segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Água suspeita em Caetité

Água prometida pela prefeitura ainda não chegou à comunidade onde há suspeita de poço contaminado com urânio

MAIZA DE ANDRADE
ENVIADA ESPECIAL A CAETITÉ
mandrade@grupoatarde.com.br

Os moradores da comunidade de Juazeiro, povoado da zona rural de Caetité (a 715 km de Salvador), continuam consumindo a água do poço que, segundo análises feitas pelo Greenpeace, está contaminada com urânio. Os carrospipa prometidos pela prefeitura local não apareceram neste fim de semana.


A assessoria de comunicação da prefeitura informou que o serviço seria prestado desde o último sábado. Hoje, técnicos do Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá), órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), devem chegar a Caetité para coletar amostras de água dos poços.

Outra providência já anunciada foi a criação de uma comissão para investigar o caso.

A água do poço é usada por mais de 40 famílias da vila Juazeiro, que a pegam em um chafariz ao lado da igreja. Na tarde de sábado, o agricultor Márcio Neves Santos, da Fazenda Pau Ferro, regava o seu plantio de feijão com a água do poço que foi aberto na propriedade da família e que serve à comunidade.

CONFUSÃO – Ele conta que a água é regularmente coletada para análise pelo “pessoal da INB (Indústrias Nucleares Brasileiras)”, mas que ninguém fica sabendo do resultado. “Eles entram, pegam a água, vão embora e não dizem nada para nós”, completou.

O resultado das análises feitas na água do poço da Fazenda Pau Ferro, em um laboratório do Reino Unido, a pedido do Greenpeace, ONG internacional que atua contra a energia nuclear, acusa contaminação. De acordo com a ONG, a água tem 0,110 miligramas de urânio por litro, enquanto o valor estabelecido pela Organização Mundial de Saúde é de 0,015 mg/l.

Já a INB, que explora a mina de urânio do município, localizada a cerca de oito quilômetros da vila, contesta o resultado das análises feitas pelo Greenpeace. Em comunicado impresso, que foi lido e transmitido em carros de som e na rádio local, a empresa classificou como “alarmista” o relatório que a ONG divulgou na última quinta-feira.

De acordo com a nota, a INB realiza aproximadamente 16 mil análises ambientais por ano e, “ao longo de oito anos de operação, montou um banco de dados que lhe permite assegurar que opera dentro dos limites estabelecidos pelos órgãos de licenciamento”.

Na nota, a empresa admite a possibilidade de o urânio contaminar a água em poços que forem abertos em locais com “corpos uraníferos”.

“Uns falam que está contaminada, outros dizem que não, e a gente não entende nada”, resume o morador da vila Juazeiro, Carlos Alberto Batista Trindade.

Laudiniz Alves Pereira, 65 anos, também está intrigado e diz que não entende como pode se dar a contaminação.

Diante do poço, cavado em mutirão pela comunidade, ele diz que somente as autoridades podem esclarecer o caso. “As autoridades tinham de ter mais atenção. Se o o minério taí (na natureza), e é perigoso... É falta de boa vontade com o peão”, disse Pereira. Sob o sol de meio-dia, em pleno semiaacute;rido, a aposentada Carmelita Maria de Jesus ficou sem jeito ao ter que negar um copo de água para uma visita.

“Estou sem água para beber”, disse ela a Sebastião José de Araújo, 60 anos.

Sua casa fica na comunidade de Riacho da Vaca, a 15 km de Maniaçu, distrito de Caetité. A água prometida pela prefeitura também não chegou por ali. Carmelita, de 69 anos, contou que até a eleição estava recebendo água potável. “Mas, depois das política, acabou”, disse ela.

A água para “a labuta”, ou seja, para lavar louça e roupas e para o banho, é fornecida “pela urânia”, diz ela, referindo-se à INB, que explora a mina de urânio na região.

A água chega canalizada de um poço, mas é “pesada” e não serve para beber. Carmelita fazia questão de enfatizar que “abaixo de Deus, é a urânia, aqui para nós”. Ontem, um caminhão-pipa da empresa foi o único visto na região abastecendo algumas casas da comunidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

O minério é de grande valor.O povo daquela região, continua pobre e além disso sofre os efeitos sobre sua saúde da contaminação das águas e alimentos!.Sem contar, nos problemas provocados pela RADIAÇÃO - essa de longo alcance!!!!.Eng. Waldemar Pereira.