terça-feira, 11 de março de 2008

Acadêmia do Papo

Paulo Pires (*)
Quem sou eu?


Contrariando o grande filósofo húngaro Gyorg Lucáks que, de forma concisa disse que “o homem é o ser que responde”, evito responder a algumas pessoas, em certas ocasiões, para evitar polêmica. Sou uma pessoa cordata. Quando um cidadão me mostra uma pedra e diz “este pedaço de pau” é de grande serventia, não discuto se a coisa é pau ou pedra. Prá mim tanto faz. O meu amigo leitor há de me censurar: Então estamos diante de um sujeito com absoluta falta de personalidade. Por um lado diria que sim. Do outro, diria que não. O que gosto mesmo é evitar discussões infrutíferas.


Aqui em Conquista, um sujeito matou o melhor amigo por causa de uma discussão sobre o resultado de um jogo de futebol. Ridículo. Eu não tô nem aí. Mas, vou fazer uma exceção hoje, para responder a um leitor do blog que se identificou como anônimo dizendo que eu e o amigo Francisco não passamos de dois Zé Ninguém. Particularmente, achei o maior barato. Como é que ele chegou a uma conclusão tão lúcida?

O sonho de toda pessoa famosa é tornar-se anônima. Se eu já sou um anônimo, por que gostaria de ser famoso? Não sou famoso, nem gostaria de sê-lo. A fama me atrapalharia muito. Imagine eu famoso, tomando umas biritas no Bar Cai Um, do meu amigo Josa, e chegar aquele batalhão de repórteres querendo uma entrevista. Ia ser bobagem por cima de bobagem. Já disse em outra ocasião que adoro falar bobagens. Nada prá mim é tão prazeroso quanto falar asneira. Paul Valéry, um dos maiores poetas de todos os tempos, dizia ter pavor de homens que se dizem sérios. Eu também. Desconfio de pessoas que se autoproclamam sérias. Elas me provocam pequenos desconfortos. Lembram-me Hitler, Mussolini e outras figuras sérias. Verdadeiros prepostos do capeta.

Adoro pilherear, mas, por favor, não me perguntem se eu agüento pilhéria (ah, ah, ah). O mundo das crianças é bonito porque é repleto de brincadeiras. Por isso, aviso aos meus críticos, especialmente ao meu crítico anônimo: Pode ficar tranqüilo e me criticar tantas vezes quiser. Eu não me incomodo! Acho até que mereço! Falo muita besteira. Reconheço.

Sou uma das poucas pessoas no mundo que não se aborrece com sacanagens individuais. Aos meus detratores, mando um recado: Podem me pichar à vontade. Aprendi a me comportar como o grande Guimarães Rosa: Deixei de ser eu mesmo, para me tornar uma terceira pessoa. Quando quero falar de mim, o faço como se não fosse eu. Eu não existo. Deixei de existir em vida. Adeus mundo ingrato. Adeus cambada de bandidos! Adeus ladrões. Adeus pilantras. Jamais nos encontraremos. Eu, com certeza, irei para o céu. Quanto aos calhordas que passaram pelo mundo fazendo coisa errada, também tenho certeza, irão para o inferno. Como estarei longe deles, pedirei aos anjos para deixá-los lá, queimando no fogo eterno de satanás. Lá eles vão ver o que é bom prá tosse...

Mas, e eu? Sinceramente, não sei mais quem sou. Esqueci de mim, desde o dia que um bando de camaradas vestidos de branco enfiou uma anestesia em mim, me deixando três dias fora de órbita. Tomei a tal anestesia na quinta feira, 4 da tarde e só voltei ao mundo no domingo por volta do mesmo horário. Pode uma coisa dessas? Por onde andei, não sei. Sei que subi e desci mais de mil e oitocentas colinas. Escapei fedendo, mas escapei. A partir daquele dia, zerei tudo e comecei a delirar. Hoje fico pensando: Quem sou eu? O que estou fazendo aqui? Será que eu existo? Antes de morrer, Jorge Luis Borges, outro grande poeta, disse aos repórteres que procurassem saber se ele era ou não o original. É que em Buenos Aires apareceu um sósia dele, dizendo ser o autêntico Borges. Ele adorou a brincadeira. E insistiu com os repórteres que devessem investigar. Talvez o outro fosse o verdadeiro e não ele. Estou mais ou menos assim. Não sei mais se sou eu, ou se alguém tomou o meu lugar. Mas admito que o infeliz que fêz isto deve estar frustrado. Bem feito. Quem mandou querer ser um cara que não passa de um Zé Ninguém. Um abraço cordial e até a próxima.

Paulo Pires
(*) Professor UESB-FAINOR.


3 comentários:

Anônimo disse...

Amigo Paulo Pires, agora são 23;45 acabei de chegar do meu curso da OAB, como é "praxis" minha, recorro ao blog do Anderson para melhor me informar; eis que, ví a sua crônica "Quem sou eu?". Amigo, bacharel em direito nessa relação de amizade entre nós, sou eu, e, ainda neste ano pegarei o meu registro na OAB. Mas, vc me surpreendeu, não sendo operador do direito, saiu-se um verdadeiro advogado (poderá haver mais algum crítico que provavelmente me contrariará, dizendo ser o senhor um Rábula), fez uma defesa prévia incontestável digna de aplausos em uma audiência (Silêncio senhores!).
É evidente, Paulo! Que os comentários são salutares à nossa inspiração, mesmo, os paupérrimos e desprovidos de qualquer qualidade são, como disse, o nosso combustível!
Bravo, professor Paulo Pires!

Francisco - Curitiba-PR

Anônimo disse...

O professor Paulo, faz-me lembrar do professor Carlos Guimarães - Em suas explanaçoes sobre diversos assuntos, um pequeno espaço de tempo ele sintetizava com maestria, um determinado assunto. A atenção de todos ficava totalmente voltada para para a sua palestra.

EZEQUIEL disse...

Caros amigos Paulo Pires e Francisco Silva, claro que, muitas vezes, a inveja se torna a espada magistral do inimigo. Mas ele sabe que o tempo cicatriza todas as feridas. A única coisa que o tempo não consegue curar é o ÓDIO.Se não me falha a memória, tem uns dizeres do escritor Paulo Coelho que é mais ou menos assim: O ÓDIO é um Mestre das Trevas, e jamais anda sozinho; adora a companhia de sua noiva - a vingança, e da sua prima à INVEJA. Quando essa turminha se senta à mesa e começam a planejar o mundo está perdido. Porque começam a agir em nome do ódio, da INVEJA e da vingança, e se esquecem a verdadeira razão da vida que é o AMOR.
Paulo e Chico, Anônimo.... é anônimo, ....nada mais do que isso! Enquanto ao “Zé ninguém” este é órfão do Anônimo.
Suas crônicas e artigos são maravilhosos! Eu bem sei que são cuidadosamente produzidos e sustentados dentro do mais profundo zelo e AMOR!