domingo, 11 de maio de 2008

Entrevista: Jaques Wagner | Governador da Bahia


Era quinta-feira, dia em que o presidente Lula chegaria à Bahia para anunciar obras e recursos para o PAC. Ainda assim, o governador Jaques Wagner encontrou espaço na agenda para participar da entrevista multimídia do Grupo A TARDE. Com bom humor e munido do otimismo gerado pelos investimentos que Lula traria para o Estado, Wagner enfrentou uma bancada de jornalistas que incluiu o secretário de Redação Paulo Oliveira, os editores Adilson Borges, de Política, e Geraldo Bastos, de Economia, os repórteres especiais Biaggio Talento e Flávio Oliveira e o coordenador de Jornalismo de A TARDE FM Carlos Alberto.

A entrevista durou duas horas. O governador anunciou o Acelera Bahia, plano de redução da alíquota do ICMS para setores específicos da economia baiana que será lançado oficialmente no próximo dia 19. Comentou sobre a saúde, reconhecendo que a Bahia já enfrenta uma epidemia de dengue. Falou de política e eleições, admitindo poder concorrer à Presidência da República em 2010. Afirmou que João Henrique não teve êxito na manutenção de unidade de partidos para a sua reeleição e disse não entender uma concretização de acordo DEM-PMDB no segundo turno em Salvador, já que o DEM, ao contrário do PMDB, é adversário do PT nos níveis federal e estadual.

Além dos questionamentos feitos pelos jornalistas, Wagner respondeu a parte das perguntas encaminhadas por leitores por meio do portal A TARDE On Line. Cerca de 600 internautas enviaram questões. A totalidade delas será respondida pela assessoria do governador e publicada no dia 20 no portal. A maior preocupação dos leitores concentra-se na área da Segurança Pública. O governador reconheceu dificuldades para enfrentar este problema, que para ele é mundial. Disse que seu governo tem trabalhado, principalmente em operações de inteligência, e que a polícia sob seu comando age dentro da lei e com respeito aos direitos humanos.

A TARDE Governador, o senhor acha que demorou demais para entrar nessa discussão do PT de escolha do candidato, já que estamos hoje em maio e o PT ainda não tem candidato?


Jaques Wagner Quero começar dizendo algo mais amplo do que a candidatura do PT. A coisa mais difícil numa corporação, seja ela pública ou privada, é a mudança de cultura. E tenho consciência de que a vitória de 2006 iniciou um processo de mudança de cultura política no Estado da Bahia. Enquanto se dizia (no grupo político anterior) que manda quem pode, obedece quem tem juízo, o que acho de uma pobreza lapidar, nós estamos trabalhando com outro conceito. O meu partido, para o bem ou para o mal, tem uma forma de se organizar e de tomar decisões. É um partido sem dono. O presidente da República não é dono. Então eu não imporei a minha vontade ao partido. Eu sou governador de uma coligação que começou com 9 e hoje tem 14 partidos políticos na nossa base. Eu não vou determinar ao partido quem é o candidato. Em junho do ano passado, eu disse que a minha vontade era unir a base política que nos elegeu. Não quero fazer nenhum juízo de valor, mas características particulares do gestor daqui de Salvador, que é quem tinha que construir a unidade em torno dele, não eu, infelizmente não teve êxito (para construir unidade). Portanto, eu que preferia estar com uma única candidatura, que me daria conforto no palanque eleitoral. Vou ter que trabalhar com a hipótese de 2 candidaturas, o que vai me tirar mais ativamente do palanque eleitoral de Salvador.

AT De qualquer forma, governador...

JW Eu expressei lá atrás a minha vontade de que o prefeito João Henrique viesse ao PT. O PT entendeu que não ou o próprio prefeito entendeu que preferia ir para o PMDB. E o PMDB está legitimamente trabalhando para que este prefeito se reeleja. E o PT, o PSB, o PCdoB também. O PT, espero que não pela prévia mas por um entendimento entre os candidatos. Deixei claro para os quatro candidatos que a prévia é um erro. Eu disse a todos eles quem é que acho que tem mais capacidade de aglutinar, não estou dizendo publicamente, mas os quatro sabem. Não se trata de preferências pessoais, tenho um bom relacionamento com todos os quatro, mas do ponto de vista político externei claramente quem, neste momento, pode aglutinar melhor.

AT A maioria das perguntas dos leitores é sobre segurança. Nilton Santos quer saber por que a violência aumentou tanto nos últimos meses e o que será feito para diminuir ou, pelos menos, voltar aos índices anteriores ao seu governo?

JW Primeiro, segurança é uma questão que preocupa desde o presidente até os 27 governadores e não tem uma resposta simples a ser dada. Segundo que nem todos os índices pioraram. Melhoraram, por exemplo, os índices de prisão. Nós temos desbaratado alguns esquemas do narcotráfico. E o narcotráfico na Bahia está conflagrado, porque, com a morte do Píti, há uma disputa para ver quem fica com a herança dessa questão. Mas nós estamos com 200 policiais sendo treinados, estamos comprando viaturas para as polícias Militar e Civil, estamos instalando um sistema de comunicação para interligar os operadores da segurança. Estamos concluindo o presídio de Eunápolis, vamos começar o de Barreiras e mais dois aqui em
Salvador. Quero deixar a minha posição muito clara: as polícias Militar e Civil sob o meu comando vão agir dentro da lei. Portanto, não é para matar. É para prender, investigar e entregar ao Poder Judiciário.

AT Governador, o ataque ao complexo dos Barris é uma ação típica de quadrilhas do Sul do País. Há alguns dias, foi presa uma quadrilha que alugava armamentos pesados. Pelas informações de inteligência da Secretaria da Segurança que o senhor tem, a Bahia já está no cenário do crime organizado, do PCC, Comando Vermelho?

JW Não. Na verdade, há um processo de tentativa de reproduzir o que se vê nos grandes centros. Mas, por enquanto, não diria que há nenhum desses braços que atuam no Sul do País chegando. A prisão da quadrilha que alugava armas só aconteceu por um processo de inteligência. Estamos com várias operações em curso que não posso citar. Não acho que estamos na rota do Rio e São Paulo. O que acho é que as pessoas vão aprendendo com os outros e querem reproduzir aqui.

AT Então, as quadrilhas baianas teriam subido seu poder aquisitivo a ponto de obter esse tipo de armamento? Ou seria gente de fora querendo se instalar aqui?

JW Tem gente de fora expulsa de outros centros. Expulsa não necessariamente pela polícia. Expulsa da disputa interna entre eles que vêm se instalar aqui. Queria ressaltar que somos a sexta economia do País, e a marginalidade busca chegar onde o dinheiro está. Hoje, Salvador e a sociedade baiana são olhadas. Porque aqui há uma classe média alta, há circulação de dinheiro, e junto com o crescimento econômico, infelizmente, chega o crescimento da violência. Eu só queria não tentar simplificar. Recentemente, vi o ex-governador (Paulo Souto) dizer que a segurança havia saído do controle. Creio que deve ter sido, talvez, no tempo dele. Porque em um ano e meio eu não teria a capacidade de destruir o que ele tivesse construído de tão eficiente do ponto de vista da polícia. Eu perguntaria a ele por que ele me entregou o governo
sem nem sequer oferecer as polícias baianas um sistema de comunicação? Esse problema (violência) é dificílimo e não tem solução fácil em lugar nenhum. Estamos fazendo um processo de inclusão social.

AT Qual a sua política para evitar que as quadrilhas baianas cresçam ao mesmo nível das do Sul do País? E também para evitar que as quadrilhas do Sul se instalem aqui?

JW Insisto que esta é uma questão mundial. O tráfico de drogas está espalhado nos Estado Unidos, na Europa e na Colômbia. Não é uma questão que um governador por uma bravata vá resolver. Temos que ser duros, e a minha determinação é que sejamos duros no combate ao tráfico.

AT Governador, a gente fica preocupada em ver que na lista de promoções da Polícia Civil havia até policiais condenados. Depois, num rápido levantamento que A TARDE fez, encontrou mais de 40 policiais desses respondendo a processos judiciais. Isso numa consulta rápida pela internet. Por que esses prêmios, sem uma mínima avaliação?

JW Infelizmente, aí é o problema de estarmos vivendo no império da lei, da democracia. O funcionário público tem estabilidade, há que se abrir processo para exonerá-lo, não posso mandá-lo embora, e o nosso sistema é muito lento. Então, mesmo alguém que seja flagrado cometendo um delito, tenho que abrir um processo administrativo, ele vai ter direito à defesa. Vou citar um caso típico, todo mundo sabe, pelo menos em tese, do envolvimento dos policiais que tinham até papel de destaque no governo anterior, naquele episódio do “grampo”. Você imagina quantos dos meus disseram para botar para fora. Eu não posso botar para fora, porque naquele tempo o inquérito administrativo não foi instalado, essas pessoas não têm culpa formada, então não posso fazer. E isso que você está citando, evidentemente que por mérito, entendo que ninguém que tenha uma mácula possa ser beneficiado. Mas, por exemplo, tenho gente que tem problemas e quando chega nas promoções, por antiguidade, sou obrigado a fazê-lo. Se eu não fizer, o Poder Judiciário, pela lei, vai fazer. Estou fazendo um esforço muito grande. Quero unificar a Corregedoria das polícias vinculada diretamente ao gabinete do secretário da Segurança. Estamos fazendo um trabalho também de busca de identificação das laranjas podres dentro dos mecanismos da Secretaria da Segurança Pública. Quando descobrirmos, vamos botar para fora. Agora, seguindo o curso normal, estou insistindo em dizer isso, tenho uma turma que tenho que promover por antiguidade, aí infelizmente é lei.

AT Para encerrar o assunto, a Segurança Pública é a pior área do governo para ser administrada?

JW Diria que ela é a área mais crítica. É a área que mais preocupa. E preocupa todo mundo. Vou para os encontros dos governadores do Nordeste e todos dizem a mesma coisa.

AT Governador, o presidente Lula está percorrendo o País lançando várias obras do PAC, e isso é entendido, principalmente pela oposição, como propaganda eleitoral fora de época. O que o senhor acha disso?

JW Acho que o limite é muito tênue (legislação eleitoral /ações de governo). Tenho certeza de que o presidente Lula, quando vem fazer esses anúncios, tem como objetivo central passar a imagem positiva de que o País está num bom momento, para os empresários investirem cada vez mais e motivar a sociedade. Agora, se você me perguntar se com isso ele está se divulgando, digo que está. Mas ele não é mais candidato, considero que não há mais nenhuma hipótese de terceiro mandato e se houver não contará com o concurso deste governador, porque sou totalmente contrário a quebra de regras.

AT Se mudarem a Constituição e virar uma coisa legal?

JW Se virar uma coisa legal, não serei contrário à lei. Mas vou trabalhar contra a mudança. Acho um desserviço para a biografia do presidente, um desserviço para a democracia brasileira. E se alguém acha, como a maioria, que o governo do presidente Lula é exitoso, deverá dizer que quer continuar com esse jeito de governar. Provavelmente votará na pessoa indicada por seu grupo político, mas não precisa ser o mesmo cidadão.

AT O senhor se considera no páreo?

JW Evidente que estou na fila. É claro que todo mundo, quando pensa em três, quatro ou cinco nomes do PT. E estou falando isso com zero de arrogância ou de vaidade. Até porque, canso de dizer, que minha vaidade está para lá de preenchida. Cheguei à Bahia fugindo (da ditadura) e hoje sou governador. Agora, se poderemos ter um novo desafio e se vamos querer, evidente que vamos querer. Por exemplo, o desempenho de da ministra Dilma (na sabatina do Congresso sobre o suposto dossiê contra os tucanos) só fez consolidar uma simpatia do presidente pelo nome dela. E serei soldado de primeira hora. Tenho uma profunda admiração por ela.

AT Discute-se muito o fim da guerra fiscal. Qual a sua opinião sobre esse assunto? O leitor Antônio Araújo faz pergunta similar: “Governador, a Bahia parece estar perdendo liderança econômica no Nordeste para Pernambuco. Alguns investimentos passados não trouxeram o retorno esperado, como o complexo de Sauípe, e recentemente algumas grandes empresas deixaram o Estado. Qual a estratégia a ser adotada para atração de novas empresas para a Bahia?”

JW Não estamos perdendo a liderança da economia no Nordeste. Pode ser que estejamos pecando por não estar fazendo tanta propaganda do que está chegando. É preciso, primeiro, localizar a Bahia. É aproximadamente 4,5% do PIB nacional, é o dobro da segunda maior economia do Nordeste, que é a de Pernambuco. A Bahia arrecada de ICMS 60%, quase 70%, acima do que arrecada Pernambuco. Eles arrecadam R$ 300 milhões, nós arrecadamos R$ 500 milhões. A economia baiana é uma das carteiras mais ativas do BNDES. Captamos, só no ano passado, R$ 8,5 bi de protocolos de intenção de instalação (de empreendimentos) aqui. A maior processadora de algodão da América Latina está sendo instalada na Bahia, a Moinho Dias Branco está duplicando seu porto, o Porto de Salvador vai ser licitado para ser duplicado, a Azaléia está dobrando a sua produção aqui na Bahia e nunca tivemos um crescimento tão grande na área mineral. Pode ser que outros estejam fazendo mais propaganda que a gente, e há algumas coisas que estão no forno e não posso falar porque não interessa falar. Mas queria insistir que temos a terceira maior refinaria do País, temos o maior complexo petroquímico integrado da América Latina, uma montadora que exporta muito, um agronegócio altamente crescente, uma celulose que é a maior do País atualmente, do ponto de vista de floresta plantada, e temos um desenvolvimento da área mineral muito grande. A Petrobras está fazendo um investimento de R$ 1 bi na refinaria. No dia 19 estou lançando, provavelmente na Federação das Indústrias, o programa Acelera Bahia.

AT O senhor podia dar detalhes?

JW É um programa fiscal diretamente destinado às indústrias naval e petroquímica. Para a indústria petroquímica, estamos fazendo uma equação. Não adianta atrair e ficar devendo depois. Recebi este Estado com um débito, do Estado e não da Lei Kandir, de R$ 260 milhões de renúncia fiscal ofertada a quem vem se instalar aqui. Estamos fazendo um programa para o biodiesel, para o álcool, para a indústria naval. Para a indústria petroquímica, fizemos agora uma redução de ICMS para a construção de térmicas, para dar competitividade.

AT Mas, com problemas de infra-estrutura, o que fazer para atrair empresas sem usar a guerra fiscal?

JW Repare, não parei de fazer oferta fiscal.

AT Mas nos mesmos valores? São R$ 240 milhões de renúncias, não é?
JW De débito da renúncia fiscal que tinha oferecido e não foi honrado. Eu equacionei. Com o Pólo Petroquímico, estamos chegando numa posição de equilíbrio. No próximo dia 19, vamos anunciar uma redução que vai parar de acumular mais crédito, e aí vamos equacionar o pagamento da dívida para trás. Continuo fazendo oferta de outras vantagens através do (programa) Desenvolve. Agora, se vocês me perguntarem se sou a favor da reforma tributária, digo que sim, mas com preocupações. Porque as minhas contas deram um prejuízo no primeiro ano de R$ 300 milhões para a Bahia. Então, se não houver recompensa para isso, vou me colocar contrário ao programa de reforma tributária, porque não vou querer que o Estado perca. O fim da guerra fiscal tem que ser substituído por um Programa Nacional de Desenvolvimento Regional, que aporte para os Estados menos desenvolvidos.

AT Na semana passada, o senhor assinou convênio com o BNDES para preparar a concessão de algumas rodovias ali na área do Pólo Petroquímico. Lembro-me que alguns setores do PT têm resistência à questão da concessão. Como o senhor pretende resolver esta questão?

JW Minha posição é muito clara a esse respeito. Não tenho qualquer tipo de preconceito contra qualquer tipo de solução para o problema da infra-estrutura baiana. O Estado não tem o dinheiro para fazer toda a infra-estrutura necessária para o Estado da Bahia. Portanto, não tenho nenhum problema com essa questão de pedagiar. É melhor pagar um pouco e ter uma via boa do que pagar com pneu furado ou amortecedor quebrado. O Porto Sul, que estamos pensando, na altura de Ilhéus, é um porto que seguramente será explorado privadamente. As BRs 116 e 224 serão licitadas a partir de junho deste ano. Eu não tenho condições de duplicar a 093 (acesso ao Pólo) nem a Via Parafuso. Como não tenho dinheiro, estou preparando para fazer concessão ou PPP, que não é nenhum bicho-
de-sete-cabeças. Meu partido, em diversos momentos, se colocou contrário a privatizações, mas não tenho preconceitos. A economia vai mudando a cabeça da gente.

AT O Pólo completa 30 anos e é inegável que está passando por sérias dificuldades. O senhor está falando desse pacote, pode-se chamar de pacote de bondade para o Pólo? Eu queria que o senhor adiantasse alguma coisa, o que, de fato, vai ser oferecido para as empresas.

JW Do ponto de vista do ICMS, a gente deve derrubar o ICMS de 17% para algo em torno de 11,75%. São patamares bastante competitivos. Com esse patamar, pararemos de acumular crédito, portanto a conta não cresce mais. E, portanto, se tratará agora de equacionar o pagamento da conta passada. A contrapartida que espero, que já está acontecendo, por exemplo, na Oxiteno, são novos investimentos. O aumento, já que agora a Petrobras é parceira, parceira não, sócia da Braskem, a minha expectativa é de que eles aumentem a sinergia com a refinaria e, portanto, possam dar ganho de produtividade e alavancar mais ainda o Pólo.

AT Governador, em relação à questão da saúde, vemos o avanço da dengue, da leptospirose, o Ministério Público fez questionamentos a contratos deixados pelo governo anterior... o que, efetivamente, está sendo feito para diminuir esse sofrimento que encontramos nos hospitais públicos?

JW Permita-me discordar. Em 2007, a área de saúde cresceu bastante. Quarta-feira, assinei com 155 prefeitos convênios de construção de 400 novos PSFs, que são Postos de Saúde da Família. Todos com a garantia de uma unidade odontológica lá dentro. Só aí é um investimento de R$ 16 milhões. Entregamos 54 ambulâncias novas do Samu e abri uma linha de financiamento em que o Estado banca 90% da aquisição de ambulâncias para municípios. O município paga 10% , financiado pelo Desenbahia. Na abertura do Congresso de Medicina Intensiva, quarta-feira, dizia que nós, no ano passado, dobramos a captação de doadores de órgãos e aumentamos em 60%, na rede pública, os transplantes de órgãos na Bahia. No ano passado, tivemos o dobro de atendimentos na rede pública em relação a 2006. Só queria registrar que quando cheguei ao governo, a saúde pública baiana estava classificada entre as seis piores, e eu tenho convicção de que hoje ela já melhorou a sua performance. Para mim, é motivo de orgulho o representante do Ministério da Saúde dizer, para quem quisesse ouvir, que aquele programa de Postos de Saúde da Família que estávamos fazendo aqui na Bahia era o maior programa de saúde da família feito no Brasil. Então, nós estamos trabalhando, pegamos muita briga no começo exatamente para romper com vícios anteriores, e temos muitos problemas ainda. Mas se há uma área que tenho absoluta segurança de que no final dos quatro anos vamos colher frutos concretos, é essa área de saúde.

AT Com as medidas tomadas pelo senhor, teremos a garantia de que não teremos uma epidemia de dengue igual à do Rio de
Janeiro?

JW Epidemia, a gente já tem. O que aconteceu no Rio de Janeiro é que, por um abandono total da atenção chamada básica, essa coisa se agravou muito. Mas eu não sou do tipo de esconder números. Até o dia 18 de abril, quando lancei a campanha contra a dengue, nós já tínhamos o registro de 18 mil casos, que é muito maior do que o registro de 2007. Então, existe um processo epidêmico instalado no Brasil. Sergipe, hoje, está sofrendo mais do que a gente, o Ceará também. Por quê? Porque não tem vacina nem remédio contra a dengue. Nós lançamos a campanha, em todo lugar em que vou tenho insistido nisso com os prefeitos. Porque a vacina contra a dengue é a atitude de cada um, é cuidar de não deixar empoçar água na sua casa. Estamos com um risco maior porque estamos com uma dengue tipo 3 e 4, que são vírus mais recentes e mais perigosos.

AT Muitos leitores e internautas de A TARDE repetiram alguns temas, por isso não vou citar nenhuma pergunta específica, mas sim o tema, no caso, a cobrança de pronunciamentos que o senhor fez. Os leitores cobram a mudança do nome do aeroporto e também em relação às suas prioridades, uma delas a saúde, mas que gasta recursos com a reconstrução do Estádio de Pituaçu.

JW Sobre o aeroporto, vou repetir o que sempre disse. Sou parte do problema, porque, na morte do Luís Eduardo, eu era deputado federal e, portanto, poderia ter me insurgido contra a proposta, apesar de não ter havido uma votação. Acho que foi um erro. O Dois de Julho, para mim, é a verdadeira independência do Brasil. Agora, é claro que, na comoção da morte, seguramente prematura de um jovem político exitoso, as pessoas ficaram embaladas naquilo e pareceria mesquinho, na época, falar contra. Batizei o complexo de viadutos de acesso ao aeroporto de Dois de Julho. A lei (que muda o nome do aeroporto) tem que ser federal. Pessoalmente, acho até que a própria família de Luís Eduardo, entendendo isso, poderia, ela própria, tomar a iniciativa e dizer que a homenagem foi válida naquele momento, mas hoje ela significa um constrangimento para a história política baiana. Sobre o Estádio de Pituaçu, a prioridade continua sendo saúde, educação e infra-estrutura, mas todo mundo reconhece que o lazer é um dos aspectos importantes da saúde. Nós vivemos um drama, que foi o episódio da Fonte Nova. Temos um time, o Bahia, que não tem um mando de campo, vai entrar no campeonato brasileiro e precisamos de uma praça de esporte que possa acolher o nosso pessoal. Então, nós tínhamos um campo degradado, que era o de Pituaçu, cujo nome verdadeiro é Roberto Santos. Nós estamos investindo R$ 28, 30 milhões e vamos entregar um belo equipamento esportivo para a sociedade. Eu acho que isso não colide com a prioridade em segurança e educação. Estou trabalhando muito para que a gente consiga fazer um estádio novo, que possa abrigar a Copa do Mundo de 2014. Não mudei
minhas prioridades, mas não sou exclusivista.

AT Governador, voltando às eleições municipais, informações dão conta que o PT e o PMDB vão disputar prefeituras em vários municípios. Como o senhor vê essa situação? Isso não pode arranhar essa aliança tão bem-sucedida aqui na Bahia?

JW Eu trabalho para que não arranhe. Todo mundo me conhece, meu estilo é mais conciliador. Não tinha dúvida de que em alguns lugares, íamos ter esse confronto, mas tenho recomendado tanto ao PT quanto ao PMDB que a gente deveria se respeitar. Eu sou do PT, sou fundador do partido e, portanto, essa camisa não tiro, mas, sobre essa estou vestido com a camisa de governador e tenho que tratar todos os partidos da coligação com eqüidade. Por isso, não sou o condutor político do PT como o presidente Lula não é o condutor político do PT. Esse é o estilo do governador, se alguém quiser tensionar a relação PT/PMDB, em minha opinião, está trabalhando ao contrário do que a boa política recomenda. Eu sou governador, o ministro Geddel é ministro, o vice-governador é do PMDB, então, eu não estou disputando. Na verdade, acabei de ganhar uma eleição. As pessoas já estão fazendo contas de 2010. Sinceramente, estou muito pouco preocupado com 2010.

AT No caso de Salvador, o senhor vai fazer campanha para João Henrique ou para o PT?

JW Respondo para você que, sendo lançada a candidatura do PT, a única coisa que vai acontecer é que o governador terá que ficar eqüidistante. Eu nunca neguei, João Henrique é um dos candidatos da minha base, queria eu que ele fosse o único. Não dá para confundir o eleitorado. Darei declarações que ambos são meus candidatos preferenciais, porque são os candidatos ligados diretamente à minha base.

AT Governador, o senhor diz que o candidato de oposição é ACM Neto, que é do DEM. Agora, há um movimento que é a aproximação do ministro Geddel com ACM Neto. Inclusive, fala-se num apoio mútuo no segundo turno. Isso se concretizando, o PMDB não estaria afrontando o PT e essa unidade?

JW Eu penso como você, mas essa pergunta seria melhor endereçada ao ministro Geddel. Eu realmente não consigo entender esse raciocínio. Em hipótese nenhuma abraço esse raciocínio, até porque ele estaria dizendo que apóia o opositor não só a mim, mas o opositor ferrenho ao presidente da República, que o fez ministro.

AT Governador, só para esclarecer. O senhor acha que a aliança PMDB-DEM seria uma afronta ao presidente ou ao senhor? Lembremos que os dois partidos estão unidos em muitos municípios.

JW Repare, eu não gosto de dar conselho a quem sabe fazer política. Acho que o PMDB da Bahia é que vai ter que escolher. Evidentemente (é uma afronta) se você diz que (ele, PMDB) abraça um opositor claro do seu governo estadual. Afinal de contas, o vice-governador é do PMDB e o DEM ataca o governo estadual. Então, de certa forma seria dizer: olha, estou contra, estou apoiando quem faz campanha contra.

AT Governador, o senhor tem algum presente para as mães baianas e para os filhos delas? Tem alguma coisa para ser anunciada como novidade?

JW Tem uma novidade que considero muito boa, que é a vinda do presidente. Para mim é um presente. E um presente que dei ontem (7/5) foi a sanção do projeto de lei de Habitação de Interesse Social no estado da Bahia. Estamos completando, agora em maio, 48 mil unidades, ou entregues ou em construção, daquelas casas que são dadas, já que são sem custo nenhum para as famílias. E eu creio que, para uma mãe, não tem nada mais importante. Agora, sou devedor de muitos outros presentes que as mães baianas mereceriam, na áreas de saúde, educação, emprego. Só queria dizer que me passaram aqui que o total dos investimentos do governo federal, especificamente na Bahia, entre saneamento, habitação, a questão do cacau e da infra-estrutura, e é da ordem de R$ 16,8 bilhões até 2010.

AT Governador, agradecemos a sua presença.

JW Eu que agradeço a vocês essa oportunidade.


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