segunda-feira, 2 de junho de 2008

Gilberto de Mello Freyre


Quem foi

Se existe hoje o “orgulho de ser baiano”, de viver na maior cidade africana fora da África, ouvir Ilê Ayê e ir saudar Iemanjá no dois de fevereiro, é preciso agradecer a Gilberto Freyre.

Na Brasil de 1900, onde ele nasceu, a idéia era virar as costas ao Sertão e, de frente para a Europa, promover um embranquecimento cultural. Era a época da antropologia física de Nina Rodrigues, que defendia a tese de que o negro e o mestiço estavam fadados à marginalidade.

Freyre, como todo homem letrado daquela época, chegou a acreditar nisso. Sua virada intelectual e humanística se deu nos Estados Unidos. Ele estudou na Universidade de Columbia onde conhece Franz Boas, o grande antropólogo que defendeu a independência dos fenômenos culturais em relação às condições geográficas e aos determinantes biológicos.


O que fez

Dessa convivência, Freyre publicou seu primeiro e mais conhecido livro que é Casa-Grande & Senzala, no ano de 1933. Do microcosmo do engenho, Freyre mostra a gênese do Brasil a partir de miscigenação racial e, mais importante, cultural entre europeus, índios e africanos. Para ele, a escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos. Nascido da relação erótica entre senhores e escravos, o brasileiro não pode prescindir de seu caráter de mestiço, deve orgulhar-se de sua diversidade cultural. Uma idéia que ressoou em quase toda política pública desde então, da ascensão do samba ao posto de ritmo nacional até as recentes ações afirmativas.

O que representou

Em entrevista à revista Veja, em abril de 1970, Freyre defendeu que “o Brasil é a mais avançada democracia racial do mundo”.

Exatamente por isso, os críticos nem sempre foram generosos com ele. Ora sua visão de mestiçagem é pacífica demais para qualquer seguidor do marxismo, que aposte todas suas fichas na luta de classes. Ora suas escolhas pessoas são reprováveis. Em 1964, Freyre apoiou o golpe militar que derrubou João Goulart. São críticas justas e até verdadeiras, mas que nem de longe tiram o brilho de Casa-Grande & Senzala.

Para Darcy Ribeiro, um dos poucos cujos livros poderiam pleitear tal posto, “Gilberto Freyre escreveu, de fato, a obra mais importante da cultura brasileira”. E essa obra chama-se Casa-Grande & Senzala.

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