sexta-feira, 13 de março de 2009

Glauber Rocha e o seu histórico


Glauber Pedro de Andrade Rocha, nasceu no dia 14 de março de 1939, na rua da Várzea, hoje, rua 2 de Julho, nesta cidade de Vitória da Conquista – Bahia, filho de uma família presbiteriana. Sua mãe, dona Lúcia Mendes de Andrade Rocha e seu pai Adamastor Bráulio Silva Rocha, era comerciante e engenheiro prático, construtor de estradas inclusive da Rio-Bahia.

O seu nome foi escolhido pela mãe, com uma justa homenagem ao químico, farmacêutico e cientista Johann Rudolf Glauber, que descobriu o sulfato de sódio, que diferenciou a soda da potassa, bem como seus sais, reconheceu as propriedades terapêuticas do sulfato neutro de sódio (sal de Glauber).

Com sete anos de idade e já alfabetizado pelos pais, Glauber entra na escola. Cursa o primário num colégio católico em Vitória da Conquista. Em função dos negócios do pai, a família muda-se para Salvador, onde Glauber passou a sua adolescência. Vindo a matricular-se no Colégio Dois de Julho, quando aos nove anos toma parte de uma peça infantil encenada no colégio, El Hilito de Oro. Esta é a sua primeira encenação, e recebe o papel principal.



Aos treze anos, Glauber participa, na Rádio Sociedade da Bahia, de um programa sobre cinema, chamado “Cinema em Close-up”.

Cursa o clássico no Colégio Central da Bahia e torna-se membro do Círculo de Estudo e Pensamento e Ação (CEPA). É criado o grupo “Jogralesca” com a participação de Glauber. Trata-se de uma reunião de atos teatrais com influência brechtiana, que consistia na recitação de poesias brasileiras.

Glauber colabora no filme Um dia na Rampa curta-metragem de Luiz Paulino dos Santos. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade da Bahia, onde ficou apenas três anos. Abandonou os estudos de direito para dedicar-se ao jornalismo, participou do jornal de esquerda O Momento, colabora nas revistas culturais Mapa e Ângulos e no semanário Sete Dias.

Filma Pátio, utilizando sobras do material de Redenção, de Roberto Pires (primeiro longa-metragem baiano). Viaja ao Rio de Janeiro e entra em contato com Nelson Pereira dos Santos, aonde leva um projeto que já se esboçavam idéias iniciais para um “Cinema Novo“. Nelson estava filmando Rio Zona Norte e convida Glauber a trabalhar com ele.

Quando iniciou carreira de repórter de polícia do Jornal da Bahia, logo começou a publicar artigos de cinema e assume a direção Suplemento Literário. Nessa época também trabalhava para a Prefeitura Municipal de Salvador.

Com a conclusão do seu filme Pátio em 1959, em 30 de junho, casa-se com a colega de universidade e atriz, que se tornaria “musa” do cinema baiano, Helena Ignez. Após o casamento, inicia as filmagens de seu segundo curta-metragem, “Cruz na Praça”.

Adquire uma câmara Aryflex 35 mm, com tripé e seu zoom, seu primeiro aparelho de cinema.

Em 12 de julho de 1960 nasceu sua primeira filha, Paloma de Melo Silva Rocha. Ele trabalha como produtor executivo de A Grande Feira, longa-metragem de Roberto Pires. Também na produção executiva Barravento, de Luiz Paulino dos Santos. Depois de alguns desentendimentos entre Glauber, Luiz Paulino e sua namorada Sônia, também atriz principal do filme, Luiz Paulino se demite. Glauber assume a direção do filme, depois de comprar os direitos de roteiro do antigo diretor.

Glauber e Helena Ignez se separam dois anos depois. Ele conclui Barravento no Rio de Janeiro, com Nelson Pereira dos Santos, o filme recebe o prêmio Ópera Prima no XIII Festival Internacional de Cinema de Karlov Vary Tchecoslováquia. Produz o curta-metragem Imagens da Terra e do Povo de Orlando Sena.

Em 18 de junho de 1963, Glauber inicia as filmagens de Deus e o Diabo na Terra do Sol, concluídas no mês de setembro. Já o filme Barravento é selecionado para o VII Festival de Cinema de Londres e, um mês depois, incluído entre os dez escolhidos para o I Festival de Cinema de Nova York, que inaugurou o Lincoln Center for the Performing Arts.

Deus e o Diabo na Terra do Sol foi um filme muito premiado: Grande Prêmio no I Festival Internacional de Cinema Livre Itália e prêmio de crítica mexicana no Festival Internacional de Acapulco. Maurício do Vale, por sua atuação no filme, como o matador de cangaceiros, Antonio das Mortes, é considerado o melhor ator coadjuvante, pelo jornal O Estado de São Paulo, que lhe atribuiu o troféu Saci. Glauber conquistava definitivamente sua maturidade como cineasta e era aclamado no Brasil e no exterior.

Em novembro de 1965, é preso junto com outros intelectuais que prostestavam contra o regime militar em frente ao Hotel Glória no Rio de Janeiro. Entre os intelectuais estão Antonio Callado, Carlos Heitor Cony e Joaquim Pedro de Andrade.

Glauber não pára e co-produz A Grande Cidade (1965) de Carlos Diegues e dirige o curta Maranhão 66. Preparou Terra em Transe (1967), o filme é muito criticado pelos intelectuais brasileiros e em abril é proibido em todo território nacional, por ser considerado subversivo e irreverente para com a Igreja. Sendo liberado em 03 de março sob algumas condições. O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969) Prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, Prêmio Luis Buñuel (Espanha), Prêmio de Arte, conferido pelos exibidores internacionais no Festival de Cannes e Prêmio de melhor diretor conferido pela crítica européia. Termina a montagem de Cabeças Cortadas (1970). Em Roma filma o longa-metragem Claro (1975), História do Brasil (1975), é exibido em Paris e na Itália, provocando muitas críticas e discussões.

O cineasta retorna ao Brasil e em 27 de outubro de 1976, filma o velório do pintor Di Cavalcanti, sob protesto e indignações dos familiares. Sendo que este curta-metragem ganhou o prêmio especial do juri do XXX Festival de Cannes. O filme A Idade da Terra (1980) é seu último longa-metragem.

Em 06 de agosto de 1981 Glauber está muito doente, é internado num hospital de Lisboa para tratamento pois foi atacado por uma broncopneumonia. Os escritores Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro o assistiram, juntamente com o embaixador brasileiro Dario Castro Alves, optando por sua transferência para o Brasil já com septicemia, ou choque bacteriano, chegou na sexta-feira 21 de agosto e do Aeroporto do Galeão foi levado em ambulância para a Clínica Bambina, no Rio de Janeiro, já clinicamente morto; às 9h 30m de sábado, 22 de agosto estava morto, contribuindo para sua morte embolias pulmonares múltiplas, segundo a declaração de óbito. Glauber Rocha foi enterrado com poncho, a bandeira brasileira e a bandeira vermelha agitada por Ana Maria Magalhães em “A Idade da Terra”. No caixão uma foto de Che Guevara e uma fita do Senhor do Bonfim no pulso.

Sua morte foi sentida em todo o País. Seu velório foi realizado no Parque Lage, na presença de intelectuais de todas as áreas da cultura brasileira, e principalmente por cineastas, atores e amigos dele desde a aventura do “Cinema Novo”.

Portanto, pelo seu dia, pois se vivo fosse estaria completando 70 anos, o nosso respeito, nossa admiração, pois relembrando Glauber “Arte só existe quando não há repressão”.

*Benjamin Nunes Pereira é licenciado em História com Pós-graduação em Antropologia com Ênfase na Cultura Afro-brasileira - Uesb, Pós-graduação em Programção e Orçamento Público, Ufba, membro da Academia Conquistense de Letras e Casa da Cultura em Vitória da Conquista Bahia e Dirigente Sindical dos Bancários.

E-mail: bnp@bancarios.com.br


Nenhum comentário: