lembrei-me do prezado amigo Antônio Roberto. É que um dia desses, estava eu estacionando em frente ao Estação Arte e por imperícia (e porque não dizer, umas canjibrinas a mais) dei uma “encostada” em outro estacionado no fundo do meu. O dono, muito delicadamente, se dirigiu para ver o estrago e constatou que a coisa não teve grandes impactos. Dispensou-me da “multa”. Antônio Roberto que estava com Raquel numa das mesas de frente, presenciou minha barbeiragem, aproveitou para dizer que isso ocorre com quem compra carros de baixa tecnologia. Claro que mencionou um dos carros – vendidos na Cambuí - que hoje indica a quantos metros ou centímetros estamos de outro que esteja em nossa “traseira”. Já fiquei interessado com o carro de Mundinho e Tonhe. Mas por enquanto, deixa prá lá. A não ser que eles me façam um preço bastante módico e me dê um prazo bem alongado. Nesse caso, compro até capim seco. Duas coisas alavancam o progresso: A preguiça e o crédito. É incrível, mas grande parte do progresso (desenvolvimento e tecnologia) tem como motivo principal a preguiça. Por causa da preguiça de andar o homem inventou coisas tipo carro de boi, charrete, automóvel, avião etc. Por isso temos que admitir que a mãe do progresso é a preguiça. Vejam o caso do controle remoto. Pensou? Quanto ao crédito, sou fã. Em todos os lugares passo cartão de crédito. Até no pipoqueiro, se ele bobear, passo-lhe o cartão. Não brinca comigo não!

Um dia desses, parei num vendedor de coco na Lagoa das Bateias e pedi dois cocos. Bebemos a água e depois bati a mão na carteira. Cadê a carteira? Cadê o cartão? Nenhum dos dois. Se não fosse a chegada providencial do nosso amigo Miguel Felício teria que deixar o carro penhorado. Mas Miguel pagou os cocos sorrindo e até hoje não paguei a ele. Nosso Secretário é gente boa e creio, já até esqueceu ou perdoou minha dívida. Obrigado amigo, mais uma vez. Esse negócio de não andar mais com dinheiro, tem me trazido alguns constrangimentos. De vez em quando passo por certos dissabores que nem gosto de lembrar. Devo atribuir isso ao fato de eu mesmo estar me considerando um sujeito importante (pura ilusão).

. Agora sou um cara da classe média alta. Não sou qualquer um. Claro que também não sou nenhum Sarney. Este, como disse o Presidente Lula, não é uma pessoa comum. E Lula, a despeito do desagrado que provocou em seus detratores, está certíssimo. Comparem o padrão e os referenciais sociais, político, econômico, patrimonial e histórico do Senador Sarney comigo, por exemplo, e todos constatarão uma brutal diferença. As pessoas não gostam de ouvir isso, mas o pior é que se trata de uma verdade (a verdade, palavra que não gosto, sempre dói).

Há muito tempo não ando com dinheiro. Creio que se encontrar uma nota de 100 reais na rua nem me abaixo para pegá-la. Não a reconheço mais. Um dia desses um vigarista pediu-me para trocar uma nota de 12 reais. Fiquei meio intrigado: Nota de 12 reais? Dizem que para um ladrão, um ladrão e meio. Para não fugir à “vigaristagem” perguntei-lhe como ele queria que eu trocasse a nota de 12: Duas de 6, três de 4 ou quatro de 3,00? O sujeito saiu em disparada e a última vez que o viram, estava descendo a Avenida Integração, justamente no ponto onde funcionava até recentemente a Cambuí. Tá pensando “que nóis é besta?”.

Mas é isso aí. Como hoje só dão valor a quem tem status. Desde ontem estou mais aliviado. Agora estou dormindo e fazendo muitos planos. Até uma bicicleta ergométrica estou pensando em comprar. O meu novo enquadramento sócio-econômico permite eu receber pessoas em casa, enquanto faço exercícios na bicicleta. Vi isso num filme americano e achei muito charmoso. Foi o professor Hilário quem me aconselhou. Como diria Mário de Andrade: A gente não perde a mania de imitar a burguesia européia e americana. Mas que é bacana, é. Bom final de semana, um abraço cordial e até a próxima. Paulo Pires
Prof. UESB-FAINOR.

5 comentários:

Anônimo disse...

Meu amigo Paulo,

Você realmente é um brincalhão e malabarista das palavras. Para não fugir à “vigaristagem” rs,rs,rs, continuarei entre aqueles que admiram o que você escreve.
Um abraço,
Ezequiel Sena

Anônimo disse...

Caro Ezequiel,

Meu amigo e vizinho

Grato pelas observações.

Paulo Pires

Anônimo disse...

Não posso discordar do eziquiel, o professor Paulo é brincador com as palavras, e é gente muito boa. Não sei como ele faz para inventar tanta coisa. É um genio. Também eu me amarro em ler tudo que ele escreve.
Obrigado a todos. Oduvaldo Sant'ana - VADÃO.

AFRANIO GARCEZ disse...

Meu Caro Professor Paulo Pires, a sua situação sócio-ecônomica e financeira, desta forma já está resolvida, e eu curioso em apreender inda mais com tão ilustre lente gostaria de saber da opinião do filósofo "Cansadinho". Mestre queira aceitar os meus parabéns, por mais este belo, excelente artigo, que serve até mesmo para desopilar fígado de bêbado. Abraços. Afranio Garcez.

PAULO PIRES disse...

Caro Afrânio Garcez

O filósfo Cansadinho está viajando e não pude comentar com ele sobre minha situação. Mas creio que ficará contente. Como é um sujeito muito esperto, certamente me convidará para uma rodada de cervejas com picanha e tudo, sendo eu mesmo o pagador da conta. Depois me cumprimentará pela classificação.

Saudações

Paulo Pires