quinta-feira, 28 de agosto de 2008

REFLEXÕES INQUIETANTES

Por Hélio da Silva Gusmão Filho
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No período de 6 a 14 de Agosto do corrente, na Arquidiocese de Vitória da Conquista-Ba, foi celebrado o novenário da Festa de Nossa Senhora das Vitórias, culminando com o dia festivo, feriado municipal, em 15 de Agosto. Essa festa além de ter passado a ser o marco do calendário religioso, deixando de ser somente uma festa da cidade de Vitória da Conquista, da Arquidiocese de Vitória da Conquista (cuja abrangência chega a mais de 30 municípios, com diversos povoados e distritos), esse ano teve um fator preponderante que foi a comemoração do Jubileu dos 50 anos da História da Diocese de Vitória da Conquista – passando a ser Arquidiocese, por Bula Papal de João Paulo II, desde 2001 -.

Como não podia deixar de ser, a Festa em Louvor a Nossa Senhora das Vitórias foi apoteótica, sendo que desde o seu inicio, até o dia Festivo, celebrado no Ginásio de Esportes de Vitória da Conquista, foi marcado por um numero imenso de pessoas, ultrapassando, talvez, todas as outras festas já realizadas anteriormente. E para culminar com a celebração do Jubileu de Ouro, nesse ano todas as celebrações litúrgicas teve como presidentes bispos de diversas cidades, não só da Bahia – notadamente os que compõem a circunferência da Arquidiocese -, como de outros rincões do Brasil, tais como: o de São Mateus/ES – primeiro Bispo “enviado” da Arquidiocese de Vitória da Conquista, o qual foi o presidente mor do Dia Festivo -, o de Almenara/MG, o de Mariana/MG, atual Presidente da CNBB e ex-primeiro Arcebispo da Arquidiocese de Vitória da Conquista, Dom Geraldo Lyrio Rocha, dentre outros. E sendo assim, com tantas visitas
ilustres, destacadamente autoridades da Igreja, a Festa não poderia deixar de ter o sucesso que teve, principalmente devido ao zelo e dedicação da Comissão de Festa desse ano, a qual contribuiu em muito para essa comemoração. Graças a Deus!
Mas aqui, gostaria novamente – e ai é que passo, como muitas vezes anteriormente, a ser tachado de inconveniente por muitos e muitas – de primar por algumas reflexões que acredito que não possam ser deixadas de lado (embora saiba muito bem que muitos, principalmente hierarcas, “autoridades”..., as escamoteiam), a partir da imagem que a Festa de Nossa Senhora trouxe a tona, principalmente sobre o Ver a Igreja hoje em dia.
Os Bispos que vieram presidir as celebrações, em sua imensa maioria, destacaram o papel que eles tem hoje perante a Igreja, serem meros transmissores dos “ideais romanos”, ou seja: transmitem a realidade da Igreja Autoridade, deixando de lado o Igreja Povo. E assim caminha a humanidade....
As celebrações litúrgicas hoje em dia, manifestadas através dos consagrados diante do Altar, sempre exaltam, principalmente pelas homilias, a opção preferencial da Igreja: os pobres e os jovens, dentre outras.... Mas essa exaltação, inda mais em celebrações presididas por Bispos, acaba somente ficando “no pensar”, e esse pensar configura somente o “poder eclesial”(?) das autoridades hierarcas, as quais não difere em muito do poder das autoridades temporais, ou seja: ao povo, principalmente os pobres, cabe somente dar sustentação ao gancho do se alçar ao poder e alcançado esse poder, os parias tem que serem distanciados e ficarem distantes. Tô errado???????????
Nas noites do Novenário da Festa de Nossa Senhora das Vitórias, em Conquista – mas que, em tese, não difere das celebrações litúrgicas, católicas, pelo mundo afora, notadamente quando se tem presidindo altas autoridades eclesiais -, os pobres, devido a pomposidade das celebrações, não puderam (como sempre em celebrações de anos anteriores) destacar suas “ínfimas” presenças, somente em raríssimos momentos quando necessitavam enfocar “suas presenças” pela programação da Festa. Os jovens, os quais antigamente eram grande destaque, tanto em presença como liturgicamente, das celebrações desse novenário e hoje, notadamente, a sua ausência, pelas autoridades eclesiais, não foi sentida nem por não serem destacados em nenhuma noite do novenário, como, também, pelo pouco comparecimento deles nas noites do Novenário, como, também, no dia da Festa. Será que não faz nenhuma diferença, hoje para a Igreja essa ausência??????? Destacadamente parece que, verdadeiramente, não, pois se nas celebrações litúrgicas, marcadamente pelo afã carismático, o volume de pessoas, adultas, sempre é imenso, principalmente por causas das soluções emergências que a Igreja hoje “lhes ofertam”. Já os jovens, sentindo que a Igreja hoje não mais consegue falar-lhes diretamente, sem convencê-los de que a realidade temporal lhes é mais aprazível, acaba se afastando e muito da Igreja, isso, notadamente, podemos ver a partir do decréscimo das vocações sacerdotais/religiosas. Lamentável essa constatação, inda mais quando reavivamos nossa memória, pela Igreja particular de Conquista, que no mês de maio p.p. ocorreu por aqui a Jornada da Confiança – organizada pela Comunidade de Taize -, voltada para a dinamização dos jovens na e para a Igreja, onde se colocaram presentes quase dois mil jovens (sendo o número de representantes da Arquidiocese, sede do evento, de Conquista menos de 5% desse universo...) de todo recanto do Brasil e de algumas além fronteiras do Brasil.....
O que quero trazer presente com essas indagações acima? Meros ecos de gritos que acredito que não devam ser calados no seio da Igreja, enquanto pensamos o cerne do ser de ou em Jesus Cristo
A igreja não pode ficar inerte para os clamores, os reais e não somente os subjetivos, do “seu povo”.
Nos tempos atuais creio que, para sermos de Cristo, não podemos somente ficar aquém das nossas misionariedades, esperando demarcarmos o determinismo que nos vem “do alto”, mas sim sermos capazes de extrapolarmos as nossas limitações e seguirmos adiante como discípulos do Senhor, sinais de transformação no e para o mundo.
Acredito ser mais do que urgente entendermos se de fato Roma tem nos trazido o real anuncio do Reino ou deseja simplesmente que queiramos somente sermos “os donos da Fé”, inculcadores da verdadeira(?????...) Igreja de Cristo? Por esse prisma, parece que a Fé ficará sempre nos devaneios e não como meta a ser atingida para a real construção do Reino de Deus, conforme nos ensina o próprio Cristo.
A Igreja no Brasil precisa ser capaz de abrir para os novos tempos e esses novos tempos nada mais é do que saber entender o que o Povo de Deus. Um dos desejos, com certeza (principalmente para quem convive no meio desse Povo)é que a Igreja seja mais democrática e que traga para “seu povo” – e assim trazendo, com certeza esse “seu povo” passarão mais maduro e fielmente a transmitir essa Boa Nova -, abertura para discernir sobre o viver a vida em Cristo, por Cristo e com Cristo e não criar mecanismos deterministas para impor o que ela julga como “razões de Fé”. Nesse aspecto, não podemos deixar de destacar “o impeacheament” que a Igreja aplicou ao Livro de Dom Isnard, e que, graças a Deus, esse livro foi publicado por uma editara avulsa, mesmo que tenha sido impedido de ser editado pelas “oficiais”, e que ao chegar em nossas mãos, nos deu um alento ao sabermos que ainda existem Pastores que enxergam os reclamos do seu povo, o que não ocorrem com, 90%, dos Bispos atuais, já que os mesmos assumem muito mais o ser de Roma do que Ser Serviço ao Povo de Deus, assim como o foi: dom Helder, dom Luciano Almeida (que amanhã fará dois anos da sua ida à casa do Pai). Dom Ivo, dom Aloisio, dentre outros que já partiram, tais como: dom Pedro Casaldaliga, dom Paulo Arns, dom “Pelé”, que mesmo “encostados”, continuam a ser referências para o verdadeiro Serviço do Reino... Mas Deus nunca abandona o seu povo e sempre demonstra que a Sua Presença ainda se faz latente, mesmo com as barreiras que se apresentam, no seio do Igreja. Louvado Seja!
No dia 28 de setembro (coincidentemente, desculpem o ufanismo, data do meu aniversário) vindouro, estaremos aqui na Arquidiocese de Vitória da Conquista, celebrando a chegada do nosso Novo Arcebispo (alguns, principalmente nas celebrações litúrgicas e nas reuniões, usam o termo Arcebispo eleito, mas eu, desculpem a franqueza, não concordo muito com o termo, devido a própria peculiaridade da nomeação vigente para os (arce)Bispos, ditadas por Roma, as quais diferem, democraticamente, de pleitos eletivos). Com certeza essa será uma data festiva e histórica. Contaremos com a presença de diversos Bispos, Arcebispos, Cardeais, Padres, Religiosos, Religiosas (quiçá, até mesmo com a presença do Núncio(????) Apostólico, assim como ele esteve – destacando que não se viu nenhum contato dele com o povo de Deus, até mesmo, com alguns dos padres, religiosos, religiosas, da nova Arquidiocese - na posse do primeiro Arcebispo...), autoridades civis e militares e, por fim, com o Povo de Deus. Queira Deus que assim como essa festividade, a qual, com certeza, naquele dia estará repleta de felicidades, de bênçãos, venha a ser sinal de uma Igreja não mais somente peregrina, mas latente presença e sinal de Deus entre nós e no mundo. Amém!
Que dom Luiz Gonzaga Pepeu (dom Pepeu e atual bispo de Afogados da Ingazeira/Se), nosso novo Arcebispo, venha como sinal de Serviço, doação, e Pastor para suas ovelhas, as quais o esperam confiante e orantes. E que acima de tudo traga para nós sinal de uma Igreja renovada e com perspectivas de transformação. Que Maria seja sua Guia. Assim Seja!
Desculpem a franqueza, mas não consigo ficar somente para mim com essas indagações e por, assim ser, é que as exponho para todos e todas. Sem levar-me a mal, se possível, ajudem na dinâmica dessas reflexões, mesmo que seja para criticar-me.
Atenciosamente agradecido, deixo para todos e todas um abraço.
Fraternalmente,

HELIO DA SILVA GUSMÃO FILHO
Membro da Arquidiocese
Vitória da Conquista-Bahia


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