JUSCELINO SOUZA, A TARDE
celinosouza@grupoatarde.com.br
A incidência de uma espécie conhecida como capim-moirão ou “capeta” – praga que já atingiu até 80% de ocupação em algumas áreas de pastagens – está tirando o sono dos pecuaristas na microrregião de Itapetinga, a 590 km de Salvador.
“O índice de infestação da praga é de até 50%, chegando, em alguns casos, a 80%, devido à rápida propagação e à falta de controle em boa parte das fazendas”, explica o pesquisador Carlos Alberto de Miranda Peixoto, professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), campus de Itapetinga.
Seja em pequena, média ou larga escala, não existe uma só propriedade que esteja livre da infestante, que vem comprometendo as pastagens e interferindo no sistema de produção e pecuária da maior bacia leiteira do Norte e Nordeste.
PREOCUPAÇÃO – Além de Itapetinga, o capim invasor já foi detectado em propriedades dos municípios de Itabuna, Itapé, Itaju do Colônia, Santa Cruz da Vitória e Buerarema. Os pecuaristas da região, também prejudicados, formaram um grupo, liderado por Renato Monteiro e Antonio Seixas, e recorreram aos pesquisadores da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
A recuperação de pastagens atingidas pela praga pode custar até dez vezes mais em relação aos cuidados com o solo para se evitar a infestante. Em média nacional, para formação de um pasto por hectare, gasta-se o equivalente a 20 arrobas a R$ 63.
Este é o pior quadro desde que a infestante foi registrada oficialmente na região sudoeste. Significa dizer que a praga está presente desde o começo do Planalto de Conquista até propriedades do sul do Estado.
Além do acelerado processo de degradação, em função da queda de fertilidade do solo, a invasão compromete a produção de leite e a qualidade da carne dos animais que se utilizam dessas áreas de pasto.
DEGRADAÇÃO – A praga pode ter chegado à região há dez anos, favorecida pelo processo acelerado de degradação das áreas de pastagens. A baixa fertilidade do solo também facilita a expansão da praga.
“Somos responsáveis pela falta de assistência técnica mais fechada, acompanhando mais o produtor, que, por sua vez, deveria acreditar mais em nossa comunidade técnica e nos procurar”, avalia o pesquisador Carlos Alberto Peixoto.
Ao longo dos anos, explica, acreditava-se que se tratava do capim-annoni (Eragrostis plana).
“Essa invasora tem trazido sérios transtornos às pastagens do Rio Grande do Sul há cerca de 20 anos”, frisa o pesquisador.
O andamento das pesquisas, com coleta e envio de amostras para o centro de pesquisa do trópico semiaacute;rido da Embrapa e Embrapa Sul, mostrou outros rumos.
A equipe da Embrapa chegou à conclusão de se tratar da espécie denominada vulgarmente de capim-moirão, do gênero Sporobolus indicus.
AGRESSIVA – Os problemas não são menores para a pecuária baiana, pois os pesquisadores garantem que o capim-moirão é outra espécie infestante de grande risco para o pasto e o gado.
“Cabe ressaltar que o comportamento vegetativo muito se assemelha ao annoni, possuindo a mesma agressividade quando estabelecida, com período de floração prolongado durante o ano, o que lhe assegura uma grande disseminação de semente”, detalha o pesquisador Carlos Alberto Peixoto.
Meta agora é buscar soluções
Apesar do grau de dificuldade, o pesquisador procura tranqüilizar quanto aos riscos de disseminação da infestante. “Diante desse quadro, temos sim a preocupação de se tentar amenizar, buscando alternativas de controle, visando equilibrar novamente as produções das pastagens de nossa região”, afirma o professor Carlos Alberto Peixoto.
“Essas plantas podem estar emitindo, por meio do sistema radicular, substâncias químicas que impedem o surgimento da gramínea ou forrageira de interesse”, afirma.
Dentre os procedimentos que vêm sendo realizados no controle dessas infestantes e com alguns resultados está uma série de visitas a propriedades para verificação in loco do problema. Foi numa dessas visitas a campo, no município de Itambé, que o pesquisador e equipe observaram que as invasoras deixam um banco de sementes nas áreas. “Com isso, a capacidade de reinfestar é muito grande, principalmente em topografias acidentadas”, adianta.
ALTERNATIVA – Uma das práticas sugeridas como paliativo é a utilização da rotação de culturas em áreas menores, objetivando diminuir os bancos de sementes dessas espécies invasoras e até mesmo de outras.
“Outras práticas podem também ser experimentadas, dentre elas, o plantio adensado com Brachiaria brizantha e até mesmo a Brachiaria decumbens, não deixando de levar em conta que essas áreas devem ser submetidas a trabalhos de aração e gradagens”, sugere o pesquisador da Uesb.
“Outro ponto importante a ser considerado é o fato de se associar a essas práticas o uso de herbicidas, uma vez que o simples cultivo das braquiárias, em um primeiro momento, só irá diminuir as infestações.
Reconhecemos que as áreas, hoje ocupadas com pastagens, muitas vezes são extensas e acidentadas, o que propiciam dificuldades no estabelecimento de controle".
O pesquisador Carlos Alberto Peixoto, da Uesb, destaca ainda que existe um consenso por parte da comunidade técnica e de pecuaristas que, sem que haja redimensionamento das áreas de pasto (considerando a topografia e até mesmo a escolha das espécies forrageiras), os resultados podem não ser os esperados. (JS)
celinosouza@grupoatarde.com.br
A incidência de uma espécie conhecida como capim-moirão ou “capeta” – praga que já atingiu até 80% de ocupação em algumas áreas de pastagens – está tirando o sono dos pecuaristas na microrregião de Itapetinga, a 590 km de Salvador.
“O índice de infestação da praga é de até 50%, chegando, em alguns casos, a 80%, devido à rápida propagação e à falta de controle em boa parte das fazendas”, explica o pesquisador Carlos Alberto de Miranda Peixoto, professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), campus de Itapetinga.
Seja em pequena, média ou larga escala, não existe uma só propriedade que esteja livre da infestante, que vem comprometendo as pastagens e interferindo no sistema de produção e pecuária da maior bacia leiteira do Norte e Nordeste.
PREOCUPAÇÃO – Além de Itapetinga, o capim invasor já foi detectado em propriedades dos municípios de Itabuna, Itapé, Itaju do Colônia, Santa Cruz da Vitória e Buerarema. Os pecuaristas da região, também prejudicados, formaram um grupo, liderado por Renato Monteiro e Antonio Seixas, e recorreram aos pesquisadores da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac).
A recuperação de pastagens atingidas pela praga pode custar até dez vezes mais em relação aos cuidados com o solo para se evitar a infestante. Em média nacional, para formação de um pasto por hectare, gasta-se o equivalente a 20 arrobas a R$ 63.
Este é o pior quadro desde que a infestante foi registrada oficialmente na região sudoeste. Significa dizer que a praga está presente desde o começo do Planalto de Conquista até propriedades do sul do Estado.
Além do acelerado processo de degradação, em função da queda de fertilidade do solo, a invasão compromete a produção de leite e a qualidade da carne dos animais que se utilizam dessas áreas de pasto.
DEGRADAÇÃO – A praga pode ter chegado à região há dez anos, favorecida pelo processo acelerado de degradação das áreas de pastagens. A baixa fertilidade do solo também facilita a expansão da praga.
“Somos responsáveis pela falta de assistência técnica mais fechada, acompanhando mais o produtor, que, por sua vez, deveria acreditar mais em nossa comunidade técnica e nos procurar”, avalia o pesquisador Carlos Alberto Peixoto.
Ao longo dos anos, explica, acreditava-se que se tratava do capim-annoni (Eragrostis plana).
“Essa invasora tem trazido sérios transtornos às pastagens do Rio Grande do Sul há cerca de 20 anos”, frisa o pesquisador.
O andamento das pesquisas, com coleta e envio de amostras para o centro de pesquisa do trópico semiaacute;rido da Embrapa e Embrapa Sul, mostrou outros rumos.
A equipe da Embrapa chegou à conclusão de se tratar da espécie denominada vulgarmente de capim-moirão, do gênero Sporobolus indicus.
AGRESSIVA – Os problemas não são menores para a pecuária baiana, pois os pesquisadores garantem que o capim-moirão é outra espécie infestante de grande risco para o pasto e o gado.
“Cabe ressaltar que o comportamento vegetativo muito se assemelha ao annoni, possuindo a mesma agressividade quando estabelecida, com período de floração prolongado durante o ano, o que lhe assegura uma grande disseminação de semente”, detalha o pesquisador Carlos Alberto Peixoto.
Meta agora é buscar soluções
Apesar do grau de dificuldade, o pesquisador procura tranqüilizar quanto aos riscos de disseminação da infestante. “Diante desse quadro, temos sim a preocupação de se tentar amenizar, buscando alternativas de controle, visando equilibrar novamente as produções das pastagens de nossa região”, afirma o professor Carlos Alberto Peixoto.
“Essas plantas podem estar emitindo, por meio do sistema radicular, substâncias químicas que impedem o surgimento da gramínea ou forrageira de interesse”, afirma.
Dentre os procedimentos que vêm sendo realizados no controle dessas infestantes e com alguns resultados está uma série de visitas a propriedades para verificação in loco do problema. Foi numa dessas visitas a campo, no município de Itambé, que o pesquisador e equipe observaram que as invasoras deixam um banco de sementes nas áreas. “Com isso, a capacidade de reinfestar é muito grande, principalmente em topografias acidentadas”, adianta.
ALTERNATIVA – Uma das práticas sugeridas como paliativo é a utilização da rotação de culturas em áreas menores, objetivando diminuir os bancos de sementes dessas espécies invasoras e até mesmo de outras.
“Outras práticas podem também ser experimentadas, dentre elas, o plantio adensado com Brachiaria brizantha e até mesmo a Brachiaria decumbens, não deixando de levar em conta que essas áreas devem ser submetidas a trabalhos de aração e gradagens”, sugere o pesquisador da Uesb.
“Outro ponto importante a ser considerado é o fato de se associar a essas práticas o uso de herbicidas, uma vez que o simples cultivo das braquiárias, em um primeiro momento, só irá diminuir as infestações.
Reconhecemos que as áreas, hoje ocupadas com pastagens, muitas vezes são extensas e acidentadas, o que propiciam dificuldades no estabelecimento de controle".
O pesquisador Carlos Alberto Peixoto, da Uesb, destaca ainda que existe um consenso por parte da comunidade técnica e de pecuaristas que, sem que haja redimensionamento das áreas de pasto (considerando a topografia e até mesmo a escolha das espécies forrageiras), os resultados podem não ser os esperados. (JS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário